Era 01h25 de 14 de agosto de 2005, quando o Boeing 737-31S da pequena companhia aérea Helios Airways chegou no Aeroporto Internacional de Larnaca, no Chipre, para seu voo programado para sair às 9h para o Aeroporto Internacional de Atenas, antes de seu destino no Aeroporto Internacional Ruzyne de Praga.
Boeing 737 da Helios Airways que caiu na Grécia em 2005.
Foram 115 passageiros, entre cipriotas e gregos, e 6 tripulantes que embarcaram na aeronave; sendo estes 93 adultos e 22 crianças, dos quais 67 desceriam em Atenas e o restante seguiria até Praga.
Para o capitão Hans-Jürgen Merten, um alemão de 58 anos com mais de 16 mil horas de voo, era mais uma viagem de rotina, nada muito diferente do que estava acostumado.
Mas não foi isso o que aconteceu.
Ao lado do primeiro oficial Pampos Charalambous, de 51 anos e com 7.549 horas de voo em sua carreira, Merten decolou às 9h do aeroporto, e quando atingiu 12 mil pés de altura, o alerta de altitude da cabine soou, informando aos pilotos que o avião não estava devidamente pressurizado. Contudo, o alarme foi ignorado porque soou idêntico ao aviso de configuração de decolagem, que só deveria soar quando estivessem no solo.
Sem entender o que estava acontecendo, os pilotos contataram o centro de operações da companhia aérea, que não soube informar nada sobre o problema. Instantes depois, as máscaras de oxigênio caíram na cabine, disparando um alerta mestre, que também podia indicar que alguns sistemas estavam superaquecendo, o que só fez os pilotos pensarem que este era o problema.
O equívoco foi agravado quando as luzes de aviso de resfriamento do equipamento acenderam no painel, mostrando que o fluxo de ar era insuficiente através dos ventiladores de resfriamento.
Mas a essa altura, o oxigênio estava começando a ficar ainda mais rarefeito, alterando a capacidade dos pilotos de raciocinarem bem. Eles perderam a consciência logo em seguida. Enquanto isso, respirando através das máscaras, os comissários e os passageiros aguardavam o que achavam ser uma turbulência, enquanto o Boeing continuava a subir no piloto automático em vez de descer a uma altitude com ar respirável.
Quando atingiu a altitude de cruzeiro, 12 minutos depois, os geradores de oxigênio desligaram e, em 30 segundos, todo o ar se esvaiu, deixando todos inconscientes devido à hipóxia, exceto o comissário de bordo e mergulhador Andreas Prodromou.
O homem solitário
O homem seguiu até a cabine usando uma máscara de oxigênio extra localizada ao longo das fileiras de assentos, depois abriu uma das 4 garrafas de oxigênio suplementar que durariam 1 hora.
Desesperado, Prodromou tentou acordar os pilotos inconscientes conforme o avião voava no automático em um padrão de espera que durou 40 minutos até que a Força Aérea grega enviasse caças para interceptarem o Boeing que não respondia à torre de comando, temendo que se tratasse de uma situação de sequestro.
Os pilotos do caça notaram que não havia nenhum movimento na cabine, e todos no avião pareciam inconscientes ou mortos. Eles seguiram o Boeing por 25 minutos até que o único sobrevivente aparecesse na cabine.
Logo que Prodromou se sentou no lugar do capitão e sinalizou para os caças, o motor esquerdo do Boeing 737 queimou devido à falta de combustível, e o avião iniciou sua derradeira queda. Prodromou tentou reanimar o copiloto colocando a máscara de oxigênio, mas foi em vão. Ninguém ouviu seu pedido de socorro no rádio porque ainda estava sintonizado na frequência de Larnaca, então o comissário não podia receber nenhuma instrução.
Dez minutos depois, o motor direito do aparelho falhou e desligou, lançando o avião em uma descida mais rápida para a iminente colisão. Resignado, Prodromou deixou a cabine e, a essa altura, todos já estavam mortos devido aos danos cerebrais causados pela falta de oxigenação. Ele era o único sobrevivente.
Às 12h03, o avião bateu em Grammatiko Hill, no leste da Ática, incinerando todos a bordo.
O Boeing 737-31S já vinha apresentando alguns problemas mecânicos antes daquele fatal 14 de agosto de 2005. Oito meses antes, a aeronave havia sofrido uma descompressão repentina durante outro voo porque a porta traseira havia se aberto parcialmente. O avião teve que fazer um pouso de emergência para que a porta fosse consertada e pudesse seguir viagem.
Nos primeiros momentos da manhã do dia que decolaria o voo 522 da Helios Airways, os problemas com a mesma porta reaparecem. A equipe percebeu que gelo havia se formado ao redor da vedação, por isso a aeronave foi submetida a um teste de pressurização, em que nenhum problema foi detectado.
No entanto, os mecânicos cometeram um erro fatal: eles deixaram o botão no painel de pressurização da cabine definido como "manual", o que significa que o avião não pressurizaria automaticamente durante o voo, a menos que recebesse ordens para isso.
O Boeing então decolou sem pressurizar a cabine conforme a altitude aumentava. Os pilotos nunca perceberam o erro, e a lenta perda de oxigênio também ajudou a prejudicar seu julgamento e percepção.
Após a tragédia, a Federal Aviation Administration dos Estados Unidos determinou que luzes de advertência indicando especificamente um problema de pressurização fossem adicionadas às aeronaves.
Hoje em
dia, o voo 522 da Helios Airways adquiriu um caráter praticamente mítico pela
maneira como todo o acidente se desenrolou, principalmente devido à solidão do
comissário Andreas Prodromou, que teve que enfrentar a própria morte da maneira
mais sombria o possível.
Autor: Júlio Cezar Araújo – Publicado no Site Mega Curioso.
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