É
uma visão da economia que se esforça ao máximo para desvinculá-la da vida das
pessoas reais – daí a naturalidade com que empresários ou jornalistas opõem
“CNPJs” a “CPFs”.
Um
dos principais males que a grande imprensa causa à democracia é o estreitamento
do debate econômico. Dos “especialistas” ouvidos por jornais e telejornais aos
comentaristas fixos, o que se vê é – com raríssimas exceções – a replicação de
uma mesma posição, caracterizada pela naturalização do funcionamento do
mercado, pelo fetiche do “equilíbrio fiscal” (a eterna analogia com a dona de
casa) e por versões menos ou mais abertas da teoria do trickle down (o bom é os
ricos ficarem cada vez mais ricos, porque a riqueza escorrerá de cima para
baixo).
Cria-se
uma falsa impressão de consenso – quando, na verdade, o debate é muito vivo e,
muitas vezes, o único consenso, entre os cientistas econômicos respeitáveis, é
contra as ideias que a mídia promove.
É
uma visão da economia que se esforça ao máximo para desvinculá-la da vida das
pessoas reais – daí a naturalidade com que empresários ou jornalistas opõem
“CNPJs” a “CPFs”. E, sobretudo, a crença absoluta em dogmas invulneráveis à
experiência, que devem ser protegidos mesmo quando todo mundo já está vendo que
eles nos conduzem à catástrofe.
Há
economistas competentes que se dispõem a ser porta-vozes desta doutrina e assim
se tornam estrelas na mídia. Há muitos outros bem menos competentes. Há os
completamente incompetentes, mas que aprenderam a repetir a ladainha e também
garantem seu espaço.
E há o herdeiro Hélio Beltrão, que inacreditavelmente é titular de uma coluna semanal na Folha, na qual perpetra as maiores sandices.
Hoje,
ele se dedica a postular que a Escola Austríaca – a corrente ultraliberal
estreitamente associada ao fascismo e aos seus arredores, de Mussolini a
Pinochet e a Bolsonaro – pratica uma ciência econômica “livre de juízo de
valor”, guiada exclusivamente pelos fatos!
Nem é preciso discutir a epistemologia primária do dublê de comentarista econômico e playboy faisandé. Basta perguntar em que “fatos” ele sustenta seu apoio às políticas genocidas de Guedes e Bolsonaro.
Dar
uma coluna a Beltrão no caderno de economia é como dar espaço fixo para um terraplanista
no caderno de ciências. Não informa o público e não acrescenta ao debate. Tenho
a impressão que o objetivo da Folha, ao mantê-lo, é fazer com que, por
contraste, o Samuel Pessôa pareça “ponderado” e “razoável”
Autor: Lourdes Nassif
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