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17 de maio de 2021

A farsa da qualificação como justificativa para desemprego!

 Cansei de assistir telejornais com matérias dizendo que a haviam vagas no país, porém, faltavam pessoas com qualificação para exercerem as vagas. Isso é uma grande farsa, por alguns motivos, primeiro porque quando alguém com qualificação chega para ocupar a vaga percebe que os salários oferecidos são incompatíveis com as exigências absurdas dos empresários. Segundo, porque as grandes oportunidades estão nos concursos públicos, raramente no setor privado.

Vejam o caso de um jovem de Pindamonhangaba no interior de SP. Com 33 anos e graduado em engenharia aeronáutica, com mestrado e doutorado em engenharia e tecnologia espaciais, na área de combustão e propulsão, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não consegue colocação em nenhuma grande empresa.

Depois de defender sua tese no início de 2020, ele se viu desempregado mesmo tendo em mãos um doutorado e uma qualificação acima da média nacional. "Mandei currículo até para auxiliar de serviços gerais, mas está difícil. Montei um negócio próprio e estou fazendo doces, porque eu estava sem nenhuma renda. Isso me rende uns R$ 400, R$ 500 por mês, no máximo. Um profissional da minha área normalmente ganha na faixa de R$ 13 mil a R$ 15 mil".

Esse é um caso que está entre os milhões de profissionais brasileiros qualificados e subutilizados em meio à pandemia do coronavírus. A subutilização da força de trabalho é um indicador mais amplo do que a desocupação.

Além dos desempregados, a subutilização também inclui aqueles que estão trabalhando menos horas do que gostariam; que desistiram de procurar emprego (os chamados desalentados); ou que gostariam de trabalhar, mas por algum motivo - como ter que cuidar dos filhos que estão fora da escola ou de idosos, por exemplo - não estavam disponíveis.

"A taxa de desemprego é uma medida super importante, mas ela deixa de fora todas essas pessoas que também estão numa situação de insatisfação com a situação de trabalho delas", explica Ana Tereza Pires, pesquisadora da consultoria IDados e autora do levantamento, elaborado a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A subutilização é um retrato mais amplo do mercado de trabalho e dessa ineficiência em alocar todo mundo que tem potencial de trabalhar dentro da força de trabalho.

A taxa de desocupação entre os trabalhadores com ensino superior é historicamente mais baixa do que a dos trabalhadores em geral. Entre o quarto trimestre de 2019 e igual período de 2020, ela passou de 5,6% para 6,9%, aumento de 1,3 ponto percentual.

Nesse mesmo intervalo, a taxa de desemprego para a população em geral subiu de 11% para 13,9%, um aumento de 2,9 ponto percentual. A diferença histórica no nível de desocupação entre os mais e os menos qualificados se explica pela parcela ainda relativamente pequena de pessoas com ensino superior no país. Segundo o IBGE, no quarto trimestre de 2020, apenas 16,5% da população brasileira em idade de trabalhar havia concluído o nível superior.

Como esses profissionais mais qualificados são relativamente escassos no país, em geral, eles têm mais facilidade de encontrar uma vaga no mercado de trabalho. Olhando a taxa de desemprego entre o final de 2019 e o final de 2020, ela cresceu muito no mercado de trabalho como um todo. Para quem tem ensino superior, houve um crescimento, mas não muito elevado.

Some-se a esse processo a completa estagnação da nossa economia, dentro de um governo inapto, incapaz de realizar a leitura correta do que está acontecendo ao redor da esplanada dos ministérios. Em dois anos e quatro meses nenhuma ação, projeto ou incentivo realizados no sentido de reduzir a massa de trabalhadores desempregados ou subutilizados. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Fonte: Consultoria IDados e Site BBC News Brasil

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