Ele foi professor, diretor de teatro,
poeta, cantor, compositor, músico e ativista político chileno que, logo após o
golpe militar que elevou Pinochet ao poder em 11 de setembro de 1973, foi
preso, torturado por vários dias, fuzilado e que teve seu corpo abandonado numa
favela.
No dia seguinte, cerca de 600 professores
e estudantes da Universidade Técnica do Estado (UTE), em Santiago, faziam
vigília no campus. O grupo manifestava seu apoio ao presidente Salvador
Allende, deposto na véspera por um golpe militar patrocinado por Augusto
Pinochet quando foi conduzido ao Estádio Chile. Era um ginásio de esportes no
qual se realizavam shows, partidas de vôlei e basquete que tinha sido
convertido desde o dia anterior em centro de detenção e quartel general da
repressão. Entre os presos estava um conhecido compositor de cabelo
encaracolado, logo identificado por um dos soldados. “Não o tratem como
mulherzinha”, orientou o oficial. Seu nome era Víctor Jara.
Professor da Faculdade de Comunicação da
UTE, Víctor Jara militava no Partido Comunista, havia apoiado a eleição de
Allende pela Unidade Popular em 1971, e firmava-se como o maior nome da canção
de protesto em seu país. Instantes depois de pisar no Estádio, foi brutalmente
espancado. Seu rosto vertia sangue quando lhe esmigalharam também as mãos, a
coronhadas, diante de todos. Seus torturadores afirmavam fazer aquilo para que
ele nunca mais empunhasse um violão.
Cinco dias após a prisão, Víctor Jara
foi assassinado. O laudo emitido após a autópsia, feita quando localizaram o
cadáver num matagal, indicou uma porção de ossos quebrados e 44 marcas de
balas. Antes de morrer, conseguiu redigir um poema entregue aos
companheiros de cárcere que providenciaram cópias e conseguiram preservá-lo,
dando-lhe mais tarde o título de Estádio Chile.
Trinta anos depois, em setembro de 2003,
o mesmo Estádio Chile foi nomeado Estádio Víctor Jara. Filho de lavrador,
Víctor Jara tocava e cantava num grupo de música folclórica quando conheceu
Violeta Parra, na segunda metade dos anos 1950, e foi convencido por ela a
continuar insistindo na carreira. Em 1965, já tinha gravado um disco com o
conjunto quando passou a frequentar a Peña de los Parra. Seus dois primeiros
LPs como artista solo foram lançados em 1967.
Aos poucos, a canção folclórica e os
temas rurais foram cedendo espaço para a música de protesto, mais urbana e, ao
mesmo tempo, profundamente alinhada às bandeiras políticas da época. Víctor
apoiou o líder vietnamita Ho Chi Min, citando-o nominalmente em plena guerra
fria na canção “El Derecho de Vivir en Paz“. Grava “Cruz de Luz”, de Daniel
Viglietti, solidarizando-se com o padre e guerrilheiro colombiano Camilo
Torres. Monta um repertório com canções em homenagem a Pancho Villa, Che
Guevara e Salvador Allende. Musica o poema de Neruda “Aquí me Quedo“: “Eu não
quero a pátria dividida / cabemos todos na minha terra”.
Mais conhecido como compositor de “Te
Recuerdo Amanda”, gravada por Mercedes Sosa, Joan Baez, Ivan Lins e muitos
outros, Víctor Jara registrou sua missão na primeira estrofe da canção
“Manifesto“: “Eu não canto por cantar/ nem por ter uma voz bonita/ Canto porque
o violão/ tem sentido e razão.”
Essa história exemplifica o que foi o
período sangrento da ditadura comandada pelo assassino General Pinochet.
Lamentavelmente o presidente do Brasil em visita àquele país elogiou o general
Pinochet, contrariando qualquer lógica que possa existir no mundo diplomático.
Pinochet protagonizou o golpe militar e
a ditadura sangrenta que durou quase 17 anos no Chile, entre 1973 e 1990,
matando mais de três mil pessoas no país. Na ditadura chilena, lideranças de
esquerda e intelectuais foram assassinados pelo Estado, e quase 40 mil foram
torturados de acordo com relatórios produzidos por comissões da verdade após o
fim do regime.
Pinochet é visto como uma figura nefasta
por muitos chilenos, imagem que se consolidou internacionalmente devido aos
milhares de crimes ocorridos sob a ditadura.
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