Que semana... A sociedade civil
brasileira tem o direito de pedir serenidade ao futuro chefe de Estado. E suas
entidades têm o dever de controlar abusos e incoerências dos eleitores. O
candidato antissistema precisa repensar o que diz, afinal, ele é sistema agora.
Quatro alunos da Faculdade de Economia
e Administração (USP) entraram com roupas militares, armas e as placas “a nova
era está chegando” e “está com medo petista safada?” na faculdade e tiram
fotos. A USP já identificou três e abriu sindicância.
Aluno da universidade de Bragança
Paulista foi preso ao entrar com canivete, rifle de airsoft e bastão, e ameaçou
colegas. A Guarda Civil o prendeu em flagrante. A universidade abriu uma
sindicância para apurar. O aluno negou as ameaças, mas não explicou as armas.
Quatro apoiadores do presidente eleito
invadiram assembleia do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação
Básica, em Camboriú (SC). O empresário Emílio Dalçoquio, de Itajaí, exaltou-se
e deu vivas ao ditador chileno Augusto Pinochet: “Matou quem tinha que matar”.
Segunda-feira, estudante do curso
pré-vestibular Oficina do Estudante, de Campinas, levou uma arma de brinquedo e
ameaçou os colegas. Disse que voltaria para matar estudantes homossexuais. Foi
expulso.
Mãe jornalista de Natal (CE) fantasiou
o filho de escravo para o Halloween da escola e postou fotos. Chegou a maquiar
as costas do garoto com marcas de chicote. Queria abrasileirar a festa, contou:
“Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de
negros no País, mas isso é mentira”. Pediu desculpas depois e apagou as fotos.
O MP ainda não decidiu se instaura processo.
Deputada estadual recém-eleita,
professora Ana Campagnolo, abriu um canal de denúncias na internet para
fiscalizar “professores doutrinadores” que, em sala de aula, tivessem
“manifestações político-ideológicas”. O juiz Giuliano Ziembowicz, da Vara da
Infância e da Juventude de Florianópolis, determinou que a deputada retirasse a
publicação, pois “fere o direito dos alunos de usufruírem da liberdade de
expressão da atividade intelectual em aula, que deve ser exercida sem censura.”.
O governador eleito do Rio, Wilson
Witzel, pediu desculpas à família de Marielle Franco, depois de apoiar a quebra
da placa de rua com o nome da vereadora do PSOL executada.
A Marcha do Chola Mais foi agendada
pelo Facebook para “cantar e comemorar” a vitória de Bolsonaro pelas ruas da
USP. Um dos organizadores, deputado estadual eleito (PSL-SP), Paulo Douglas
Garcia, cofundador do movimento Direita São Paulo, não estuda na instituição.
Rolou empurra-empurra.
Estudante da Faculdade de Direito do
Mackenzie postou vídeos afirmando “estar armado com faca, pistola, o diabo,
louco para ver um vagabundo com camiseta vermelha para matar logo”, e “essa
negraiada vai morrer”. Pediu desculpas depois, disse que foi uma “bobagem”, um
“impulso”, uma “fala completamente equivocada”: “Acabei externando nessas
palavras completamente equivocadas, erradas, a pessoas que não tinham nada a
ver com a minha indignação. Pelo contrário, não sou uma pessoa racista, muito
menos violento”. O MP de São Paulo abriu inquérito.
Ele foi suspenso da faculdade e
mandado embora da firma em que trabalhava, DDSA Advogados, que soltou: “Tomamos
conhecimento, na tarde de hoje, de vídeo que circula nas redes sociais com
declarações efetuadas por acadêmico de Direito que fazia estágio no escritório
e imediatamente o desligou de seus quadros. O escritório repudia veementemente
qualquer manifestação que viole direitos e garantias estabelecidos pela
Constituição Federal”.
Jair Bolsonaro, por três décadas,
criou um repertório grande de declarações misóginas, homofóbicas, racistas,
somadas a ataques à imprensa e discurso de ódio, que avalizam o comportamento
dos seus aliados.
Apoiadores de Bolsonaro entraram na
Universidade de Brasília para comemorar a vitória do ex-capitão. Convidados a
se retirar, quebraram o pau com estudantes do ICC (Instituto Central de
Ciências). A segurança interveio.
Assessor parlamentar de imprensa do
presidente eleito entrou num grupo no WhatsApp formado por jornalistas que
cobriam a campanha e escreveu: “Vocês são o maior engodo do Jornalismo do
Brasil! LIXO”. Escreveu depois: “Gostaria de apresentar minhas sinceras
desculpas junto aos jornalistas brasileiros, que por ventura se sentiram atingidos,
no tocante ao meu excesso verbal. Agi de forma rude e equivocada para mostrar
minha insatisfação na cobertura jornalística do cenário político nacional”.
O ministro Luís Roberto Barroso
anunciou que STF se unirá em defesa de negros, gays, mulheres e da liberdade de
expressão: “O Supremo pode ter estado dividido em relação ao enfrentamento da
corrupção. Muitos laços históricos difíceis de desfazerem, infelizmente. Mas em
relação à proteção dos direitos fundamentais, ele sempre esteve unido”.
O grupo Ninguém Fica Pra Trás abriu
conta no site de contribuição coletiva: “O ódio pode estar mais forte do que
nunca, mas nossa resposta começa aqui, e agora. Vamos nos unir nesta enorme
campanha de financiamento coletivo para apoiar iniciativas que acolhem pessoas
vítimas de violência, intolerância, misoginia, homofobia e racismo... A eleição
de Bolsonaro tem um efeito grave e imediato: o aumento dos crimes de ódio sobre
grupos que foram hostilizados em seus discursos. Mulheres, negras e negros,
população LBGTQI, povos tradicionais e refugiados sempre sentiram na pele os
efeitos da intolerância – mas agora, com um presidente que incita o ódio
publicamente, essas vidas estão ainda mais ameaçadas”.
A Associação Nacional de Jornais, OAB,
ABI, Repórteres Sem Fronteiras, Federação Nacional dos Jornalistas, Comitê de
Proteção aos Jornalistas e outras entidades repudiaram a entrevista
ao Jornal Nacional em que o candidato eleito voltou a atacar
a Folha de S. Paulo e afirmou que “por si só, esse jornal se acabou”.
Na quinta-feira, na sua primeira
coletiva, foi vetada a presença de representantes dos
jornais Estado, Folha, O Globo e agências internacionais.
Que semana...
Autor: Marcelo
Rubens Paiva, escreve para o jornal O Estado de S. Paulo.
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