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22 de novembro de 2018

Da medicina e seus antigos problemas!

“Loucos são apenas os significados não compartilhados.
A loucura não é loucura quando compartilhada”.
Zygmunt Bauman

Depois do final da eleição voltou à discussão no país a questão do “Programa Mais Médicos”. Infelizmente, a discussão não gira em torno da medicina, do atendimento aos necessitados abaixo da linha da pobreza e que estão completamente desamparados há muito tempo, mas sim, em torno de ideologia barata, demagogia inútil e sem que sejam apontados caminhos a serem percorridos a partir de 2019.
A verdade desde há muito anos é que os médicos recém-formados sempre preteriram os Estados menos desenvolvidos, as cidades mais distantes e acabaram se concentrando no Sul e Sudeste do país. Mesmo assim, dentro do Estado de SP, as regiões mais pobres como o Vale do Ribeira, sofrem até hoje com a ausência de médicos brasileiros em várias especialidades.
O Brasil conta com 450 mil médicos com CRM ativo no país (dados de 2018), número que está aumentando nas maiores taxas já vistas na história. Os programas eleitoreiros do governo fizeram com que várias vagas fossem abertas em faculdades do país inteiro e que houvesse flexibilização para a entrada de médicos estrangeiros no país sem o Revalida, exame que comprova a proficiência desses profissionais na área médica.
Em 2018, a perspectiva é de que se formem cerca de 25 mil médicos no país, o que daria um acréscimo de 5,5% ao ano. A expectativa era que esses profissionais se interiorizassem, mas a necessidade de especialização e atuação em um mercado cada vez mais competitivo faz com que os recém-formados permaneçam nos grandes centros.
Os profissionais que conseguem se destacar acabam em consultórios particulares ou criam clínicas para poderem se especializar. Oferecer um bom serviço técnico é uma obrigação, somada a necessidade de oferecer uma excelente experiência para o paciente com o seus serviços.
O Brasil tem um déficit enorme de médicos por habitantes. Embora este quadro tenha melhorado um pouco nos últimos anos com a disseminação de novos cursos, ainda não é o suficiente para ocupar as vagas ociosas pelo país.
Temos aproximadamente 310 (Trezentos e dez) faculdades de medicina, o que o nos torna o primeiro no mundo em quantidade de vagas nesta área. Essa extensão visa suprir o interior do país, onde há maior dificuldade de preencher os espaços. Entretanto, não há por parte do governo nenhuma estratégia inteligente e eficaz que consiga fazer com que os médicos recém-formados se interessem por exercer sua profissão no Norte, Nordeste e Centro Oeste do país.
Atualmente, a taxa de médicos por 100 mil habitantes aumentou para 10,35 e a tendência é melhorar. Bem próximo dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que hoje é estipulado em 10,56. O indicador é ótimo, sobretudo se consideramos países como EUA com 6,5 e Suíça com 9,4.
Esse índice melhora porque há mais médicos se formando do que se aposentando. A previsão para até 2020 é que 32 mil médicos se formem por ano. Em 2016, já foram 21.109 médicos formados e lançados para o mercado de trabalho. O contrassenso está no fato de que o Interior do país concentra cerca de 70% da população do Brasil, mesmo assim, têm apenas 1,23 médicos a cada cem mil habitantes, enquanto os grandes centros possuem 4,84 médicos por cem mil habitantes.
A situação se reflete nas regiões, onde o Sudeste possui 42% da população e tem 55,4% de médicos, contra o Nordeste que tem 27,8% da população e 17,4% dos médicos. As mais equilibradas são o sul, com 14,3% da população e 15% dos médicos, e o Centro Oeste, com 7,7 da população e 7,9% médicos do país.
O novo governo que tomará posse em janeiro de 2019, precisará fomentar políticas públicas que possam estimular a fixação de profissionais de medicina nas regiões menos assistidas. Para isso, é preciso não apenas levar os médicos para estas regiões com salários dignos e compatíveis, mas, dotar estas regiões com infraestrutura, bons hospitais, acesso a programas de educação continuada e as formas adequadas de trabalho para que eles possam exercer a medicina em condições excelentes.
Fontes: IMedicina, CRM, Jornal O Estado de SP.

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

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