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6 de outubro de 2023

Morar onde?

  

Morar onde? Fugir para onde? Sobreviver como, depois dos últimos acontecimentos? - Foto de Katia Marko.

Em 2022, eu dizia, meio brincando, meio falando sério, que, dependendo do resultado eleitoral para presidente da República, eu iria morar no Uruguai, vizinho do Rio Grande do Sul. Não foi preciso, Lula ganhou a eleição.

Agora, outubro de 2023, a mesma pergunta e dúvida passam pela cabeça. Senão vejamos.

No Rio Grande do Sul, a chuva não para. Atingiu o estado inteiro, mas também com graves consequências, algumas regiões mais, com destruição quase total, outras menos. Água, mais água, ciclones, tempestades, granizo, com casas destruídas, muitas famílias perderam tudo, sem energia e internet por dias ou até semanas, escolas sem condições de funcionamento. E nada indica que a situação vá melhorar para o futuro.

O Amazonas e a Amazônia estão seca severa. A cunhada Zeneide, que mora no município de Lábrea, Amazonas, a quem perguntei sobre a situação no município e na região, escreveu, em 30.09: “Boa noite, Selvino. Aqui o rio está muito baixo, mas os barcos ainda viajam para Manaus, levando os passageiros. E aqui está muito calor.” As notícias e a tragédia estão por todos os lados: “Aquecimento das águas pode ter provocado a morte de 5% dos botos de Tefé. No fim de semana, 110 animais morreram no Lago Tefé no Amazonas. Especialistas buscam as causas. Temperatura da água chegou a 40 graus” (Blog do Luís Nassif, 02.10.23). Os rios estão secando, praias sendo fechadas em Manaus.

Situação semelhante acontece em diferentes lugares no Nordeste, especialmente no Piauí. Dias atrás, estando em Brasília e indo para o aeroporto às 14h, o mostrador de temperatura na rua apontava calor de 36 graus.

Morar onde? ´Fugir´ para onde? Sobreviver como, depois dos últimos acontecimentos?

Na Bahia e Rio de Janeiro, especialmente, a violência tomou conta. Mortes, assassinatos todos os dias, seja pelo crime organizado, ou funcionamento e ação policial mal explicadas, atirando para todos os lados, matando crianças, adolescentes, jovens, mulheres, numa escalada que parece não ter fim. O medo está nas comunidades, a vida cada vez mais difícil, quase impossível.

Que tempos! A chuva, água e ciclones, seca, calor, mudanças climáticas sem controle, violência no cotidiano, suicídios de jovens estudantes em universidades sendo notícia: onde vamos parar?

Morar onde? Ou, quem sabe, a saída seja voltar a Santa Emília, minha comunidade do interior de Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, de onde saí com 11 anos de idade, anos 1960, e nunca mais voltei mais longamente, a não ser durante a pandemia, anos 2020. Mas nem lá, embora tenha ainda muitos bosques, árvores e mato, está assegurada a tranquilidade. A criminalidade e a violência vêm aumentando rapidamente no município, até em comunidades pequenas, outrora tranquilas, e que sempre foram reinados de paz. O riacho que banha a propriedade familiar está, muitas vezes, quase secando.

Urge o cuidado com a Casa Comum. Vivo dizendo para os mais jovens: “Vocês que ainda vão viver 30, 40 ou mais anos, o que não é o meu caso, cuidem-se, protejam a natureza, cuidem do mundo. Leonardo Boff alertou, dias atrás em Porto Alegre, que estamos no limite de uma catástrofe. “Como nunca antes na história, o ser humano deve fazer novo começo. Ou fazemos um pacto de cuidado da Terra ou voltamos a assistir a nossa destruição. Nós ultrapassamos o aquecimento global, entramos num novo regime climático da Terra.”

O tempo urge e ruge. Ou acordamos, todas e todos, ou não teremos, mais cedo ou mais tarde, onde morar, e viver, tampouco sobreviver.

Autor: Selvino Heck - Publicado no Site Brasil de Fato.

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