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6 de outubro de 2023

O pulso ainda pulsa?

  

Claramente uma metodologia analítica que não encontra perigos no cultivo de lavouras transgênicas tolerantes a herbicidas cancerígenos se revela inadequada ou pelo menos insuficiente em seu escopo de abrangência - Arquivo ABr

Acabei de participar de encontro muito instigante, onde palestraram ilustres pesquisadores do campo da Biologia moderna. Paradoxalmente, apareceram ali entre enormes avanços da ciência de manipulação gênica, indicativos de tendência à manutenção de mecanismos pautados por interesses econômicos de origem duvidosa.

Por isso, decidi aproveitar este espaço para estimular reflexão a respeito de algo que me pareceu contraditório.

Ao mesmo tempo em que se percebe acelerada evolução em terapias gênicas fabulosas, destinadas inclusive ao enfrentamento de doenças ultrarraras (ao custo de milhões de dólares/caso tratado), se mantém a triste expansão de tecnologias que induzem derrame de bilhões de litros de agrotóxicos, muitos deles sabidamente cancerígenos, sobre nuestra patria sojera.

É evidente que uma vida humana não tem preço e que devemos estimular qualquer avanço do conhecimento científico orientado à minimização de sofrimentos. Mas também é óbvio que não podemos descuidar de medidas preventivas que possam contribuir para limitar dramas de saúde tão dramáticos como aqueles relacionados aos vários tipos de câncer. Afinal, no câncer já se esconde a segunda (tendente a ser a primeira) causa de mortes em nosso país. Por isso, a aprovação e o estímulo ao uso de plantas transgênicas tolerantes a múltiplos herbicidas cancerígenos não podem continuar sendo desconsiderados, entre as mais relevantes de suas causas.

Dentre as muitas perguntas que o fato instiga, vamos ficar na mais simples: o que está acontecendo com as avaliações de risco, que apesar de tantos protestos de organizações da sociedade civil, continuam atestando a inocuidade daquela tecnologia?

Claramente uma metodologia analítica que não encontra perigos no cultivo de lavouras transgênicas tolerantes a herbicidas cancerígenos se revela inadequada ou pelo menos insuficiente em seu escopo de abrangência. E isto é assim porque assim o determinam seus protocolos. Ao ignorar os efeitos ecocidas que a disponibilidade daquelas plantas induz, sobre ações humanas, a metodologia “oficial” de avaliação de riscos simplesmente está colaborando para com a venda/o uso de venenos cancerígenos e, por consequência, para com a expansão de dramas que de outra forma poderiam ser evitados. Ou não?

Mantidos os atuais procedimentos resta concluir que estamos atribuindo escasso valor à vida daquelas pessoas comuns atendidas em serviços de oncologia prestados pelo SUS. E este fato merece reflexão não apenas porque tende a se expandir como também porque caracteriza a captura de nossa democracia, e talvez de parte de nossa comunidade científica, por interesses e valores de mercado alheios, quando não ofensivos a direitos e deveres constitucionalmente assegurados.

Precisamos refletir sobre estas coisas, já, enquanto o pulso ainda pulsa.

 https://youtu.be/PH3kNbvjN9E

Autor: Leonardo Melgarejo – Publicado no Site Brasil de Fato.

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