Muitas universidades têm autônoma no nome e ao passar por esta entrada senti o peso da sua história nas Américas.
Verdade inquestionável é que o homem já habitava a terra antes da internet, por mais incrível que isto possa parecer. E mais incrível ainda, é que provavelmente você, que está lendo estes escritos, tenha nascido nesta época. Sim, se você tem mais que 23 anos, poderemos dizer, orgulhosamente, que és um nascido no século passado.
Na época em que o Brasil foi “criado” por portugueses, já havia nas Américas uma universidade criada pelos espanhóis em Santo Domingo, na belíssima República Dominicana, em 1538, apenas quarenta e seis anos depois do seu descobrimento. No Brasil, a primeira universidade “legal” foi a Universidade do Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1920.
As universidades mais antigas do mundo são, por ordem cronológica, a de Bologna (1088), Universidade de Oxford (1096), Salamanca (1134), Paris (1160), Cambridge (1209), Pádua (1222), Nápoles (1224), Siena (1240) e Coimbra (1290).
Nas Américas, as universidades mais antigas são Santo Domingo (l538), San Marcos no Peru (1551), México (1553), Harvard (1636), Bogotá (1662), Cusco no Peru (1692), Yale (1701), Havana (1728), Santiago (1738) e Filadélfia (1755).
E por aqui?
Ao contrário de outras áreas coloniais, no Brasil as universidades e cursos superiores eram proibidos por lei e os filhos das elites colonial e imperial se dirigiam às universidades europeias, principalmente Coimbra, para estudarem Direito e Medicina.
Quando surgiu a primeira universidade brasileira, outras já existiam a mais de 412 anos em outras partes do mundo. E mesmo assim, a universidade criada existia apenas na letra da lei, pois as escolas que o governo reuniu sob esse nome, não interagiam e, só em 1937 foi que, efetivamente, se criou a Universidade do Brasil, hoje a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
E no mundo?
As universidades nasciam livres por iniciativa de estudantes que desejavam aprender e procuravam um mestre ou vice-versa. Se formavam grupos independentes de qualquer autoridade civil ou religiosa.
Quando algum rei ou bispo começava a interferir no desejo de converter estes grupos em instrumentos, o grupo se dirigia com a sua música, arte e conhecimento para outra parte. Não havia o problema de idioma, já que o latim era a língua popular.
Os lugares frequentados por estudantes do mundo todo recebiam o nome de “studia generalia” e desfrutavam de imunidades contra prisão injusta, moradia com segurança, direito de interromper os estudos e proteção contra extorsão em negócios financeiros. Quando estes grupos eram consentidos pelas autoridades também eram chamados de “universitas”.
Até hoje se tem a autonomia universitária e é lei. Para que forças policiais entrem no campus, devem ter autorização dos reitores, ou será ilegal. Muitos não sabem disto, talvez por ignorância, mas as vezes por conveniência ou desvio autoritário de personalidade. Os poderes constituídos devem respeitar esta independência de pensamento e de atitudes da comunidade universitária.
Há de se ter a liberdade acadêmica absoluta. O campo do espírito crítico precisa de espontaneidade para florescer em criatividade e morre quando a utilidade, conveniência e pragmatismo convertem-se em instância suprema.
A universidade verdadeira sempre foi um lugar de encontros para discutir ideias, para manifestar inquietações, realizar críticas políticas e sociais, livre de autoritarismo e do fantasma de punições que minimizam o homem e as instituições.
Reflexão final
Desde
a formação dos grupos embrionários da universidade, despertou-se o interesse
dos poderosos feudais. Desde 1088, as Universidades verdadeiras lutam para não
ser reduzidas à categoria de instrumentos dos que detêm o poder no momento. Na
Universidade, não se deve ter espaço para a covardia e acomodação e, na USP,
tem sido assim desde 1934. Fiquemos atentos e feliz dia do Professor!
Autor:
Professor Alberto Consolaro – Professor Titular pela USP e Colunista de
Ciências do JC. Publicado no Jornal da Cidade de Bauru.
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