Seguidores

16 de setembro de 2022

Nem Freud explica o eleitor brasileiro!

É fato que temos um eleitorado disperso por um imenso território continental que possui diferenças gigantescas do ponto de vista social, econômico e cultural. Sabemos também que a origem que herdamos não nos ajudou em nada no processo de construção da nossa vida social e política. Passamos do período de colonizados, vivemos uma monarquia anárquica e predatória para em 1889 instaurarmos nossa sonhada república.

Historicamente, a escravidão persistiu como principal forma de trabalho no Brasil durante o período em que o país foi colônia de Portugal e no período de pós independência. Durante mais de 300 anos, o trabalho escravo permaneceu como base da economia brasileira, sendo abolido em 13 de maio de 1888 através da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel.

Mesmo extinta a escravidão, o governo não planejou e nem criou formas para promover a inserção social do negro: ele permaneceu marginalizado. Apesar de constituir a maior parcela da população, o negro permaneceu sem ser reconhecido como cidadão por muitos anos. Raras vezes pôde ter acesso à educação e, consequentemente, arranjar um bom emprego e então ter condições de adquirir uma moradia segura. Mas, principalmente, continuou sofrendo com o preconceito étnico, o que pode explicar a violência que a população negra sofre no Brasil.

Nossa sociedade carrega o fardo de ter sido uma das que mais demorou para extirpar o regime escravagista. Demoramos demais para que negros e mulheres pudessem ter o direito ao voto. Sem contar que em pleno século XXI, ainda temos resquícios de trabalho escravo em diversos Estados brasileiros. O racismo está entre nós e sobrevive na maioria das vezes impunemente.

Outro aspecto negativo que temos no seio da nossa sociedade é a desigualdade social. O Brasil não só continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, como está piorando: em 2020, seguindo uma tendência mundial acelerada pela pandemia do novo coronavírus, a concentração de renda aumentou no país e, com isso, atingiu o pior nível em pelo menos duas décadas.

E o que podemos entender por desigualdade social? A desigualdade social é a diferença existente entre os diversos tipos de classes sociais, levando-se em conta fatores econômicos, educacionais e culturais. Resumindo: ela é um mal que afeta todo o mundo, em especial os países que ainda se encontram em vias de desenvolvimento. Pode ser medida por faixas de renda, em que são consideradas as médias dos mais ricos em comparação às dos mais pobres. Também podem ser utilizados, como dados para o cálculo de desigualdade, fatores como o IDH, a escolarização, o acesso à cultura e o acesso a serviços básicos — como saúde, segurança, saneamento etc.

Neste breve contexto, num país imenso, desigual e com origem de escravidão, com um sistema educacional com baixa qualidade, como podemos exigir um eleitorado que exerça seu direito ao voto e à participação democrática na vida política nacional?

Depois da redemocratização em 1989, com a volta das eleições diretas para todos os cargos eletivos, o crescente avanço da tecnologia, inclusive com a adoção do sistema de urnas eletrônicas, imprensa livre, esperávamos que os eleitores tivessem uma maior participação, porém, acontece justamente o contrário. Cada vez mais existe o afastamento dos eleitores não somente das urnas (Algo em torno de 40% ou mais de cinquenta milhões de brasileiros), como também da participação na vida política do país.

Perdemos completamente a nossa força quando os partidos políticos percebem esse afastamento, pois é tudo o que eles mais querem e precisam. Isso explica o porquê de tantas pessoas dizendo que não gostam de política, não se interessam por nada relativo à vida pública do país. Os maus políticos adoram ouvir isso, pois sabem que vão conseguir se manter no poder graças em parte a essa omissão e afastamento.

Na eleição atual que vai acontecer em outubro próximo, temos seis candidatos concorrendo à presidência da república. Destes se destacam nas pesquisas eleitorais o presidente e o candidato do PT, Lula, os demais não conseguiram decolar. Numa situação normal eu diria que no 1º turno devemos votar em quem mais acreditamos, para depois num eventual segundo turno confirmarmos nosso voto no mesmo candidato ou escolher entre os dois que restaram aquele cujo perfil programático mais se aproxima da escolha inicial.

Entretanto, nesta atual eleição esse pensamento não deve existir e o motivo é muito simples, embora triste e penoso para toda uma parcela considerável da sociedade. O atual presidente fez uma gestão que é considerada a pior da história desde 1889. Um governo voltado para a minoria rica, elitista, conservador ao extremo e sem ter colocado em prática projetos (Obras, serviços e sociais) que pudessem justificar sua candidatura à reeleição. Logo, o mais plausível seria derrotar sua candidatura nas urnas no 1º turno, votando no segundo colocado.

Mas, não é isso que estamos presenciando, as pessoas por omissão, ignorância dos fatos ou ranço contra o segmento de esquerda, correm o risco de possibilitar com seu voto perdido em candidatos sem chance de um 2º turno entre Lula X Bolsonaro. Teríamos então mais 20 dias de mentiras, disparos de fake news em grupos de whatsapp e redes sociais, violência e um custo que talvez a nossa democracia não queira pagar.

Afinal de contas, Bolsonaro representa o atraso, a ruptura com a democracia e nossas instituições, mantê-lo por mais vinte dias na disputa significa manter o risco enorme de termos mais quatro anos perdidos para o Brasil ou o caos e a violência diante da negativa desse sujeito em aceitar a derrota democraticamente.  


Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

2 comentários:

Maria Angélica disse...

O brasileiro precisa mesmo ser estudado muito a fundo. Pouquíssimos não estão sofrendo os duros golpes dados por esse desgoverno, mas mesmo sentindo na pele, no bolso, no osso, insistem no erro de votar contra a esquerda. Não é o voto na pessoa, não é o voto em uma proposta, um projeto de governo. É simplesmente um voto em algo que ouviram dizer. Freud não explicaria nunca mesmo.

DANIEL disse...

Muito bom texto. eu concordo com tudo que escreveu nosso povo precisa ser estudado