Jair Bolsonaro perdeu qualquer condição moral para continuar governando o País. Sua remoção do cargo é uma questão de saúde pública, de vida ou morte para milhões de brasileiros. As cenas da comitiva brasileira aceitando usar máscara em Israel chocam por sua perversidade.
Aqui dentro, o governo zomba do distanciamento social, se irrita quando alguém se apresenta de máscara e – apesar de nosso histórico de sucesso nas vacinações em massa – sabotou todas as medidas de prevenção da pandemia. Mas lá fora, quando um governo soberano estrangeiro manda, os funcionários do povo brasileiro aceitam- cordeirinhos! – usar a máscara que a Ciência recomenda.
Ou seja: aqui dentro, Ignorância, Negação e Morte. Lá fora, Normalidade.
A hipocrisia é inaceitável.
Instado a colocar máscara, a obrigação do bolsonarista raiz era dizer ao israelense que não, jamais que aquilo ali era uma “frescura” e que “temos que lutar sem nos amedrontar!” Por que não seguiram o script covardes?
Desta vez, a malignidade deste desgoverno não se perderá em meio a factoides; desta vez; não é política que está em jogo. É gente morrendo na rua.
Muitos já sabiam que Bolsonaro nunca teve o equipamento intelectual necessário – temperamento, lógica e racionalidade – para performar as tarefas mais simples que a presidência exige.
Mas as cenas desta semana com o presidente berrando para o brasileiro buscar vacina “na casa da sua mãe” e insistir que o luto e a angústia de tantos são “frescura e mimimi”, são, na melhor das hipóteses, crimes de responsabilidade, senão crimes contra a própria humanidade.
Cadê a vacina, Jair? Sua mãe, que criou um negacionista, já foi vacinada. As mães de milhões de brasileiros, não.
Por MUITO MENOS, este País foi às ruas para tirar Fernando Collor e Dilma Rousseff. Um caiu por uma Fiat Elba; a outra por uma pedalada fiscal. Ambos pagaram por suas irregularidades, mas nenhum brincou com vidas.
Bolsonaro prova que só há uma coisa pior do que um idiota com iniciativa: um idiota com iniciativa que precisa lidar com uma pandemia.
Se Dilma Rousseff estivesse hoje na Presidência e se comportando como Jair Bolsonaro, a Faria Lima e o Jardim Europa – o principal público deste site – já estariam na Paulista batendo panelas e exigindo sua remoção do cargo.
Perdemos nossa bússola moral?
Na economia, Bolsonaro fez o mínimo para não deixar o País quebrar. O mínimo! Não privatizou nada, não passou reforma relevante nenhuma, e recentemente voltou a seus instintos originais: estatismo, intervencionismo e populismo.
A incompetência é tão grande que nem sua antecessora conseguiu produzir uma taxa de câmbio tão depreciada – e num momento de preços recordes das commodities.
Em sua trajetória de Mito a Coveiro do Brasil, Bolsonaro arrastou militares – alguns fascinados com cargos que lhe deram salários com os quais não sonhavam. É hora de desmamar dos DAS e servir à Pátria à qual juraram lealdade.
Apesar de tudo isso, no Congresso ainda não há coragem para um Impeachment.
Nossos políticos não são líderes, são liderados – pelas pesquisas.
O novo presidente do Senado, Rodrigo Otávio Soares Pacheco, disse recentemente que “não é hora” nem de CPI nem de Impeachment.
Rodrigo é um jovem político mineiro – pessoa de bem, ao que consta – mas está enveredando na trilha que desgraçou Rodrigo Maia. Maia apostou tudo na contemporização, e acabou sem legado algum, sem amigos em qualquer um dos lados.
O Presidente da Câmara, Arthur César Pereira de Lira, poderia aceitar um pedido de impeachment. Arthur tem a oportunidade de deixar para trás o carimbo de fisiológico do Centrão e se reinventar como um homem de Estado corajoso, sensível ao que está acontecendo no País.
Se nada fizerem, Pacheco e Arthur sairão de cena minúsculos, menores do que entraram. Até o Senador Tasso Jereissati, um dos homens públicos mais sérios do País, precisa recalibrar sua indignação. Tasso fez pressão por uma CPI e disse que “é preciso parar esse cara,” mas disse que um impeachment” vai criar uma crise sem tamanho”.
Data vênia, Senador: “crise sem tamanho” é quando mãe, pai e filho morrem sem respirador, é quando prefeitos têm que fechar as cidades porque a vacina ainda está longe.
É impossível contemporizar com este Governo. É inviável tentar negociar com quem não quer remar na mesma direção.
Não são apenas os chefes dos Poderes que têm responsabilidade. O Procurador Geral da República se omite, mas onde estão os demais membros do Ministério Público Federal? Vão prevaricar? Não à vida depois da Lava Jato?
E a oposição? Ainda existe? E as mesas diretoras da Câmara e do Senado? Todos vocês têm CPF, todos têm biografia, todos têm família que precisa da vacina.
E aos amigos do agronegócio, que vão muito bem, obrigado, e ainda constituem a base de apoio mais fiel ao Presidente, um lembrete amigável: mesmo quem está na primeira classe do Titanic morre afogado quando o navio afunda. Ou morre sem vacina.
Empobrecidos em dólar, desempregados aos milhões, isolados sanitariamente do mundo e sem amigos nas grandes potências, os brasileiros seguem sua vidinha medíocre – até que a coisa transborde em manifestações de rua para, aí sim, os políticos encontrarem sua coluna vertebral.
Autor: Editorial do Brazil Journal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário