NÃO,
o Brasil é o país que mais desmata florestas tropicais!
Foto Pixabay
O presidente Jair Bolsonaro já repetiu pelo menos 15 vezes desde o início de seu mandato que “o Brasil é o país que mais preserva suas florestas no mundo”.
A afirmação é falsa. Segundo dados da ONU reunidos pelo Banco Mundial, há 29 países com proporção de cobertura florestal maior que a do Brasil – mesmo em termos absolutos, o país com maior extensão do território coberta por florestas é a Rússia, e não o Brasil, como mostramos aqui.
Segundo relatório de 2020 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), florestas cobrem quase um terço (30,8%) da área terrestre do planeta e mais da metade delas estão em cinco países: Rússia (20,1% das florestas do mundo), Brasil (12,2%), Canadá (8,5%), EUA (7,6%) e China (5,4%).
Outro critério é o de áreas protegidas. O Brasil é o 34° em proporção de áreas protegidas, segundo dados do Programa da ONU para Meio Ambiente. Em termos absolutos, o país tem a maior extensão de terras públicas protegidas legalmente, mas essas áreas não estão sendo preservadas: sob Bolsonaro, o desmatamento aumentou 40% em unidades de conservação e 80% em terras indígenas.
Em 2019, o Brasil foi o país que mais desmatou florestas primárias no mundo: concentrou mais de um terço de toda a perda de florestas tropicais úmidas, segundo dados da Global Forest Watch.
O argumento de Bolsonaro, repetido por ministros e pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, é baseado em números divulgados pelo chefe da Embrapa Territorial, o agrônomo Evaristo de Miranda.
Em suas apresentações, Miranda afirma que o Brasil tem tanta área protegida (29% do território) que ficou sem espaço para a agropecuária, o que é falso. Ele usa um dado correto, de que o país mantém 66% do território coberto com vegetação, para afirmar que o Brasil é o que mais preserva. No entanto, análise do Mapbiomas mostra que pelo menos 9% dessa vegetação é secundária – ou seja, são áreas que já foram desmatadas e voltaram a crescer. Não estão, portanto, protegidas nem preservadas.
Pesquisadores já rebateram o que classificam de “estatística criativa” usada por Miranda para chegar ao que ele chama de taxa de vegetação “protegida e preservada”.
As conclusões da Embrapa Territorial sobre a preservação da flora brasileira em propriedades rurais também foram questionadas no estudo “Os dados confirmam que Brasil lidera o mundo em preservação ambiental?”, publicado em junho de 2019 na revista Environmental Conservation, da Cambridge University Press.
Ao afirmar falsamente que o Brasil é o que mais preserva, Bolsonaro acusa países europeus. “Não preservaram nada”, afirmou em julho. No entanto, análise divulgada pelo Fórum Econômico Mundial mostra que entre 1990 e 2015 a Europa ganhou 90 mil quilômetros quadrados de cobertura florestal, o equivalente a um Portugal. No mesmo período, o Brasil perdeu, apenas na Amazônia, mais de 370 mil quilômetros quadrados, ou quatro Portugais.
A cobertura florestal na União Europeia chega hoje a 42% do território. Três países europeus, a Suécia (69%), a Finlândia (73%) e a Eslovênia (62%), têm mais florestas que o Brasil (59%) como proporção do território.
Em 1975, o desmatamento acumulado na Amazônia era de 27 mil quilômetros quadrados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em apenas 45 anos chegamos a 800 mil quilômetros quadrados, o equivalente às áreas somadas de Espanha e Itália. Foi apenas em 1988 que o Brasil criou uma política nacional de preservação da Amazônia e somente neste século que conseguiu reduzir a velocidade do desmatamento (a partir de 2004). Esse esforço perdeu eficiência a partir de 2012, quando o desmatamento voltou a acelerar, e foi cancelado em 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro engavetou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) e o desmate cresceu 34%, a maior alta em onze anos.
Cheque você mesmo:
Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
Foto divulgação - Neo Mondo
Autor: Neo Mondo
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