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1 de outubro de 2020

Tratado sobre Bauru!

 Nascida em 1896, no início do século XX Bauru começou a ganhar infraestrutura e viu sua população crescer com a chegada da ferrovia e, mais tarde, das rodovias. O café ganhou força no município no início do século, porém se desvalorizou e aos poucos cedeu lugar ao processo de industrialização, sendo que, esta foi a principal responsável pela urbanização do município. E foi justamente as margens da ferrovia que graças ao entroncamento ferroviário que proporcionou o desenvolvimento econômico e o crescimento da cidade que se tornaria “A cidade sem limites”.

Difícil entender que uma cidade com este início pujante na década de ’80, tenha sido cogitada para ser a nova Capital do Estado, tenha chegado a esse ponto em pleno Século XXI, sem um parque industrial moderno, sem desenvolvimento, sem as ferrovias, sem uma agricultura forte e dinâmica e resistindo ainda graças ao comércio e ao setor de serviços.

Nos últimos trinta anos a cidade vem patinando, escorregando para trás em movimentos circulares, mas sem capacidade de se reerguer, como se estivesse sendo sugada por um grande ímã embaixo de seus limites. A cidade de Bauru parece estar presa a uma armadilha de um interminável show circense do “Globo da Morte”, no qual os atores (políticos e empresários), cada vez mais exaustos, voltam à cena para mais um giro, numa dança tediosa e imutável.

Foi se o tempo das grandes conquistas, como a construção de Hospitais, Campus da Unesp e duplicação da Rodovia Mal. Rondon. Hoje um mero e simples prolongamento de avenida é motivo de festa por parte dos políticos e de pequena parcela da sociedade.

O déficit habitacional gira em torno de 25 mil residências, o que não é pouco numa cidade que possui uma autarquia (Cohab) que não constrói nada há décadas e tem uma dívida milionária em litígio, além de ter sido palco recente de uma operação (João de Barro) do GAECO que descobriu fraudes milionárias da ordem de R$ 57 milhões desviados pelo seu ex-presidente em conluio com gente que ainda permanece protegida pelo segredo de justiça. O prejuízo da cidade foi gigante, sem limites, tanto financeiramente como moralmente.

A rede de distribuição de água feita pela autarquia do DAE depende do Rio Batalha e é realizado numa Estação de Tratamento antiga, quase obsoleta. Os períodos de estiagem cada vez maiores fazem 40% da população de 386 mil habitantes terem calafrios. A mesma autarquia cabe a coleta de esgotos da cidade que recebeu a fundo perdido R$ 129 milhões para a construção de uma Usina de Tratamento de Esgotos em 2015, cinco anos depois, ainda não foi concluída. Essa situação além de manter o esgoto de toda cidade sendo jogado no Rio Tietê, afasta investimentos e contribui para a manutenção da cidade com IDH baixo.

A saúde que depende do Hospital Regional (Estadual) atende pacientes de diversas cidades da região, vivendo um drama sem fim, com o déficit de leitos hospitalares e de UTIs que o Estado não revolve há muitos anos. Realizar um exame de qualquer especialidade é sinônimo de espera de ao menos dois anos para os pacientes do SUS. O governo do Estado nada faz além de contribuir com o caos, pois fechou em 2017 o Hospital Manoel de Abreu para uma suposta reforma, algo que decorridos três anos ainda não aconteceu.

A cidade não possui rede informatizada para os serviços de saúde, medicamentos e afins. Tudo funciona sem que haja controle que possibilitem aos servidores, médicos e usuários terem respostas rápidas para suas necessidades. Pensar num APP que facilite a marcação de consultas e a busca por remédios nem em sonho.

O asfalto que já foi utilizado em campanhas eleitorais pelo atual prefeito e seus antecessores, nunca chega aos bairros mais distantes. As grandes avenidas que cortam o município com fluxo intenso de veículo, ônibus e caminhões, estão sempre aguardando manutenção, duplicação e iluminação decente. Por falar em iluminação, a cidade é uma das mais mal iluminadas do Estado. A CPFL que já foi uma estatal, depois de privatizada abandonou a iluminação pública. As lâmpadas antigas não servem para iluminar nem a casa da dinda ou da luz vermelha como eram chamadas antigamente. Nem prefeitura, nem CPFL, respondem do porquê dessa situação vergonhosa que coloca em risco a vida dos munícipes, que pagam impostos em dia.

De 1990 até hoje a cidade teve por conta das reeleições apenas oito prefeitos eleitos:

01/01/1989 a 31/12/1992 - Antônio Izzo Filho.

01/01/1993 a 31/12/1996 - Antônio Tidei de Lima.

01/01/1997 a 27/08/1998 - Antônio Izzo Filho – (Cassado).

27/08/1998 a 02/12/1998 - Assumiu o Vice Nilson Costa.

02/12/1998 a 03/02/1999 - Antônio Izzo Filho reassume mediante liminar. Em seguida, cai a liminar e ele é preso.

03/02/99 a 31/12/2000 - Nilson Costa reassume mediante liminar.

01/01/2001 a 20/09/2003 - Nilson Costa – (Cassado pela da Justiça)

20/09/2003 a 13/10/2003 - Assume o vice Dudu Ranieri.

13/10/2003 a 31/12/2004 - Nilson Costa reassume mediante liminar.

01/01/2005 a 31/12/2008 - Tuga Angerami.

01/01/2009 a 31/12/2016 - Rodrigo Agostinho.

01/01/2017 a 31/12/2020 - Clodoaldo Gazzeta.

01/01/2019 a 31/12/2024 - Suellen Rosim

 A turbulência é notória na vida pública da cidade, com cassações, retornos, liminares e prisão de prefeito. Isso tudo influencia se somarmos ao fato de que neste período a cidade andou para trás. A administração pública se comportou como se estivesse num atoleiro ou num campo de areia movediça. O poder é concentrado nas mãos de poucos empresários, assim como os donos da riqueza. Poucas famílias detêm mais de 90% do PIB da cidade, que sofre com a desigualdade social e com o fato de que esta elite não permite o desenvolvimento da cidade. Colaboram com a fuga das grandes empresas e impedem que novos negócios se abram na cidade. Uma das teses muito ventiladas na cidade é de que os empresários locais não querem grandes indústrias com medo de que os salários pagos por estas entrem em choque com a miséria que destinam aos seus colaboradores. Essa elite se comporta como se fossem os “kennedys’ de Bauru, um patriarcado que pensa exclusivamente em seus umbigos, em seus negócios e nada mais. São extremamente conservadores no que tange à política e aos seus negócios. Isso prejudica e retira da cidade a possibilidade de nos transformarmos numa grande São José do Rio Preto, numa Maringá ou qualquer outra cidade progressista.

A população precisa acordar, não apenas votando com seriedade, mas sim, cobrando resultados efetivamente a gestão inteira, por mudanças, por promessas de campanha e pelo cumprimento exato daquilo que foi proposto no caderno de realizações de cada candidato eleito na cidade. É preciso pôr fim aos cargos de confiança que geram despesas, injustiças e dependência política, visto que vereadores indicam seus afilhados aos cargos e depois ficam nas mãos do prefeito.

É preciso cobrar a reestruturação das autarquias, com o fechamento da Cohab em definitivo. Da modernização da Emdurb que trata de assuntos por demais importantes na cidade e nada faz para administrá-los com zelo e eficiência, como, por exemplo, o Tratamento do Lixo. O DAE, que presta serviço caro, ineficiente e precisa ter de uma vez por todas uma discussão sobre seu destino – Modernizar a autarquia ou privatizá-la?

Cabe ao povo pressionar e exigir dessa gente, pois se forem esperar que eles o façam, teremos apenas despesas, prejuízos e insatisfação. A cidade e os recursos são do povo, cabe ao povo então fiscalizar, cobrar e exigir.

Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pela forma isenta mas realista do caos que deixaram Bauru. Esta eleição tem que ser um marco divisorio de sua história
Política tem que ser tratada com seriedade e pensando no bem comum e não em troca de moeda para interesses pessoais e, o pior, obscuros e escusos. Bons tempos em que a Batra pôs em prática, discursos embasados só em palavras sem compretimento algum. Caro Rafael, conte comigo sempre nessa luta árdua e sem fins lucrativos, onde os valores da boa índole e o patrimônio público está em jogo. Chega de balelas. Quem não tem competência que não se instale já diz a máxima popular.
Sérgio Purini.