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19 de outubro de 2020

A inacreditável política de estoques de Paulo Guedes!

Mesmo sem o Imposto de Importação, o produto importado sempre será mais caro do que o exportado devido ao fator frete. Para o produtor de Mato Grosso vender para São Paulo, paga apenas um transporte regional. Para exportar, tem que atravessar o oceano.

Foto Reprodução - Abracomex

Há apenas uma dúvida em relação ao Ministro da Economia Paulo Guedes: se ele permaneceu despreparado por nunca ter deixado de ser ideológico; ou se permaneceu preso aos slogans ideológicos dos anos 70 pelo fato de nunca ter se preparado para conhecer a economia. O fato é que nunca conseguiu ir além dos aspectos meramente fiscais. É de uma ignorância paquidérmica em relação a aspectos comezinhos de políticas públicas.

É o caso da política de abastecimento do país. Por questões fiscais, Guedes acabou com a política de estoques reguladores. Quando explodiu a pandemia, países mais responsáveis seguraram as exportações de alimentos. As cotações internacionais aumentaram. Como o câmbio também explodiu, os preços finais das commodities, em reais, aumentaram duplamente, pelo aumento dos preços em dólares e pelo aumento do preço do dólar.

Imagine o seguinte:

Determinada cotação de commodity é de US$ 100,00.

O dólar está a R$ 4,00.

A cotação em reais será de R$ 400,00 (4,00 x 100,00).

O frete será de US$ 10,00.

Lucro = (Cotação – Frete) x US$

Lucro = (US$ 100 – US$ 10) x R$ 4,00 = R$ 360,00

Este seria o preço a balizar o mercado interno.

Imagine, agora, que a cotação aumentou 10% (foi para US$ 110,00), o dólar foi para R$ 5,50 e o frete ficou em US$ 10,00.

Novo lucro = (US$ 110 – US$ 10) x R$ 5,50 = R$ 550,00, uma alta de 53%.

O caminho natural seria impor cotas de exportação ou então um imposto de exportação de, digamos, 20%. Em vez de R$ 550,00, o exportador receberia R$ 440,00, ainda assim tendo um ganho de 22% sobre o período anterior. Mas esse seria o preço base para o mercado interno.

Mas Guedes não quer mexer no lucro do agronegócio. O que faz, então? Autoriza a importação dos produtos de maior impacto na inflação sem imposto de importação. Qual será o resultado? Zero.

Vamos comparar o preço do produto importado com o produto exportado.

No caso do exportado, o preço do frete é descontado do valor a receber pela exportação.

Produto exportado = Cotação internacional x cotação do dólar – frete.

No caso do produto importado, é o oposto

Produto importado = Cotação internacional x cotação do dólar + frete + Imposto de Importação.

Ou seja, mesmo sem o Imposto de Importação, o produto importado sempre será mais caro do que o exportado devido ao fator frete. Para o produtor de Mato Grosso vender para São Paulo, paga apenas um transporte regional. Para exportar, tem que atravessar o oceano.

Mas suponha que alguma trading encontre um produto mais barato do que o nacional exportado? Ela jamais trará para o país, porque será mais lucrativo vender imediatamente para mercados próximos, sem o custo do frete interoceânico.

Este é o resultado final de um Ministro sem noção. Bastaria um mero exercício de lógica para constatar a inutilidade da redução dos impostos de importação. Eles só servem para o caso de escassez de produtos; jamais para segurar preços de produtos com cotação internacional.

Aqui, alguns exemplos do peso das importações de alguns produtos em relação ao que é exportado: irrelevante. 




Autor: Luis Nassif - GGN

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