Mesmo sem o Imposto de Importação, o produto importado sempre será mais caro do que o exportado devido ao fator frete. Para o produtor de Mato Grosso vender para São Paulo, paga apenas um transporte regional. Para exportar, tem que atravessar o oceano.
Foto Reprodução - Abracomex
Há apenas uma dúvida em relação ao Ministro da Economia Paulo Guedes: se ele permaneceu despreparado por nunca ter deixado de ser ideológico; ou se permaneceu preso aos slogans ideológicos dos anos 70 pelo fato de nunca ter se preparado para conhecer a economia. O fato é que nunca conseguiu ir além dos aspectos meramente fiscais. É de uma ignorância paquidérmica em relação a aspectos comezinhos de políticas públicas.
É o caso da política de abastecimento do país. Por questões fiscais, Guedes acabou com a política de estoques reguladores. Quando explodiu a pandemia, países mais responsáveis seguraram as exportações de alimentos. As cotações internacionais aumentaram. Como o câmbio também explodiu, os preços finais das commodities, em reais, aumentaram duplamente, pelo aumento dos preços em dólares e pelo aumento do preço do dólar.
Imagine o seguinte:
Determinada cotação de commodity é de US$ 100,00.
O dólar está a R$ 4,00.
A cotação em reais será de R$ 400,00 (4,00 x 100,00).
O frete será de US$ 10,00.
Lucro = (Cotação – Frete) x US$
Lucro = (US$ 100 – US$ 10) x R$ 4,00 = R$ 360,00
Este seria o preço a balizar o mercado interno.
Imagine, agora, que a cotação aumentou 10% (foi para US$ 110,00), o dólar foi para R$ 5,50 e o frete ficou em US$ 10,00.
Novo lucro = (US$ 110 – US$ 10) x R$ 5,50 = R$ 550,00, uma alta de 53%.
O caminho natural seria impor cotas de exportação ou então um imposto de exportação de, digamos, 20%. Em vez de R$ 550,00, o exportador receberia R$ 440,00, ainda assim tendo um ganho de 22% sobre o período anterior. Mas esse seria o preço base para o mercado interno.
Mas Guedes não quer mexer no lucro do agronegócio. O que faz, então? Autoriza a importação dos produtos de maior impacto na inflação sem imposto de importação. Qual será o resultado? Zero.
Vamos comparar o preço do produto importado com o produto exportado.
No caso do exportado, o preço do frete é descontado do valor a receber pela exportação.
Produto exportado = Cotação internacional x cotação do dólar – frete.
No caso do produto importado, é o oposto
Produto importado = Cotação internacional x cotação do dólar + frete + Imposto de Importação.
Ou seja, mesmo sem o Imposto de Importação, o produto importado sempre será mais caro do que o exportado devido ao fator frete. Para o produtor de Mato Grosso vender para São Paulo, paga apenas um transporte regional. Para exportar, tem que atravessar o oceano.
Mas suponha que alguma trading encontre um produto mais barato do que o nacional exportado? Ela jamais trará para o país, porque será mais lucrativo vender imediatamente para mercados próximos, sem o custo do frete interoceânico.
Este
é o resultado final de um Ministro sem noção. Bastaria um mero exercício de
lógica para constatar a inutilidade da redução dos impostos de importação. Eles
só servem para o caso de escassez de produtos; jamais para segurar preços de
produtos com cotação internacional.
Aqui, alguns exemplos do peso das importações de alguns produtos em relação ao que é exportado: irrelevante.
Autor: Luis Nassif - GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário