J. Robert Oppenheimer ficou famoso por seu remorso, ao se
dar conta dos efeitos terríveis das bombas atômicas que construíra.
J. Robert Oppenheimer foi o físico
americano que dirigiu o Projeto Manhattan, responsável pela construção das
primeiras – e únicas, até agora – bombas atômicas usadas numa guerra. Ele
também ficou famoso pelo seu ato de contrição, ao se dar conta dos efeitos
terríveis das armas cuja eficiência ele e sua equipe tinham acabado de
festejar. “Funcionaram!”, foi o grito triunfal ouvido em Los Alamos, sede do
projeto tão secreto que o mundo só ficou sabendo da sua existência quando
Hiroshima e Nagasaki já estavam arrasadas.
Depois do grito triunfal veio a tomada
de consciência do Oppenheimer, o único que se opôs à extensão do projeto para
incluir bombas de hidrogênio. Oppenheimer foi chamado a depor diante de uma
comissão do Congresso americano para explicar sua posição política, e houve até
quem o chamasse de traidor da pátria por ser contra a bomba de hidrogênio. Ele
escapou da caça às bruxas comunistas da época, mas perdeu seu acesso a
pesquisas nucleares, o que não o impediu de continuar participando ativamente
das discussões sobre a neutralidade moral da ciência, que é a grande questão da
era nuclear. Oppenheimer citou um trecho do livro sagrado Bhagavad Gita,
“eu me transformei na Morte, destruidora de mundos”, de certa maneira
convocando para sua contrição pessoal a culpa de uma geração.
Quando só uma meia dúzia de pessoas no
mundo sabia o que era o Projeto Manhattan, ele causava controvérsia e dúvidas.
Seria verdade que um programa nuclear adiantado já existia na Alemanha nazista
enquanto o projeto americano recém-começava? A misteriosa visita de um físico
alemão a um físico dinamarquês no meio da Segunda Guerra Mundial fora para
sondar o estágio em que estava o projeto americano, ou – como especulou-se
depois – o alemão teria ido propor uma espécie de aliança de consciências entre
os físicos do mundo, que se comprometeriam a não despertar o monstro nuclear? E
seria verdade que o próprio Hitler vetara a pesquisa nuclear porque achava que
física era coisa de judeu, como provava o fato de a mulher de Enrico Fermi, um
dos pais da bomba, ser judia? Fermi fugira da Itália com a mulher para Los
Alamos, Hitler ficara sem a bomba, e sobrara remorso, preconceito e contrição
para todo o mundo.
Autor: Luis Fernando Verissimo, O Estado de S. Paulo
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