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1 de dezembro de 2025

Colégios cívico-militares: A escolinha dominical do Cristofascismo.

Escola cívico militar (Foto de Marcelo Camargo da Agência Brasil).

Um processo de mutação cognitiva cuja finalidade é desumanizar crianças e adolescentes e produzir fascistas, alerta Ricardo Nêggo Tom.

O projeto de poder teocrático e extremista de direita segue avançando dentro da sociedade mundial, conceituando sociologicamente a questão. E um dos alvos principais deste roteiro macabro e globalizado, são as crianças e adolescentes. Numa espécie de paráfrase de um pedido feito por Jesus Cristo, que recomendou que deixasse que as crianças fossem até ele, os extremistas usam Jesus como fachada para o seu projeto de destruição, e desejam que as crianças vão até eles e os ajudem a construir o reino do fascismo na terra. Um reino que ao invés de jorrar leite e mel – como a terra prometida descrita na Bíblia - jorra sangue e fel por todos lados. Como antítese da Canaã próspera e abundante prometida ao povo de Israel, o mundo da extrema-direita louva a destruição, a fome e a morte.

A militarização da educação pública no Brasil atende ao objetivo principal de doutrinar mentes em formação, estimular um raciocínio voltado para o preconceito contra as chamadas minorias, e instar os recrutados a promoverem uma guerra sociocultural no país. Tomemos como exemplo um vídeo (https://x.com/lazarorosa25/status/1994739852261085541) que está circulando nas redes sociais, onde alunos de um colégio cívico-militar de Curitiba estão cantando uma música que faz apologia ao ódio e à violência contra a favela. Os chamados “cantos de guerra” comumente entoados durante treinamentos e exercícios militares, estão sendo introduzidos nas escolas para tornar lúdica a lobotomia a qual estão sendo submetidos os estudantes.

Um trecho da “canção” diz: “Homem de preto o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam o satanás. Homem de preto qual é sua missão? Entrar na favela e deixar o corpo no chão”. Aqui temos uma clara criminalização dos moradores das favelas, classificando a todos, sem exceção, como bandidos e alvos de uma perseguição institucional por parte das forças de segurança do Estado. Ao mesmo tempo, vemos um lapso de coerência na licença poética apresentada na letra da música em questão, quando um modelo de ensino que se diz alinhado a moral, a fé cristã e aos bons valores, se propõe a fazer algo que nem satanás – o inimigo imaginário da fé cristã – jamais faria e ficaria assustado se visse alguém fazer. Como diria aquela música dos Engenheiros do Hawaii: “o fascismo é fascinante e deixa gente ignorante fascinada”

Como uma espécie de escolinha dominical do cristofascismo, a educação cívico-militar não apenas suprime a autonomia e a liberdade de pensamento e existência dos alunos, mas sobretudo, produz seres humanos que irão suprimir a autonomia e a liberdade de pensamento e existência dos outros. E isto será feito por meios opressores, violentos e até letais, como sugere a canção de guerra citada anteriormente. Não há ineditismo em tal projeto, mas apenas a repetição de uma tragédia como farsa. A Juventude Hitlerista foi um exemplo, quando crianças e jovens alemães, entre 6 e 18 anos de idade, eram obrigados a se alistar na instituição para serem treinados de acordo com os interesses nazistas. Assim como Hitler, os extremistas brasileiros sabem que o modelo de escola pública no país não é capaz de “fascistizar” a juventude. Por isso, é preciso propor novos modelos educacionais que favoreçam seus planos, sob a égide da qualificação do ensino.

Eu consideraria que estamos diante de uma tentativa de impor um modelo cívico-teocrático-militar, onde a linguagem religiosa cristã é introduzida para dar mais legitimidade ao projeto. Deus como a base da educação, o Estado como seu representante legítimo, e os alunos como instrumentos de sua vontade e futuros soldados que defendem a manutenção da ordem teocrática-militar dentro de uma “nova” civilização. A invasão neopentecostal nas escolas e universidades do país, promovendo intervalos bíblicos e supostos cultos de avivamento e conversão onde alunos entregam suas almas para Jesus, é parte de um roteiro que conta com a colaboração de muitos representantes do Estado. Inclusive, do campo progressista. Uma farsa que nos levará a uma tragédia social que pode se configurar como o nosso apocalipse particular. Um conto da aia na vida real que causará muita dor e ranger de dentes.

Uma das estratégias utilizadas para rebater os críticos desse projeto cristofascista, é dizer que aqueles que se opõem são do mal, pertencem ao diabo e que estão incomodados com a presença de Jesus na educação brasileira. Nada é de novo no front, mas é algo que ainda conta com muito apelo popular por invocar o cristianismo como defensor da ideia. Para potencializar ainda mais o projeto e atrair mais adeptos e simpatizantes, artistas e personalidades estão sendo recrutados, ou se permitindo recrutar, para fortalecer o discurso de transformação social através da conversão ao “reino de Deus”. As atividades dos “Legendários das montanhas” – onde artistas e empresários se submetem a uma espécie de treinamento militar para se reconectarem com a sua essência divinamente masculina – são um exemplo. Sem falar na adesão de artistas completamente esquecidos pelo público, que resolverem aparecer transtornados, digo, transformados, e defendendo fascistas como se estivessem produzindo arte.

Quando a teóloga alemã Dorothee Sölle cunhou o termo “cristofascismo”, ela chamava a atenção para o revisionismo evangélico que os seus artífices fariam para tentar desconstruir a ideia de um Cristo voltado para a promoção da igualdade e defesa dos pobres e marginalizados. Até porque, instituído como um símbolo de poder e realeza divina e terrena num mundo injusto e desigual, Jesus, o “rei dos reis”, não poderia estar ao lado dos menos favorecidos. Ele seria um justo juiz. E a sua justiça, dentro de uma visão cristofascista, consiste em naturalizar as desigualdades e os preconceitos, legitimar a violência imposta contra a “rebeldia” daqueles que lutam contra eles e santificar aqueles que reprimem toda e qualquer tentativa de tornar o mundo um ambiente mais igual, mais justo e mais fraterno.

Quando o deputado Nikolas Ferreira declarou que “Jesus não veio acabar com a pobreza, ele veio pagar um preço que ninguém poderia pagar”, e Bolsonaro afirmou que “Jesus Cristo não comprou uma pistola porque não tinha naquela época", eles estavam propagando uma fé cristofascista que diviniza o ser humano e humaniza o ser divino à imagem e semelhança do transmissor da mensagem. Ambos defendem a morte, seja como salvação religiosa, seja como salvação social. A ideia de que foi preciso Jesus morrer em alto grau de dor e sofrimento para que a humanidade tivesse vida eterna, e que ele teria uma arma para se defender dos seus perseguidores à época, sugere que devemos entregar a nossa vida pelo “projeto de salvação”, e matar todos aqueles que se opõe a ele para fazer a vontade de Deus.

Uma lógica fascista alicerçada em princípios ideológicos e estratégias de comunicação que sustentam e defendem sistemas políticos autoritários e ultranacionalistas, suprimindo subliminarmente o conceito de democracia e os direitos individuais. Uma essência extremista que reside na primazia absoluta do Estado sobre o indivíduo, na crença em hierarquias naturais e na designação de homens escolhidos por Deus para fazer a sua vontade na terra e na justificação da violência para atingir objetivos políticos a pretexto da defesa dos interesses nacionais. Nesta lógica prevalece o culto a um líder, a padronização do comportamento e a glorificação da guerra e da força e estratégia militares como meios para se promover a grandeza da nação. O nosso conto da aia nunca esteve tão próximo da materialização. 

Autor: Ricardo Nêggo Tom - Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247. Publicado no site Brasil 247.

A vingança histórica com Jurubeba safra 1964

"É a volta do cipó de aroeira/ no lombo de quem mandou dar", como cantaria Geraldo Vandré em outros tempos.

Há o tempo do champanhe… e o tempo da Justiça. Demorou, mas que agora paguem pelo que ficou barato na história pelo menos desde 1964.“É a volta do cipó de aroeira/ No lombo de quem mandou dar”, canta Vandré na vitrola.

Enfim, o Brasil colocou o ex-presidente Bolsonaro na prisão por causa da trama golpista. Generais, acredite, também seguiram o mesmo destino. Desconfiava que apenas os lambaris seriam condenados. Qual o quê. Errei feio, ainda bem.

No sextou do ICL Notícias 2ª Edição, celebramos os avanços da política e da história, não com champanhe, porém com jurubeba. É um modo irônico de abraçar o nacional popular. Além de tirar uma buena onda com os bacanas.

Por isso, aproveito aqui o espaço crônico para exaltar a bebida oficial do nosso programa. Deixo também uma espécie de bula da enologia selvagem para quem ainda desconhece o caráter especial deste vigoroso licor dos deuses da Caatinga.

Se no vinho metido está a verdade (In Vino Veritas), In Jurubeba Fabulari, ou seja, na jurubeba está o poder de fabular, imaginar histórias, fazer viagens quixotescas e praticar a arte picaresca.

Meu “Sideways” particular tem como destino Aratu, na Bahia. Aqui encontramos a origem do vinho macerado da Solanum paniculatum, a rica fruta conhecida vulgarmente como jurubeba, a pinot noir de quem nasceu para beber de verdade, não para cheirar a rolha e degustar como uma freira.

Mal você abre a tampinha de lata reciclada – é mais ecológico, a cortiça vive uma crise na Europa ­— e já percebe se tratar de um vinho compacto, com um bloco de aromas em leque perfumando o ambiente, mesmo o pior dos pés-sujos da Lapa de Baixo.

De perfil aromático limpo e complexo – este enólogo também não trabalha com amadeirados e quetais —, o Jurubeba Leão do Norte guarda a essência de extratos de cravo, canela, quássia, boldo e genciana. O tanino de caráter rijo junta-se ao caramelo de milho e dá tintas finais à uma coloração entre o rubi e frutas negras do semiárido -com halo aquoso ainda em formação.

Repare no sabor fugidio do jatobá e da flor de muçambê, com florais de mulungu e pau d´arco ao longe. No todo, o equilíbrio chama a atenção. E de que mais precisamos, amigo da esbórnia, do que este suposto equilíbrio no momento da volta ao lar doce lar?!

O vinho de jurubeba harmoniza bem com a gastronomia de sustança. Pratos sugeridos: mocotó, mão de vaca, chambaril, buchada de bode e caprinos no geral, javali, teju etc.

Podemos aplicar a jurubeba o mesmo impressionismo paradoxal que o renomado crítico Robert Parker usou para definir o Romanée-Conti: “Aromas celestiais e surreais…”. Seja lá que diabo ele quis dizer com essa xaropada de adjetivos.

Saúde! Porque se os outros vinhos ajudam o coração, a jurubeba é reconhecido na medicina popular como um fortificante da cintura para baixo. Afrodisíaco no último.

Até a próxima visita às adegas e aos alambiques mais roots do país. Mande também a sua sugestão de nossos melhores licores.

Obrigado pela leitura. Até a próxima sexta. E fica o Gil e o Jorge Ben girando com o disco clássico da dupla: “Juru juru juru juru juru jurubeba/ Beba beba beba beba beba beba juru Jurubeba”.

Autor: Xico Sá - Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

Hugo Motta desafia STF para proteger Ramagem.

STF determinou a cassação de Ramagem, mas Motta afirmou que ‘ainda vai consultar o departamento jurídico’ da Casa. A condenação de Bolsonaro e de sua gangue golpista, entre eles Alexandre Ramagem, foi um acontecimento grandioso para o país. Os militares ameaçam a democracia desde a República, mas nunca sofreram qualquer punição. A prisão dos bandidos de farda é um feito inédito e temos muito o que comemorar. Diferente dos EUA, que absolveu um líder golpista e permitiu que ele voltasse ao poder para um segundo mandato ainda mais autoritário, a democracia brasileira tornou o seu tirano inelegível e o colocou na cadeia. Não é pouca coisa.

Mas o golpismo continua à espreita e convém manter-se vigilante. A fuga de Alexandre Ramagem, às vésperas de ser condenado a 16 anos de prisão, é desmoralizante para o STF, que agora assiste a um réu condenado atacando a justiça brasileira do exterior. É vergonhoso também para a Polícia Federal, que permitiu que um criminoso dessa magnitude fugisse do país mesmo com passaporte cancelado. Nos EUA, Ramagem passou a desafiar Alexandre de Moraes — a quem chama de “violador de direitos humanos” e “tirano de toga” — e a pedir sua extradição. Ele alega estar seguro nos EUA pois tem a “anuência” do governo de Donald Trump. É vexatório para o estado brasileiro ver um criminoso desse quilate escapar para o exterior e engrossar a campanha internacional de difamação da democracia brasileira, iniciada por Eduardo Bolsonaro.  

Ramagem é potencialmente mais perigoso

Ramagem não foi qualquer um na trama golpista. Ele usou a estrutura da Abin para monitorar clandestinamente adversários políticos do bolsonarismo e dar apoio a tentativas de ruptura institucional. Durante 3 anos do mandato de Jair Bolsonaro, ele teve acessos a informações do interesse da soberania nacional brasileira.
Sem nenhum freio moral, Ramagem usou e abusou do aparato de inteligência do estado. A Abin foi transformada em um órgão a serviço do bolsonarismo. Montou-se ali uma estrutura de espionagem da qual Ramagem era o líder operacional. Segundo a PF, quase 2 mil pessoas consideradas inimigas do bolsonarismo foram monitoradas pelo software de espionagem israelense FirstMile.
O programa foi acessado mais de 30 mil vezes contra jornalistas, políticos, advogados, militantes, policiais, ministros do STF e quem mais estivesse na mira do bolsonarismo. O delegado do caso Marielle e procuradores que atuaram contra Bolsonaro tiveram seus passos monitorados. Até mesmo alguns aliados foram investigados pelo esquema de Ramagem.

Esse é o homem que fugiu para os EUA e diz estar agora sob proteção do governo Trump. No Brasil, ele usou essas informações obtidas de forma ilegal para auxiliar os ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônica. Agora, pode usá-las em favor de Donald Trump em troca de proteção. Um criminoso foragido, munido de segredos de estado, está em solo americano em um momento turbulento das relações diplomáticas entre os dois países.
Segundo um servidor da Abin ouvido pelo ICL Notícias, Ramagem é, entre os condenados que fugiram, potencialmente o mais perigoso. “É quem teve maior acesso a documentos restritos, materiais sigilosos e contatos sensíveis. Participou de viagens institucionais e acompanhou de perto informações estratégicas. Por isso, o risco representado por ele é muito maior”, revelou o servidor. Não nos esqueçamos que, ao sair da Abin em 2022, Ramagem roubou um notebook e um celular que pertenciam à agência e os levou para sua casa.

Não podemos confiar em Trump

Recentemente, os ataques do governo americano contra a soberania brasileira arrefeceram, mas a imprevisibilidade de Trump pode mudar tudo outra vez. Se isso acontecer, o presidente americano terá ao seu lado um aliado valiosíssimo. Conforme lembrou o jornalista Octávio Guedes da Globo News, Ramagem participou da Operação Paraguai, criada para investigar suspeitas de que o governo Trump estava por trás de uma campanha liderada por ONGs para que aquele país parasse de vender energia excedente da hidrelétrica de Itaipu para o Brasil.
Em maio deste ano, o secretário americano Marco Rubio demonstrou publicamente o interesse dos EUA em comprar energia de Itaipu para alimentar os data centers de inteligência artificial. Agora, Ramagem está lá balançando o rabinho pro Tio Sam. O apátrida que se diz patriota não hesitará em municiar o presidente americano em troca de proteção. Esse é o tamanho da brecha dada pelo STF e pela PF ao permitir a fuga do criminoso. O pedido de extradição do deputado cairá nas mãos do próprio Marco Rubio e se tornará mais um problema com que a diplomacia brasileira terá que lidar. 

A Câmara dos Deputados até agora tem sido uma mãe com o criminoso. Desde que fugiu, Ramagem participou de 24 sessões e conseguiu votar remotamente em 132 propostas. Até a última terça-feira, o criminoso tinha direito a voto na Câmara. É um acinte à democracia brasileira que só é possível graças à leniência e à frouxidão do presidente Hugo Motta.

Chegou-se ao cúmulo do foragido apresentar à Câmara pedidos de reembolso de gastos em postos de gasolina no Rio de Janeiro enquanto está nos EUA. A verba parlamentar foi usada por terceiros para o abastecimento de carros, o que é proibido pelo regimento da casa. Ou seja, o criminoso tentou dar um golpe na democracia, fugiu para outro país e agora manda as notas para a “casa do povo” para cobrir seus gastos com gasolina. O golpista continua desfrutando de salário e das verbas do gabinete. 

Hugo Motta trata decisão do STF com desdém

Depois da fuga, o STF determinou a cassação do deputado, mas Motta continua se fazendo de louco. Ele afirmou que “ainda vai consultar o departamento jurídico” da Casa, antes de qualquer decisão relativa à cassação do mandato de Ramagem. O presidente da Câmara está tratando uma determinação do STF com desdém. A cassação imediata do mandato de Ramagem é uma obrigação legal. Hugo Motta está desafiando o STF ao tratar a determinação como um pedido passível de aval do departamento jurídico da Câmara. 

Colocar Jair Bolsonaro e seus capangas golpistas na cadeia foi um avanço enorme e histórico para a democracia brasileira, mas ainda há muito o que se fazer. Deixar que Ramagem volte a conspirar contra o país depois de ser condenado por participar de uma tentativa de golpe é um erro grave demais para ser ignorado. STF e PF devem ser louvados pela ação contra o golpismo, mas um erro desse naipe pode colocar tudo a perder no futuro. Já do presidente Hugo Motta não se pode esperar nada mesmo. Se dependesse dele, Eduardo Bolsonaro, Zambelli e Ramagem poderiam formar a “bancada dos fugitivos” no exterior.  

Autor: João Filho – Publicado no Site Intercept_Brasil.

Alcolumbre, o Reizinho candidato a dono do Brasil, por Luís Nassif.

 

Não há poder político que possa manter incólume uma figura com a ficha de Alcolumbre. Que o STF, a PGR e a PF cumpram seu dever. O país vive de humilhação em humilhação. Poucas tem o condão de desmoralizar mais ainda a autoestima nacional do que o poder político de Davi Alcolumbre, presidente do Senado.

É inacreditável que o brucutu, sem limites, sem noção de qualquer institucionalidade, pode se arvorar no poder de indicar Ministro do Supremo Tribunal Federal ou de propor pautas bombas. Vamos a um pequeno histórico político do nosso Reizinho, o político que sequestrou o país:

1. A super rachadinha de RF$ 2 milhões

Segundo uma reportagem da Veja, seis mulheres foram contratadas no gabinete de Alcolumbre como assessoras, com salários entre R$ 4 mil e R$ 14 mil, mas receberam apenas pequena fração, cedendo os cartões e senhas bancárias a pessoas de confiança. A matéria aponta que o esquema teria durado cerca de cinco anos. As beneficiárias afirmam nunca ter trabalhado de fato e recebiam simbólica “ajuda de custo” — enquanto o restante era sacado pelo gabinete.

Parte do suposto esquema coincidiu com a ocupação da presidência do Congresso por ele — quando exercia grande influência institucional.  Ele nega envolvimento pessoal, afirma ser vítima de “campanha difamatória” e diz que contratações eram responsabilidade de seu então chefe de gabinete. Algumas ex-assessoras entraram com ações judiciais pedindo indenização, pagamento de direitos, verbas rescisórias etc. (detalhe citado na reportagem de 2021). 

2. As emendas e as suspeitas de contrabando

1. O Programa Mais Visão e as Emendas Parlamentares – Entre 2023 e 2024, Alcolumbre destinou R$ 15 milhões em emendas parlamentares para a Secretaria de Saúde do Amapá, que contratou empresas para executar o Programa Mais Visão. A própria empresa Saúde Link afirma em seu site que o Programa teve início em 2021 com a iniciativa do senador Davi Alcolumbre em parceria com o Governo do Estado do Amapá.

2. A Tragédia Sanitária – Em 4 de setembro de 2023, durante um mutirão de cirurgias de catarata, 104 dos 141 pacientes operados contraíram endoftalmite, uma grave infecção ocular. Pelo menos 40 pacientes tiveram complicações graves, como olhos perfurados, com indicação de transplante de córnea. Alguns casos resultaram na perda irreversível da visão e até na remoção do globo ocular. O fungo Fusarium foi identificado como causador da infecção, e o programa foi suspenso em 6 de outubro de 2023. O Ministério Público do Amapá recomendou a suspensão do termo de fomento com o Centro Capuchinhos, destacando que o espaço físico não possuía condições sanitárias nem licenças para funcionamento.

3. A Aeronave PR-MGD e a Apreensão por Contrabando – Em 22 de julho de 2022, um jatinho da Saúde Link, modelo Hawker Beechcraft 400A com prefixo PR-MGD, foi apreendido pela Polícia Federal em Ponta Porã (MS) na fronteira com o Paraguai. A ocorrência registrou apreensão de mercadoria de origem estrangeira no valor estimado de R$ 50 mil, além de R$ 30 mil em espécie e US$ 20 mil (cerca de R$ 100 mil). O MPF propôs como pena o pagamento de 10 salários-mínimos (cerca de R$ 13,2 mil) ao dono da empresa, Luciano André Goulart, que concordou e o jatinho foi liberado.

4. Uso do Jatinho e Investigação Eleitoral – Documentos da FAB mostram que uma aeronave da Saúde Link (bimotor Raytheon BE58, prefixo PR-BDC) pousou em 16 de agosto de 2022 no Hangar Comandante Salomão Alcolumbre, aeródromo da família do senador na zona rural de Macapá, retornando no dia seguinte. A aeronave apreendida em julho (PR-MGD) foi a mesma registrada pela FAB em Macapá um mês depois, em agosto de 2022, durante a campanha de reeleição de Alcolumbre. O TRE-AP investiga se o senador usou jatos particulares da Saúde Link para deslocamentos entre Brasília e o Amapá durante a campanha eleitoral de 2022. Segundo o processo, há pedido de cassação do mandato do senador.

5. Desdobramentos Processuais – A empresa Saúde Link informou à Justiça que não possui lista de passageiros das aeronaves no período investigado, argumentando que aviões particulares não estão sujeitos a requisitos de documentação e registro de passageiros da Anac. A defesa de Alcolumbre argumenta falta de provas. O MPF apura possíveis atos de improbidade administrativa em relação ao programa Mais Visão, em procedimento sigiloso que segue em curso.

Informações extraoficiais dão conta de que o verdadeiro proprietário do avião seria o próprio Alcolumbre. Em suas viagens políticas, um dos passageiros preferenciais era o senador Randolphe Rodrigues, principal articulador de sua candidatura à presidência do Senado, nos tempos em que trabalhava pela Lava Jato. Atualmente é líder do PT.

O caso expõe uma teia de relações entre:

• Emendas parlamentares bilionárias direcionadas a programas de saúde

• Uma empresa privada (Saúde Link) beneficiada por essas verbas

• Uma tragédia sanitária com mais de 100 vítimas

• Uso de aeronaves da empresa pelo parlamentar que direcionou os recursos

• Atividades ilícitas envolvendo a mesma aeronave (contrabando). As investigações seguem em andamento tanto na esfera da improbidade administrativa (MPF) quanto na esfera eleitoral (TRE-AP), enquanto Alcolumbre assumiu a presidência do Senado Federal, tornando-se uma das figuras políticas mais poderosas do país.

3. A família Alcolumbre e o histórico de grilarem de terras

A família se estabeleceu no Amapá há cerca de 130 anos — ou seja, ao longo de várias gerações já se enraizou profundamente na região. 

Os Alcolumbre teriam sido dos primeiros a substituir o sistema de trocas por comércio mercantil, na época da borracha. Com o tempo, diversificaram: postos de combustíveis, comércio, mídia e posse de terras figuram entre os seus ativos. 

Um dos episódios mais graves atribuídos à família data de 1981: segundo relatório da Polícia Federal citado num dossiê recente, dois membros da família (irmãos chamados Salomão Alcolumbre e Alberto Alcolumbre) teriam figurado entre suspeitos de comandar um esquema de contrabando de minérios (ouro e outros metais) no então Território Federal do Amapá — transportando ilegalmente minérios em escala, por aviões particulares, para portos e capitais sem fiscalização. 

A grilagem de terras públicas é outra mancha. A família chegou a declarar à Justiça Eleitoral a posse de áreas pertencentes à União — em especial terras da reserva do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que deveriam ser destinadas a assentamentos de camponeses. Um primo de Davi, “Salomãozinho”, foi candidato a suplente ao Senado em 2014 e declarou como bens essas áreas. 

Essas propriedades foram alvo de embargo ambiental: uma área de 108 hectares — conhecida como “Fazenda São Miguel” — foi embargada a partir de 2016 por ordem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por devastação de vegetação nativa. A família teria criado um rebanho de búfalos na área e construído benfeitorias, apesar de o local compor área pública, o que agrava a acusação.

As multas ambientais acumuladas pelos Alcolumbre superam R$ 1 milhão — sinal de múltiplas infrações ambientais registradas ao longo de anos. 

4. Os R$ 500 mil do irmão de Alcolumbre

Três anos atrás, a Polícia Militar de São Paulo parou um carro e encontrou nele R$ 500 mil. O carro pertencia ao irmão de Alcolumbre.

Conclusão

Está em pleno curso a disputa entre a institucionalidade brasileira e o crime organizado. É uma batalha feroz, onde está em jogo o próprio futuro do país, como Nação.

Não há poder político que possa manter incólume uma figura com a ficha de Alcolumbre. O país espera que o Supremo, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal cumpram com suas responsabilidades. 

Autor: Luis Nassif – Publicado no Site GGN.