Fernando Haddad e Lula (Foto de Ricardo Stuckert - PR).
Os analistas econômicos da mídia não suportam
ver as classes mais baixas consumindo mais.
“O mercado” não liga muito para a economia real, aquela que considera emprego, renda, consumo, produção, crescimento. Esse ente abrigado em arranha-céus envidraçados ocupa-se mais de especular com câmbio, ações da Bolsa e coisa e tal, lembrando sempre de se apropriar da dívida pública e bradar por austeridade, mesmo ciente de que não existe a menor possibilidade de calote por parte do governo.
Os números da economia brasileira divulgados na sexta-feira 7 pelo IBGE seriam comemorados em qualquer país do mundo. Por aqui, os empregados de “o mercado” incrustados na imprensa já correram para alertar que “neste ano, o crescimento irá desacelerar” e que o avanço ora registrado está “acima do potencial brasileiro”. Gostam, os porta-vozes da finança, de apontar os “riscos” decorrentes do consumo popular, de a economia rodar, da produção aumentar e de o país crescer.
Para os que enxergam a ciência econômica como um compilado de conhecimento humano cuja aplicação deve servir para melhorar a vida das pessoas, os resultados do Brasil em 2024 são alvissareiros. O PIB cresceu 3,4%, dentro do “esperado pelos analistas”.
Chama à atenção a produção industrial, que na História recente patinava ou regredia. Em relação a 2023, a indústria cresceu 3,3%. Setorialmente, a construção cresceu 4,3%; a indústria de transformação, 3,8%; e a produção de distribuição de eletricidade, gás e água, 3,6%.
A decepção fica por conta da agropecuária, que, prejudicada por questões climáticas, caiu 3,2%. O avanço do setor de serviços foi de 3,7%, com informação e comunicação saltando 6,2% e o comércio atacadista e varejista, 3,8%. Já o consumo das famílias - este, um horror para “o mercado” toda vez que cresce - saltou 4,8%, com melhora do mercado de trabalho (crescimento da massa salarial real) e medidas governamentais de transferência de renda.
Os analistas econômicos da mídia não suportam ver as classes mais baixas consumindo mais, especialmente quando passam a morar e comer melhor graças a incentivos do governo - “gastança”, alegam. São os mesmos que reclamam do baixo desemprego, hoje em 6,2%, defendendo uma teratológica Taxa Neutra de Desemprego, abaixo da qual criar-se-ia um ambiente inflacionário insustentável. Claro, para o grupelho não importa se emprego significa sobrevivência para muita gente.
Como já escrevemos neste espaço, a lógica dos idólatras da austeridade é que emprego gera consumo e pressiona a inflação, pouco ou nada importando se famílias, por exemplo, passam a se alimentar melhor. A observância da TND, a impedir de alguma forma a queda do desemprego a partir de certo nível, manteria a inflação controlada.
Cruel, no mínimo.
Autor: Paulo Henrique Arantes: Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/
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