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3 de setembro de 2024

Cores!

Queima o país em incêndios criminosos. O lindo pôr do sol é retrato da poluição, o espectro de espalhamento da luz se expande porque partículas estão no ar, não o amor, como diz a letra da música de John Paul Young. E surgiu uma nova coloração vermelho alaranjada que estampou os céus, as capas de jornais e revistas e as apresentações televisivas. Bonito cenário, porém perigoso. Poucos são os fogos iniciados naturalmente, sim, porque raios que vêm da atmosfera existem, mas são raros. É o ato de riscar um palito de fósforo ou acender um isqueiro que está por trás de mais uma calamidade ambiental e respiratória. As cores, novamente eles, são fruto de transições eletrônicas, com partículas subatômicas excitadas pelo calor e devolvendo a energia obtida na forma de luzes. Sim, a química, a mais bela das ciências, tinha que estar presente. O fogo é tido e havido como elemento de limpeza e o que ele faz é transformar o exuberante verde e o colorido múltiplo de flores em cinzas, uma nefasta mescla de preto e branco. Queimadas e secura são o que resta (https://horacampinas.com.br/artigo-queimadas-e-secura-por-adilson-roberto-goncalves/)

A arte é revolucionária e, paradoxalmente, deveria incendiar a sociedade, associada à quebra de padrões, ao questionamento, à inclusão. Há, porém, uma arte patrocinada por agentes retrógrados, inexplicável idiossincrasia em primeira análise. Conservar ditames antigos não significa desprezar o novo, ao menos assim deveria ser porque a arte tem múltiplas cores. Dentre elas, nomeio a música clássica, destacando que Campinas celebra o mês Carlos Gomes a partir de primeiro de setembro. Programação muito boa (https://portalcbncampinas.com.br/2024/08/campinas-recebe-programacao-do-mes-carlos-gomes-a-partir-de-domingo/). É o tipo de arte que também pode ser instigante, desde que se aprecie conhecendo-a. Cinema é outra das artes, diretamente envolvida com as cores, reais e metafóricas. Como boa notícia da sétima arte temos que o filme "Ainda estou aqui", de Walter Salles, está no Festival de Veneza, e outros brasileiros também são destaque lá e com chances de premiação. É um grande feito! Estamos acostumados apenas a valorizar o vencedor em competições desse tipo, esquecendo o quão difícil é ser selecionado. O elenco e a história contada de Eunice e Rubem Paiva dão um toque especial e importante, em função de mais um momento de ascensão do extremismo de direita pelo qual estamos passando.

As redes sociais são mais apropriadamente chamadas de antissociais. Eu comecei no Orkut por haver grupos que realmente discutiam assuntos. Depois veio o Facebook por ser o único meio de me comunicar com alunos, pois descobri que eles não liam meus e-mails. E assim fiquei com meus 5 mil "amigos". Nem na pandemia criei vídeos para viralizar no YouTube ou investi em espaços virtuais que valorizam imagens e não os textos. Hoje, criei perfil no Instagram, sem saber por que e sem colocar fotos, o que, pelo que vi, é uma heresia. Mas como pecados são os crentes que têm, sou pio ser dar um pio. E o piado do Twitter já deixou de existir antes mesmo da guerra dos X. Ou dos xises? Qual o plural de uma letra tão singular? WhatsApp é o que me resta, torcendo para que os assuntos dos grupos fiquem ali restritos. Não é bem isso, ignaros da boa convivência insistem em enviar os demoninhos de seus candidatos (não pode ser "santinho" aquilo) em grupos supostamente culturais. Parece que todo o colorido das redes sociais está se transformando em pálidos pretos e brancos, sem destaques, sem contrastes. Reproduz a mesma estética fascista vista em outdoors de obras públicas estaduais.

Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Pesquisador da Unesp -Academia de Letras de Lorena - Academia Campineira de Letras e Artes -Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas -Instituto de Estudos Vale paraibanos - União Brasileira de Trovadores - Seção Campinas. Publicado no Blog dos Três Parágrafos.

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