Das experiências com concursos, conhecimento
detalhado é exigido e também a resposta a algumas questões na forma escrita. Na
dissertação pedem-se muitas linhas para escrever, mas, quando o assunto for
exaurido, há que se encher linguiça. Como é que, com apenas 26 letras,
conseguimos escrever tanta bobagem? Naquelas provas, o resultado tem de sair de
imediato, no tempo estipulado, usando apenas caneta preta de corpo
transparente, sem o acesso a lápis, borracha e - muito menos - o teclado de um
computador. Talvez diminui o número de besteiras ditas, mas o desafio é grande.
Sim, escrevo à moda antiga, mas como suporte, não como ação principal. Vez ou
outra alguma colunista dos jornalões relembra tempos esquecidos e aquecidos
pelas mal traçadas linhas daquela forma (e fôrma). Que lindo foi o relato de
Bia Braune em seu texto "Bem traçadas linhas", na Folha de S. Paulo
de 11/12. Ela resgatou até as cópias feitas em mimeógrafo. Mesmo com letra
muito feia e a resignação à Lima Barreto, continuo adepto do registro do
grafite sobre a celulose, repito. Mas tudo termina no digital cibernético, não
no das mãos.
As letras se juntam em palavras que buscam um
significado. Certos boatos equivocados sobre a origem de algumas delas vão e
voltam na internet. Divertidos, mas equivocados. Há alguns meses falei de um
livro muito bom que trata da origem de nossa língua como um todo, o "Latim
em pó", de Caetano Galindo, que volto a recomendar: https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/04/crimes-e-verdades.html.
Outro que semanalmente nos brinda com questões desse tipo é Sergio Rodrigues.
Em "Afinal, quem torceu o torcedor?", de 7/12, ele se propôs a
explicar a origem da palavra, desmentindo uma voz corrente que diz ser da
torcida do Fluminense a maternidade do vocábulo. Bom que haja este tipo de
esclarecimento linguístico, pois voltamos a ser bombardeados com bobagens. Mas,
para mim, torcer, no sentido de forçar uma direção, um direcionamento, é bem
mais antigo. Ou seja, torcer (ou direcionar) o desejo de vitória para um dos
times que jogam. Na mesma toada sai o derivado distorcer. Torcida vem daí, não
do ato específico de torcer mãos ou lenços. Minha opinião, consultando a sempre
lembrada Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Não fui respondido pelo
nobre colunista.
Palavras devem dizer tudo o que somos. Ou
silenciar. Silêncio que também diz muito com suas três sílabas sonantes e
evidentes. Sim, sílabas, que podem ser as gramaticais não mais aprendidas nos
bancos escolares, ou as poéticas, aprendidas na vivência da escrita dos
sentimentos mais profundos que nos inundam. A poesia está em alta, novamente,
pois até no Prêmio Jabuti o livro do ano foi "Engenheiro fantasma",
de Fabrício Corsaletti, publicado pela Companhia das Letras. Sigamos poetizando,
pois, ainda que nos queiram silenciar. Quatro versos de sete sílabas poéticas.
Eis o desafio mecânico da trova. Além disso, por óbvio, vem a poesia, a
mensagem completa, o verso final com maior ênfase e, o mais complexo, convencer
o juiz que a trova é muito boa! De qualquer forma, não somos perfeitos como
alguns se autoproclamam e estaremos na Biblioteca Municipal de Campinas neste
sábado a partir das 10 h brincando, lendo e fazendo trovas. No mesmo local, a
partir das 14 h, a chave cultural muda e teremos o encontro da Base Estelar de
Campinas, com muita discussão gostosa sobre ciência e ficção.
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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