Os comentários para este blog são liberados, sem
moderação, sem censura, mas para aparecer o nome do autor precisa haver um
registro no Gmail. A maioria não o faz e aparece como anônimo para mim e para
os demais leitores. Alguns assinam o texto junto ao comentário e fico sabendo
quem é o gentil leitor. Digo gentil porque apenas uma única vez recebi aqui
impropérios, aos quais não cabia interlocução. Tratava-se de um sabido anônimo
(ou seria sabino anódico?), que não teve a mesma coragem fora dos ditames do
espaço cibernético. Inteligência natural movida por neurônios biológicos que
comandaram nervos e músculos para digitar o infame comentário. Cito apenas como
exemplo, creio que até já esqueci o conteúdo. Aos anônimos que subscrevem
cartas, comentários e afins, agradeço e teço respostas quando pertinente.
Juntam-se àqueles anônimos de outrora que figuravam em jornais e revistas
impressos, a completar ou corrigir as notícias dadas e para as quais o editor
resolveu omitir a autoria. Já tive meu nome cortado, abreviado, fragmentado e
até modificado, com o direito a raras correções e frequentes irritações.
Foi o aniversário de Machado de Assis, em 21, e
também o do Felipe Rissato neste 26 de junho. Minha agenda na nuvem eletrônica
assim indica, pelo menos para os 5 mil amigos registrados, não anônimos, mas
longe da convivência real. A ferramenta é útil para encontrar pessoas, mas por
meio da artificialidade de um contato eletrônico com estranhos. Portadores de
discurso de ódio ficam de fora, pelo menos pouco aparecem nas minhas postagens.
De alguns, sei o quanto são infiéis aos ditames da democracia, do conhecimento,
da cultura e da boa convivência social. Tolero-os. Aliás, quando o Facebook me
informa dos aniversariantes do dia e vejo o leque tão díspar de personalidade,
atuação, opinião, que põe por terra qualquer indício de desígnio astrológico no
nascimento. Seriam todos iguais por nascerem no mesmo dia, certo? Ah, mas
precisa traçar o mapa astral para saber os detalhes. Então tá. Meus constantes
cumprimentos pela passagem da data natalícia servem também como expurgo, pois
semanalmente alguns dos amigos desistem de mim, abrindo espaço para outras solicitações
de amizade. E segue o alimento aos bilionários verdadeiros donos das redes
sociais (ou antissociais, como preconizam os estudiosos do tema).
Quando a mãe de uma amiga queimou todas as cartas
que trocou com o falecido esposo ao longo de décadas, em que se consolavam pelo
amor incompreendido por familiares, surgiu em mim a sensação de perda do que eu
não tinha. Havia ali uma história real e sincera, comum a tantas vivências, mas
que fora apagada do conhecimento dos outros. Vida particular, mas assim também
eram as impressões que famosos nos deixaram. A importância dada aos escritos
veio depois, mas se houvessem transformado em cinzas aquela celulose impregnada
de grafite e pigmentos, parte da história ficaria perdida. Depois da perda veio
a compreensão de que vidas anônimas compõem a sociedade e resignemo-nos com
isso. Resta localizar inéditos, que faz parte da busca pessoal ininterrupta. E
se os conhecidos se ocultaram, vamos de famosos, por que não? Lima Barreto,
Machado de Assis e outros formam esse cipoal, muitos assinados com pseudônimos
ou até sem assinatura. Um desafio na busca por hemerotecas digitais e físicas
para encontrar mais um fragmento desses cultuados autores. Mas é em Saramago
que continuo a me identificar, vendo-me feito uma Jangada de Pedra encontrando
o verdadeiro destino no meio do oceano.
Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Blog dos Três Parágrafos.
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