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1 de julho de 2023

Sabidos anônimos!

Os comentários para este blog são liberados, sem moderação, sem censura, mas para aparecer o nome do autor precisa haver um registro no Gmail. A maioria não o faz e aparece como anônimo para mim e para os demais leitores. Alguns assinam o texto junto ao comentário e fico sabendo quem é o gentil leitor. Digo gentil porque apenas uma única vez recebi aqui impropérios, aos quais não cabia interlocução. Tratava-se de um sabido anônimo (ou seria sabino anódico?), que não teve a mesma coragem fora dos ditames do espaço cibernético. Inteligência natural movida por neurônios biológicos que comandaram nervos e músculos para digitar o infame comentário. Cito apenas como exemplo, creio que até já esqueci o conteúdo. Aos anônimos que subscrevem cartas, comentários e afins, agradeço e teço respostas quando pertinente. Juntam-se àqueles anônimos de outrora que figuravam em jornais e revistas impressos, a completar ou corrigir as notícias dadas e para as quais o editor resolveu omitir a autoria. Já tive meu nome cortado, abreviado, fragmentado e até modificado, com o direito a raras correções e frequentes irritações.

Foi o aniversário de Machado de Assis, em 21, e também o do Felipe Rissato neste 26 de junho. Minha agenda na nuvem eletrônica assim indica, pelo menos para os 5 mil amigos registrados, não anônimos, mas longe da convivência real. A ferramenta é útil para encontrar pessoas, mas por meio da artificialidade de um contato eletrônico com estranhos. Portadores de discurso de ódio ficam de fora, pelo menos pouco aparecem nas minhas postagens. De alguns, sei o quanto são infiéis aos ditames da democracia, do conhecimento, da cultura e da boa convivência social. Tolero-os. Aliás, quando o Facebook me informa dos aniversariantes do dia e vejo o leque tão díspar de personalidade, atuação, opinião, que põe por terra qualquer indício de desígnio astrológico no nascimento. Seriam todos iguais por nascerem no mesmo dia, certo? Ah, mas precisa traçar o mapa astral para saber os detalhes. Então tá. Meus constantes cumprimentos pela passagem da data natalícia servem também como expurgo, pois semanalmente alguns dos amigos desistem de mim, abrindo espaço para outras solicitações de amizade. E segue o alimento aos bilionários verdadeiros donos das redes sociais (ou antissociais, como preconizam os estudiosos do tema).

Quando a mãe de uma amiga queimou todas as cartas que trocou com o falecido esposo ao longo de décadas, em que se consolavam pelo amor incompreendido por familiares, surgiu em mim a sensação de perda do que eu não tinha. Havia ali uma história real e sincera, comum a tantas vivências, mas que fora apagada do conhecimento dos outros. Vida particular, mas assim também eram as impressões que famosos nos deixaram. A importância dada aos escritos veio depois, mas se houvessem transformado em cinzas aquela celulose impregnada de grafite e pigmentos, parte da história ficaria perdida. Depois da perda veio a compreensão de que vidas anônimas compõem a sociedade e resignemo-nos com isso. Resta localizar inéditos, que faz parte da busca pessoal ininterrupta. E se os conhecidos se ocultaram, vamos de famosos, por que não? Lima Barreto, Machado de Assis e outros formam esse cipoal, muitos assinados com pseudônimos ou até sem assinatura. Um desafio na busca por hemerotecas digitais e físicas para encontrar mais um fragmento desses cultuados autores. Mas é em Saramago que continuo a me identificar, vendo-me feito uma Jangada de Pedra encontrando o verdadeiro destino no meio do oceano.

Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Blog dos Três Parágrafos.

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