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1 de junho de 2023

Afastamento do juiz Appio era tudo que o partido da Lava Jato queria para tentar ressuscitar!

A suspeição do juiz da 13ª Vara de Curitiba foi comemorada por Sergio Moro e o deputado cassado Deltan Dallagnol – magistrado tinha aberto caminho para as acusações de Tacla Duran. 

Ilustração: Intercept Brasil

Depois de sofrer duras derrotas nos últimos dias, entre elas a cassação do mandato de um dos seus principais representantes, uma chama de esperança fez o lavajatismo se levantar do seu leito de morte. O juiz Eduardo Appio, que estava à frente dos casos da Lava Jato e vinha sendo a pedra no sapato do lavajatismo, foi afastado cautelarmente da 13ª Vara de Curitiba pelo TRF-4. 

A história que motivou a decisão do TRF-4 é ridícula, sendo ela verdadeira ou não. Marcelo Malucelli, que é um dos desembargadores do tribunal, entrou com uma representação contra Appio, acusando-o de fazer uma ameaça contra seu filho, João Eduardo Barreto Malucelli. Appio teria fingido ser um servidor da área da saúde da Justiça Federal para fazer questionamentos sobre a declaração de imposto de renda de Marcelo Malucelli. A ligação foi registrada em vídeo. A voz, de fato, é bastante parecida com a de Appio. Uma perícia da Polícia Federal fez a comparação das vozes e, apesar de não confirmar que a voz é do juiz, apontou que essa hipótese é bastante provável. Isso foi o suficiente para o TRF-4 imediatamente afastar Appio.

Nada nesse episódio é crível. Quem vê essa história e não desconfia de mais uma armação da Lava Jato enlouqueceu ou estava morando em Nárnia nos últimos anos. A operação se especializou em tramoias jurídicas para atingir objetivos políticos. Presenciamos de tudo: desde intimidação de delatores e conluio com juízes a grampos ilegais. Lembremos que o filho de Marcelo Malucelli é sócio dos lavajatistas Sergio Moro e de Rosângela Moro, além de ser o “conje” da filha do casal. Lembremos também que Malucelli pai mandou prender ilegalmente Tacla Duran, o homem que acusa Moro e Dallagnol de extorsão. Lembremos ainda que foi comprovado que o TRF-4 participou de um conluio com o então juiz Moro e com o então procurador Deltan Dallagnol. Nos diálogos revelados pelas reportagens da Vaza Jato, os procuradores usavam códigos para se referir a Moro e ao TRF-4. O juiz era chamado de “russo”, enquanto o tribunal era chamado de “Kremlin”. O que não falta é motivo para se desconfiar dessa história que levou ao afastamento de Appio, que hoje, junto com Tacla Duran, é um dos inimigos mortais do lavajatismo.

Apesar da desconfiança ser legítima, não é possível afirmar que estamos diante de mais uma armação da turma da Lava Jato. Existe a possibilidade de que a ligação seja realmente de Appio. Além da perícia indicar que muito provavelmente a voz é dele, o silêncio do juiz está ensurdecedor. Por que Appio se cala diante de uma acusação tão grave? É no mínimo estranho adotar o silêncio depois de passar os últimos dias dando entrevistas e falando fora dos autos. A discrição, aliás, não é um requisito da magistratura que Appio tem cumprido –  o que é lamentável. O homem que tem a faca e o queijo na mão para enquadrar os crimes lavajatistas parece mimetizar alguns traços repudiáveis da Lava Jato. Portanto, desconfiar de Appio também me parece legítimo. A possibilidade de ele ter sido um aloprado e ligado para o filho de Malucelli, mesmo que isso não lhe rendesse benefício algum, não me parece tão remota. 

Além do afastamento, o juiz teve notebook, desktop e celulares apreendidos e encaminhados para perícia. Ele também está proibido de entrar nas dependências da Justiça Federal e teve o acesso eletrônico ao sistema do tribunal suspenso. Tudo isso aconteceu instantaneamente e sem que haja provas definitivas de que a ligação teria sido feita por Malucelli. A condenação veio antes da apuração. O tribunal que ficou conhecido pela conivência com as irregularidades no sistema de Justiça de repente ficou implacável com elas. O padrão lavajatista segue firme dentro do TRF-4. 

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A punição de Appio vem dentro de um contexto de guerra jurídica entre os tribunais de Curitiba. Recentemente, o TRF-4 suspendeu uma decisão de Appio que anulou uma das condenações de Sérgio Cabral e impediu que ele realizasse uma audiência em que Palocci pediria a revisão dos termos do acordo de delação premiada. O próprio desembargador Malucelli travou batalhas particulares com Appio ao atropelar duas decisões suas: revogou a prisão do doleiro Alberto Youssef e restabeleceu a prisão de Tacla Duran. 

Colocar Appio sob suspeita era tudo o que o lavajatismo queria. Agora, o inimigo número 1 de Moro e Dallagnol carrega sobre si uma nuvem de dúvidas. O homem que abriu espaço para as acusações de Tacla Duran foi afastado e em seu lugar entra Gabriela Hardt— a lavajatista de quatro costados que copiava sentenças de Moro para condenar Lula. O desfecho desse episódio não poderia ter sido mais perfeito para o lavajatismo. Aqueles que não conseguiam dormir com as denúncias de Tacla Duran, podem respirar aliviados ao menos por enquanto.

Autor: João Filho – Publicado no Site Intercept Brasil.

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