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1 de fevereiro de 2022

O marajá que dizia caçar marajás!

A estranha passagem de Sergio Moro pela Alvarez e Marsal começa já em seu anúncio. poucos meses após ser anunciado pela própria empresa como sócio-diretor de Disputas e Investigações, conforme o cerco do TCU ia se fechando, reduziram a participação de Moro para a de um mero “consultor”.

Segundo Sérgio Moro, investigações contra seu nome no TCU são parte de um pacto para evitar que volte o combate à corrupção.

Mesmo assim esse rebaixamento não impediu que Moro se tornasse um milionário e recebesse mais de R$ 3 milhões em 11 meses de trabalho. E em uma atitude acintosa – típica de autoritários – Moro, que assim como outros, já afrontou o Supremo Tribunal Federal, decidiu seguir com as suas afrontas contra o Tribunal de Contas da União.

Primeiro se negou a passar a informação de quanto recebeu trabalhando para a Alvarez e Marsal, depois decidiu marcar uma live, passando por cima do TCU e divulgando a informação da maneira que mais lhe favorecesse.

Embora tentasse divulgar seus ganhos de uma maneira que lhe ajudasse perante a opinião pública, assim como em outras ações do ex-juiz e ex-ministro, acabou se complicando ainda mais. Durante a live ele disse que não enriqueceu, ou está mentindo ou ele acha que ganhar quase R$ 3,6 milhões de reais em um ano é pouco. Tudo isso em um país que voltou para o mapa da fome.

Foram aproximadamente R$ 10 mil por dia!

Com esse dinheiro ele poderia comprar um tríplex do Guarujá (R$ 2,2 mi) ou dois sítios de Atibaia (R$ 1,8 mi).

A cifra que o ex-tudo ganhou só é superada pelo número de desempregados que ele próprio criou, 4 milhões, é o que afirma um desenvolvido em parceria da Centra Única dos Trabalhadores (CUT) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A pergunta que todos deveriam estar fazendo é: que serviços Moro prestou para que fosse remunerado em quase R$ 300 mil por mês? Ele tem provas dos trabalhos prestados para o escritório?

O único fato claro nessa história toda é que seu contratante lucrou com empresas que o ex-tudo arrebentou.

E o show de coisas estranhas não parou por aí, durante a live, Moro firmou que a Alvares & Marsal abriu um outro CNPJ para exclusivamente cuidar dos casos da Odebrecht, e inclusive, dá um número (07.018.138/0001-28) que se pesquisado na receita federal, consta como inválido. Fato que foi atentamente apontado por um internauta!

O motivo disso? Aparentemente Moro informou um número errado! Um desleixo típico e característico dele. Mas sim, numa live onde ele se propunha a provar sua idoneidade, ele erra o número. E mais uma vez ele gera mais perguntas do que respostas!

O movimento deu tão errado que a hashtag #MoroMamateiro está ocupando a primeira posição nos trending topics do Twitter neste sábado (29). É a opinião público dizendo o que acha do Moro e mesmo que as redes sociais não representem de forma segura as opiniões de toda a sociedade brasileira, é um indício de que as coisas não vão bem para o Pétain de Curitiba. Que como sempre, toda vez que fala em público, ganha mais notoriedade pelas estultices ditas do que por alguma fala que lhe abone.

Passado suspeito

A dimensão das suspeitas entorno do Moro e seu antigo “emprego” são ainda mais potencializadas quando lembramos de alguns fatos passados do Moro.

Enquanto juiz federal, Moro recebeu R$ 179.498 na farra do auxílio moradia. Morava próximo da 13ª vara, tinha imóvel próprio na mesma cidade em que trabalhava e não deveria ter solicitado e muitos menos receber este tipo de auxílio. Além disso, Moro ainda não explicou o caso envolvendo o escritório do advogado René Ariel Dotti, contratado pela Petrobras para atuar como assistente de acusação do Ministério Público Federal em ações penais da Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba, que contou com a atuação de Carlos Zucolotto, padrinho, amigo e sócio da mulher de Moro, então juiz titular da vara.

Segundo Rodrigo Tacla Duran, ex-funcionário da Odebrecht, Zucolotto prometia melhores condições para ele nas negociações para um eventual acordo com os procuradores da Lava Jato, em troca de R$ 5 milhões. Isso é tão indecoroso quanto dólares em malas, cuecas ou em apartamentos secretos de políticos. E se isso não é corrupção, então nada mais é!

E como não lembrar da sua atuação na lava jato quando a operação chegou em Paulo Guedes? Moro reconheceu a incompetência da 13ª Vara para julgar o caso e embora a decisão tenha sido correta, foi completamente diferente do que ele fez com outros casos, principalmente os envolvendo o ex-presidente Lula.

Vale lembrar que Guedes foi o responsável direto por trazer Moro para o governo Bolsonaro.

Histórias que seguem sem uma explicação

Questões

O que diria o Sergio Moro de 2014 sobre o Moro da Alvarez e Marsal?

A próxima legislatura no Congresso Nacional precisará discutir de maneira séria e técnica uma quarentena para membros do judiciário, Ministério Público e forças de segurança. Principalmente os juízes que com as suas decisões podem suspender eleições ou até mesmo sabotá-las. Hoje o nosso sistema político está seguro de um Moro que seja mais competente e ainda mais autoritário? Não. Nada impede o uso político de operações e investigações do MP.

Está mais do que claro que o combate à corrupção virou uma indústria muito lucrativa, uma farra danada! Procuradores que planejaram montar empresas em nome de laranjas para lucrarem com palestras, juiz montando sua própria plataforma política com poder e cargo público e depois ficando milionário… A lava jato não moralizou o país, apenas afundou ele ainda mais na lama da corrupção. Afinal de contas, desde quanto é ético usar informações, poderes e cargos públicos para obter vantagens pessoais?

Repito os questionamentos que fiz no início desta coluna: que serviços Moro prestou para que fosse remunerado em quase R$ 300 mil por mês? Ele tem provas dos trabalhos prestados para o escritório?

Aos poucos a campanha de Sergio Moro para o Planalto vai se tornando uma campanha para prestação de contas com a sociedade e esclarecimentos para as autoridades.

Moro, que se colocava no infame posto de caçador de marajás (aquele mesmo que já foi ocupado por Collor), se tornou um marajá. Embolsou quase R$ 4 milhões em um negócio onde ele próprio gerou demanda para o seu empregador e agora recebe um robusto salário de um partido cheio de figuras controversas.

O desfecho do homem que dizia combater a corrupção e que depois foi prestar consultoria para os corruptores é digno do Brasil. E é mais digno ainda daquilo que Moro ama chamar de “nova política”. Parafraseando a sempre excelente jornalista, Eliane Brum, acho que estou doente, “doente de Brasil”.

Essa é a nova política, aplaudam.

Autor: Cleber Lourenço Observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Ex-colunista na Revista Fórum. Twitter e Instagram: @ocolunista_

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