Defeitos do WhatsApp: disseminou as fakes news que decidiram eleições mundo afora; foi responsável por notícias falsas sobre a Covid-19 no Brasil; permitiu que crianças fossem expostas a conteúdos impróprios; fomentou nudes; facilitou a vida dos praticantes de golpes financeiros; participou indiretamente de crimes, como o que aconteceu em Cuiabá, onde uma mulher negociou pelo WhatsApp o assassinato do seu marido por R$ 60 mil.
Qualidades do WhatsApp: nasceu como ferramenta de papo informal e se transformou rapidamente em peça importante no mundo dos negócios; melhorou o atendimento e as vendas de diversas empresas; aproximou gerações e facilitou o crescimento de profissionais; fomentou nudes; ajudou a levar a escola para dentro de casa; transformou em suportáveis os longos períodos de lockdown diminuindo a distância entre familiares e amigos.
Mas, deixando de lado os defeitos, as qualidades e os nudes, vale a pena analisar a linguagem do WhatsApp, que começou como diálogo escrito, ganhou a presença de fotos, áudios e vídeos e se transformou num poderoso disseminador de mensagens. Pode ser uma frase de William Shakespeare: “Os velhos desconfiam dos jovens porque já foram jovens”. Uma comparação de hábitos e costumes: “Sandálias Havaianas no mundo: acessório de praia”, “Sandálias Havaianas no Brasil: acessório de praia, calçado de pedreiro, mata-inseto, acendedor de churrasqueira, trave de gol, educador infantil, luva de goleiro, prendedor de porta, freio de bicicleta”.
Pode ser um progresso da humanidade documentado em vídeo: cenas de um corrimão em braile, que permite a deficientes visuais desfrutar a paisagem de um mirante em Nápoles, na Itália.
Ou um pensamento de filósofos de botequim: “Cerveja nunca faz pênalti. Cerveja só faz falta”.
Encontram-se ainda no WhatsApp fotos de 50 anos atrás, com quatro senhoras conversando na janela de uma casinha de vila e a legenda: “1970’s chat room using Windows.” E frases para mulheres com baixa autoestima: “Quando você estiver triste e desanimada, lembre-se da bunda da Lindsay Lohan”. Encontram-se também comentários para baianos orgulhosos das medalhas conquistadas em Tóquio: “Dendê será incluído na lista do doping nas Olimpíadas de Paris em 2024”. Pequenas histórias para pessoas sem coração: “Repórter: ‘O que a senhora prefere? Ter Parkinson ou Alzheimer?’. Entrevistada: ‘Parkinson, porque prefiro derramar metade da taça, do que esquecer onde guardei a garrafa de vinho’.”.
E ironias dirigidas aos Faria Limers: “Se eu fosse acionista dos Postos Ipiranga, processava o Paulo Guedes por prejudicar a imagem da empresa”.
São realmente inúmeras as novidades que chegam diariamente para todos nós via WhatsApp.
Algumas despidas do mínimo bom senso, como a gravação do cantor e compositor Sérgio Reis, que circulou a partir da segunda semana de agosto, afirmando que, no dia 7 de setembro, ele e sua turma exigiriam do Senado a aprovação do voto impresso e a demissão de todos os ministros do STF porque, se isso não acontecesse, eles parariam o país, invadiriam o Congresso e quebrariam tudo.
Já nos dias seguintes, também via WhatsApp, surgiram algumas reações: Guttemberg Guarabyra, Maria Rita, Guilherme Arantes e Zé Ramalho cancelaram suas participações no novo disco de Sérgio Reis. E um amigo de Sérgio, Amado Batista, prestou a ele sua total solidariedade.
O dia 7 de setembro chegou, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, manteve nos seus pronunciamentos de Brasília e São Paulo o mesmo tom golpista que já vinha usando havia algum tempo. Mas as ameaças de Sérgio Reis felizmente não se concretizaram.
Nos zaps do dia 8, o comentário que chamava mais a atenção era aquele que continha uma análise mais musical do que política: “Há que separar o artista da obra. Sérgio Reis e Amado Batista podem ser golpistas desprezíveis, mas nem por isso seu trabalho musical deixa de ser uma merda”.
Autor: Washington Olivetto – Publicado no Jornal O Globo.
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