“O Brasil é o único país do mundo em que
os ratos conseguem pôr a culpa no queijo”
Millôr Fernandes
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) produziu neste dia de agosto, mês do desgosto, como diz antigo dito popular, uma peça burlesca, envolvendo as forças armadas do país. Desprestigiado, acompanhou hoje, ao lado dos chefes militares, a passagem de tanques pelo Palácio do Planalto, em Brasília.
As imagens foram exibidas em uma live transmitida pelo Facebook de Bolsonaro e durou menos de 9 minutos. O evento inédito gerou protestos, principalmente da oposição, já que ocorreu no mesmo dia em que a Câmara pautou a votação da proposta de emenda à Constituição que institui o voto impresso.
Fumaça de veículos da década de '70 em Brasília chamou atenção
Ontem, Bolsonaro usou as redes sociais para convidar autoridades para o desfile. Nenhuma compareceu. Entre eles estavam o presidente do STF, ministro Luiz Fux, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Mesmo que não nominalmente, o chefe do Executivo estendeu o convite aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do Tribunal de Contas da União (TCU), ministra Ana Arraes, do STJ, ministro Humberto Martins, e do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministra Maria Cristina Peduzzi. Também convidou deputados e senadores, dizendo que se "honraria" com a presença de cada um deles.
Ninguém em sã consciência quer figurar ao lado do natimorto presidente, cuja popularidade despenca a cada novo pronunciamento, a cada nova live ou a cada dia em que a sociedade assiste o país afundar.
Em vez deles, estavam ao lado do chefe do Executivo, na porta do Palácio, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, aquele que ameaçou a democracia caso o voto impresso não fosse aprovado no Congresso e os chefes militares da Aeronáutica (Carlos de Almeida Baptista Júnior), Exército (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira) e Marinha (Almir Garnier Santos).
O presidente acenou durante a passagem do comboio, enquanto seguidores (Seu fiel gado matuto gritavam ao fundo). Enquanto durou o desfile, nem o presidente, nem os comandantes militares usavam máscara. O Brasil já ultrapassou mais de 564 mil mortes em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Nosso exército de Brancaleone (Na Itália do século 11, o maltrapilho Brancaleone forma um exército de mortos de fome e parte em direção a terras a que julga ter direito. Percorrendo a Europa medieval em um pangaré, ele se depara com a peste negra, com bruxas e bárbaros) aceitou o pedido de Bolsonaro que quer desesperadamente cooptar as forças armadas para em caso de derrota fragorosa nas urnas em 2022, virar a mesa, dar um golpe e se manter no poder.
A maior parte do alto comando provavelmente não concorda com essa aventura farsesca que levará o país ao isolamento com a União Europeia e as grandes nações do G20. Um golpe na nossa democracia em pleno século XXI terá consequências extremamente danosas a economia, ao país e ao próprio exército.
Porém,
não se pode descartar essa possibilidade, afinal de contas vários fatos apontam
para esse final dantesco. Senão vejamos:
1. A invasão do Capitólio nos EUA após derrota de Trump;
2. A insistência de Trump em denunciar fraudes eleitorais que jamais aconteceram;
3. Decretos de Bolsonaro liberando armas em grande quantidade sem exercer nenhum controle;
4. Cooptação de pessoal de baixa patente do exército, policiais militares e milícias;
5. As pesquisas que indicam iminente derrota de Bolsonaro para Lula em 2022;
6. Com sua gestão desastrosa, sem nada para poder justificar sua presença na presidência por mais quatro anos, resta apenas a virada de mesa.
Portanto, o que
aconteceu hoje em frente ao Palácio do Planalto foi ridículo, desnecessário,
oneroso, mas indica com toda certeza o ocaso de um réquiem insólito de um sujeito raso, insolente e
despreocupado com a Nação e nosso povo.
Autor:
Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão
Pública.
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