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1 de junho de 2019

Por que contingenciar verbas da educação?

A dificuldade não está nas novas ideias,
mas sim em escapar as antigas.
John Maynard Keynes

Apesar do discurso do governo federal de dar prioridade à base do ensino público, ao menos R$ 2,4 bilhões que estavam previstos para investimentos em programas da educação infantil ao ensino médio foram bloqueados. As universidades federais estão sem R$ 2,2 bilhões. O contingenciamento vai na contramão do que defendia o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desde a campanha eleitoral: o aumento de investimento para a educação básica em detrimento do ensino superior.
Duas são as alegações para o corte: A primeira delas dizia ser por conta da falta de recursos federais no orçamento do governo. A verdadeira talvez seja a chantagem para que o Congresso Nacional aprove a Reforma da Previdência, que é uma espécie de garrafada do norte (Cura tudo). Uma estupidez, visto que os estudantes e professores do ensino superior não votam, mas sim, os parlamentares eleitos pela sociedade em 2018.
Ambas, não justificam o contingenciamento de recursos da educação no país, muito ao contrário, pois o que pode ou não levar a aprovação de uma reforma são dois pontos – A sua importância e o diálogo com o Poder Legislativo por parte do governo.
Com relação à escassez de recursos, outras pastas e outros pontos do orçamento poderiam ter sido cortados, além de outras saídas menos desastrosas para a imagem do governo e a sociedade penalizada com uma educação pauperizada ao longo dos anos.
Levantamento feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes), com dados públicos do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Ministério da Economia, mostra que os bloqueios na pasta não pouparam nenhuma das etapas da educação.
O MEC bloqueou, por exemplo, R$ 146 milhões, dos R$ 265 milhões previstos inicialmente, para construção ou obra em unidades do ensino básico. O valor poderia, por exemplo, ser destinado aos municípios para construírem creches.
Foram retidos recursos até mesmo para modalidades defendidas pelo presidente e pela equipe que comanda o ministério, como o ensino técnico e a educação a distância. Todo o recurso previsto para o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), R$ 100,45 milhões, está bloqueado.
O ministro do governo em suas recentes declarações passa a sociedade nítida impressão que está punindo as universidades por entender que lá residem focos de oposição de esquerda. Por isso, a palavra contingenciamento surgiu rapidamente para que não fosse caracterizado como um ato inconstitucional. Somente a UJRJ sofreu um corte (contingenciamento) de 43% do seu orçamento para manutenção da Universidade.
Esse corte prejudica a UFRJ, inclusive no desenvolvimento de projetos importantes para o meio científico universitário e a sociedade, como por exemplo, estes a seguir:
- Desenvolvimento de Células-Tronco;
- Realidade aumentada;
- Enxertos ósseos;
- Internet de altíssima velocidade;
- Drenagem urbana de enchentes.
Alguns hospitais universitários foram atingidos pelo contingenciamento como os das cidades de Palmas - TO, Natal – RN e Dourados – MS, trazendo ainda mais problemas no atendimento a já carente rede pública de saúde nestes locais.
Existem dezenas de opções que o governo poderia ter utilizado como contingenciamento:
– Cobrar das empresas do Agronegócio dívidas de R$ 17 bilhões;
- Cobrar as multas ambientais que média somam R$ 3,8 bilhões anuais;
- Tributação das Igrejas que em grande parte são desviadas para enriquecimento ilícito de muitos de seus integrantes. Essa tributação poderia arrecadar algo em torno de R$ 5 bilhões.
Somente um governo obtuso, completamente desinteressado no avanço e melhoria do sistema educacional do país pode utilizá-la para contingenciar recursos em sua maioria obtidos dos impostos que o povo arrecada.

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública. 

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