Quanto mais
aprendemos, mais queremos ir às livrarias.
Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio - Reprodução Facebook
Outro dia, num táxi, o motorista me
disse que “gostava de ler” e comprava “muitos livros”. Dei-lhe parabéns e
perguntei qual era sua livraria favorita. Respondeu que “gostava de todas”,
mas, de há alguns anos, só comprava livros pela internet. Ah, sim? Comentei que
também gostava de todos os táxis, mas, a partir dali, passaria a andar só de
Uber. Ele diminuiu a marcha, como se processasse a informação. Virou-se para
mim e disse: “Entendi. O senhor tem razão”.
Tenho amigos que não leem e não
frequentam livrarias. Não são pessoas primitivas ou despreparadas apenas
não têm a bênção de conviver com as palavras. Posso muito bem entendê-las
porque também não tenho o menor interesse por automóveis, pela alta cozinha ou
pelo mundo digital nunca dirigi um carro, acho que qualquer prato melhora com
um ovo frito por cima e, quando me mostram alguma coisa num smartphone, vou de
dedão sem querer e mando a imagem para o espaço. Nada disso me faz falta, assim
como o livro e a livraria a eles.
No entanto, quando entro numa
livraria, pergunto-me que outro lugar pode ser tão fascinante. São milhares de
livros à vista, cada qual com um título, um design, uma personalidade. São
romances, biografias, ensaios, poesia, livros de história, de fotos,
de autoajuda, infantis, o que você quiser. O que se despendeu de esforço
intelectual para produzi-los e em tal variedade é impossível de quantificar.
Cada livro, bom ou mau, medíocre ou brilhante, exigiu o melhor que cada autor
conseguiu dar.
Uma livraria é um lugar de
congraçamento. Todos ali somos irmãos na busca de algum tipo de conhecimento.
E, como este é infinito, não nos faltarão irmãos para congraçar. Aliás, quanto
mais se aprende, mais se vai às livrarias.
Lá dentro, ninguém nos obriga a
comprar um livro. Mas os livros parecem saber quem somos e, inevitavelmente, um
deles salta da pilha para as nossas mãos.
Autor:
Ruy Castro
Jornalista
e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson
Rodrigues. Texto publicado na Folha de SP.
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