Eu quero agradecer, em meu nome e em
nome de todas as pessoas comuns, cidadãos simples do meu país como eu, pelas
últimas decisões tomadas pelo nosso egrégio Supremo Tribunal Federal. Sim, o
supremo fez de nós pessoas melhores do que pensávamos ser.
Quando olhávamos aqueles ministros sob
suas togas, com passos lentos e decididos, altivos, queixos erguidos, vozes
impostadas, ditando verdades absolutas e supremas, envoltos numa aura de
extrema importância e autoridade, nos sentíamos pequenos, minguados e reles plebeus
diante de uma corte que beirava o sublime, o inatingível e o intangível.
Com essas decisões o supremo conseguiu
fazer com que a minha percepção sobre mim e sobre nós, mudasse. Eles não são
deuses. São pessoas tão pequenas e tão venais, que qualquer comparação que se
faça de nós em relação a eles, seria desqualificar-nos a um nível abissal.
Tudo aquilo é fantasia, tudo aquilo é
pose e tudo aquilo não passa de um teatro, mas nós somos reais. Foi aí que eu
vi o quanto somos mais importantes que eles! Enquanto as divindades supremas
encarnam seus personagens de retidão e lisura, mas com suas decisões abduzem a
moral e destrói o país (e de quebra a reputação do judiciário), nós brasileiros
comuns e sem toga trabalhamos arduamente dia e noite para construir o país, ou
pelo menos para minimizar os danos que eles provocam.
Então… como é que um dia eu pude
vê-los como sendo superiores a nós? Eu estava enganado. Nós somos muito
superiores a eles, mesmo sendo Josés, Joãos e Marias, desde o pequeno ambulante
ao médico ou engenheiro. Nós somos as verdadeiras autoridades, porque nossa
autoridade não foi conferida por um político malandro capaz de tudo com uma
caneta. Nossa autoridade nos foi dada pela nossa força de continuar tentando
fazer um Brasil melhor.
Fico sinceramente com pena é dos
advogados, que são obrigados a chamar esses ministros de excelência, ainda que
com a certeza de não haver excelência alguma nos serviços que eles estão
prestando à nação. Acho que deve ser o mesmo sentimento de ser obrigado a chamar
o cachorro do rei de “my lord”.
Agora eu sei o quanto somos bem
maiores que eles, mesmo sem aquelas expressões em latim e doutrinas rebuscadas
cheias de pompas e circunstâncias, que no final significam apenas passar
perfume em estrume.
Se há alguém realmente importante no Brasil,
esse é excelentíssimo povo brasileiro, que apesar de tudo é obrigado a sentir o
mau cheiro que vem da grande corte, e mesmo com náuseas e ânsia de vômito, tem
que acordar às 5 da manhã pra fazer aquilo que eles não fazem: produzir.
“Obrigado, STF, por nos mostrar que
hoje o rei sou eu e o povo brasileiro”.
Autor: Marcelo Rates
Quaranta
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