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8 de abril de 2025

Por que estou saindo das mídias sociais. Por Luis F. Miguel

  

Redes sociais. Foto Reprodução

Elas prejudicam a nossa paz de espírito

As plataformas sociodigitais operam na lógica da economia da atenção. Seu objetivo primário é fazer o usuário permanecer grudado nelas a maior quantidade de tempo possível. Atire a primeira pedra quem nunca entrou no Instagram e, depois de uma hora, parou e pensou: “Que diabos eu estou fazendo aqui”.

Além de ser um sumidouro de tempo, elas se tornaram um substituto para relações interpessoais reais e nos mantêm presos a tretas irrelevantes e sedentos por likes.

Elas fazem mal à democracia

As plataformas sociodigitais têm interesse objetivo na difusão de desinformação, na promoção do partidarismo cego e na ampliação da agressividade nos embates políticos. Tudo isso aumenta o “engajamento” dos usuários, que é o que elas buscam em primeiro lugar.

E não hesitam em jogar todo seu peso político e econômico para garantir que a internet continue uma terra ninguém. Usam, por exemplo, fake news para impedir a responsabilização pela difusão de fake news. Não por acaso, as big techs se tornaram grandes parceiras da extrema-direita.

Elas comprometem a nossa autonomia

Cada vez que entramos em uma dessas plataformas, nós nos tornamos matéria-prima para a coleta de dados, que são usados para induzir comportamentos e vendidos para terceiros.

A gigantesca massa de informações coletadas de cada usuário permite que os algoritmos apresentem os estímulos corretos para orientar sua ação – fazendo-nos desperdiçar mais tempo online, nos interessarmos por determinados produtos ou mesmo fazer escolhas políticas.

Sair das redes é também um passo para a reconquista de espaços de autonomia individual perdidos para as big techs.

Elas fazem mal à nossa inteligência

Nas plataformas, somos bombardeados com estímulos fáceis, de consumo imediato, que não exigem nenhum esforço intelectual e se sucedem sem deixar rastros.

Fofocas sobre famosos, fotos “comoventes” produzidas por IA, polêmicas de proveta, tudo isso se torna o centro de nossa dieta informacional.

Ao final de uma tarde de scrolling, estamos empanturrados de informação inútil, tão nauseados e mal alimentados quanto depois de nos enchermos de junkie food.

Elas fazem mal à verdade

As big techs e a extrema-direita aliada a elas dizem ser contra a regulação em nome da liberdade de expressão. É uma balela. Liberdade de expressão não é carta branca para espalhar mentiras e preconceitos ou incitar violência.

A liberdade de expressão, já diziam seus defensores liberais clássicos, deve ser ao público, permitindo escolhas mais bem fundamentadas graças à exposição a múltiplos pontos de vista.

E não é como se a expressão nas plataformas não fosse regulada. Ela é – só que pelas próprias big techs, em proveito de quem tem dinheiro para gastar com “impulsionamento” pago de conteúdos.

Elas fazem mal ao debate

Eu gosto de controvérsia e me esforço para não ser silenciado pelos consensos às vezes fáceis do nosso campo. Mas a boa controvérsia é aquela em que se esgrimem argumentos. Nas redes, é comum que o alarido das torcidas e a violência verbal lacradora substituam essa troca.

Além disso, tem gente que vive da treta – que “monetiza” seus canais com uma encenação de agressividade. Eu, não. Como não fujo da controvérsia, acabo me tornando alvo para esse tipo de manobra, com ataques baixos e mesmo formas de assédio. Eles ganham dinheiro e eu ganho só irritação.

Podemos, sim, viver sem elas (ou quase)

É verdade que o Instagram se tornou obrigatório para uma série de atividades, de espiar o cardápio de restaurantes a conferir se aquele médico que nos indicaram não é bolsonarista.

No meu caso, posso ter que conferir postagens de políticos por dever profissional.

Mas dá para limitar a isso (e mesmo entrar por meio de proxies). Não postar, não comentar, não comprar, entrar e sair sem dispersões.

E, em vez de perder tempo vendo um monte de besteiras, tomar uma cerveja com os amigos, ler um livro, ir ao cinema, passear no parque, pegar uma praia, brincar com as crianças ou com o gato, aprender a desenhar, jogar bola, enfim, viver.

A partir de agora:

·                  Não posto mais conteúdo novo em Facebook ou Instagram (apenas, no primeiro momento, anúncios de textos em outros espaços, como minhas postagens no Substack).

·                  Não leio mais mensagens diretas. Quem quiser falar comigo pode mandar e-mail.

·                  Apaguei os aplicativos do celular.

·                  Procuro ir direto para as páginas dos portais e blogs que costumo ler, em vez acessá-los pelas redes de Zuckerberg.

·                  Encontre-me no Substack (clique aqui)

Não, o Substack não é o paraíso (virtual) na Terra. Mas não tem anúncios, tem menos tretas e promete não vender dados dos usuários. Ao menos por enquanto, parecer ser lugar para uma conversação mais saudável.

Autor: Luis F. Miguel – Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades. Publicado no Diário do Centro do Mundo.

7 de abril de 2025

O retorno ao multiverso da loucura "Os discursos insolentes de Malafaia, Nikolas e Michelle me tiram do sério"

  

Apoiadores de Bolsonaro reunidos na manifestação contra o processo judicial de Bolsonaro e para exigir a anistia de todos os acusados __de participar da conspiração para derrubar o governo, em São Paulo SP. Foto Reuters/Amanda Perobelli.

Vesti meu disfarce fascista – boné preto, camiseta caqui militar e óculos escuros, sobre uma calça jeans rasgada e botas – e entrei em nova viagem alucinógena por uma realidade alternativa em que zumbis da terceira e da quarta idades envergavam aquele verde-amarelo que um dia me deu orgulho e hoje me enche de asco. 

Idosas extravagantes, com as caras empastadas por maquiagem pesada, calças justíssimas, muitas vezes de couro preto, e camisetas verde-amarelas em paetês e outros tecidos brilhosos; homenzarrões barrigudos e corpulentos, todos nas cores de bananas quase maduras, aquele amarelo esverdeado. 

Há, também, raras pessoas de aparência muito humilde que destoam daquela maioria de gente de origem indo-europeia, caucasiana ou árabe –- e aparência endinheirada. 

Homens de meia-idade de aparência próspera, cabelos platinados, estereótipos de empresários ricos, alguns homens muito fortes e altos, aparência de leões de chácara, e as peruas ostentando entre 40 e 70 anos.

Uma ou outra criança, em geral com as famílias pobres. Muitos cães comprados pela raça e vestidos com bandeiras do Brasil. 

Vou flanando pela avenida onde um ou outro amarelinho se dirigia ao Masp, onde estaria o trio elétrico de Bolsonaro e cia., até que vejo uma aglomeração deles, como sempre, diante da Fiesp. Reaças cultuam a Fiesp. É fetiche. Ficam grudadinhos uns ao outros, socados diante de telões que a Federação dos industriais invariavelmente coloca diante da sede nos dias das manifestações fascistas do Jair.

Passo a Fiesp, mais clareiras com esparsos amarelinhos – parece haver até menos gente que no 7 de setembro. Encontro uns “doutores” bem-humorados e me aproximo. Minha mulher puxa papo com eles pra me ajudar no approach. Diziam, entre si, que “a USP diria que a manifestação teve 600 pessoas”. Perguntei quantos acham que havia. Respondem que, “no mínimo, 500 mil”. 

Detalhe: segundo o Datafolha divulgou em 2015, na avenida Paulista inteira não cabem mais do que 300 mil pessoas. Talvez empilhando...

Os discursos insolentes de Malafaia, Nikolas e Michelle me tiram do sério. Malafaia ameaça com “generais de quatro estrelas”, Nikolas chama o presidente do STF de “bandido” e Michelle ameaça a família de Moraes...

Até quando? Escória maldita. 

Havia, socando toda aquela escória junta, no máximo três quarteirões deles. Chutei: de 40 a 50 mil. Ficou no meio, segundo a Monitor do Cebrap e da USP – 45 mil.

Gravei um vídeo em que gritava que ali era celebrado o último suspiro do nazifascismo bolsonarista. Gravei em vídeo. Está no Canal do Blog da Cidadania. Minha mulher quase surtou. Ficou apavorada. Ninguém me interpelou, mesmo ouvindo. Acho que perceberam que não valia a pena contrariar um pirado como eu, que grita aquilo no meio de zumbis ferozes. 

Sorte deles. Malditos nazistas.

Autor: Eduardo Guimarães – Responsável pelo Blog da Cidadania. Publicado no Site Brasil 247.

Polarização, Anistia e os Riscos para o Estado de Direito!

  

Manifestantes pedem anistia em ato pró Bolsonaro - Thenews2 - Folha press.

Decisão do STF que torna Bolsonaro réu reacende debate sobre limites da anistia.  A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de tentativa de golpe de Estado, trouxe à tona um debate acalorado sobre os limites da democracia e a responsabilidade de líderes políticos em momentos de crise. O caso, que envolve alegações de ações para subverter o processo democrático, gerou reações polarizadas na Câmara dos Deputados, com aliados defendendo o ex-presidente e atacando as instituições e opositores apoiando a PGR e comemorando o indiciamento. Este episódio reflete não apenas as tensões políticas atuais, mas também os desafios enfrentados pelas instituições brasileiras em garantir a estabilidade democrática.

Em relatório publicado pelo Instituto Democracia em Xeque, o instituto demonstra que entre os dias 18 e 19 de março, após o anúncio, os deputados federais e senadores, realizaram 594 publicações sobre a temática, gerando um total de 1.975.851 interações. O engajamento foi dominado por partidos de direita, que concentraram 58,9% das interações, seguidos pelos partidos de esquerda, com 35,9%, e pelos de centro, com 5,1%. Entre os parlamentares, alguns se destacaram: Flávio Bolsonaro (PL-RJ) liderou o engajamento na direita, com 11,8% das interações; Lindbergh Farias (PT-RJ) foi o principal nome da esquerda, com 6,1%; e André Janones (AVANTE-MG), embora filiado a um partido de centro, alinhou-se ao campo democrático e à base governista, registrando 3,3% das interações.

O relatório ainda demonstra que Perfis alinhados à esquerda e à imprensa celebraram o indiciamento, utilizando hashtags como #BolsonaroNaCadeia e #SemAnistia. Parlamentares como Sâmia Bonfim (PSOL-SP), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS) destacaram a "abundância de provas" e defenderam a responsabilização de Bolsonaro. Publicações do PT e de Guilherme Boulos (PSOL-SP) somaram centenas de milhares de interações, reforçando a narrativa de que o ex-presidente "tramou um plano para matar Lula". Já os aliados de Bolsonaro reagiram com críticas às instituições, acusando-as de "perseguição política". Parlamentares como Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) alegaram "falta de provas" e "fragilidade jurídica" na denúncia. No YouTube, vídeos do canal do Mario Frias (PL-SP) questionaram a imparcialidade do STF e vincularam o indiciamento ao "medo da vitória de Bolsonaro em 2026". Em conjunto a isso, os parlamentares intensificaram o chamado para que o povo vá às ruas e exija o fim dessas perseguições.

O embate reflete a polarização que persiste no Congresso, com a direita mantendo influência nas redes estratégicas, como YouTube e X, mesmo sob pressão institucional. O tema deve seguir aquecido, especialmente com a convocação de manifestações pró-Bolsonaro em março e a proximidade das eleições de 2026.

Na última semana (26/03), com a formação de maioria na Primeira Turma do STF para aceitar a denúncia da PGR e tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados por tentativa de golpe, o caso entrou em uma fase decisiva. A decisão judicial reforça a pressão sobre aliados investigados, incluindo generais e auxiliares diretos, que agora enfrentam formalmente acusações de atentado ao Estado Democrático.

Nas redes sociais, a medida intensificou a polarização: de um lado, setores progressistas celebram o fato de Bolsonaro ter virado réu, enxergando a decisão como uma "vitória da Justiça". A deputada Erika Hilton (PSOL-SP), por exemplo, destacou em publicação no X que os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro "estão presos por ataques violentos às forças de segurança, às instituições públicas, ao patrimônio da União e à ordem democrática". Já o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), além de comemorar o indiciamento, alertou para movimentações internas de aliados de Bolsonaro que buscam garantir maioria na votação de um projeto de anistia. A proposta, que inicialmente abrangeria os acusados dos atos de 8 de janeiro, foi ampliada para incluir "todos os atos desde o dia da eleição" de 2022 medida criticada por Boulos como uma tentativa de "legalizar o golpe".

Do outro lado, parlamentares conservadores ampliaram as críticas ao STF, acusando-o de "ativismo político", "mafioso" e de promover um "justiçamento" em vez de um julgamento imparcial, como afirmaram os deputados Marcel Van Hatten (NOVO-RS) e Carol de Toni (PL-SC). Paralelamente, ganham força nas redes convocações para novas manifestações em defesa da "anistia ampla" e dos "direitos dos patriotas". O deputado Mario Frias (PL-SP), por exemplo, publicou no X que "o povo acordou" e que o projeto de anistia é uma resposta aos "absurdos das prisões e punições cometidas pelo Estado", reforçando o discurso de vitimização que mobiliza a base bolsonarista.

A denúncia contra Jair Bolsonaro e a decisão do STF de torná-lo réu não apenas aprofundaram a crise política, mas expuseram uma divisão profunda tanto nas redes sociais como no parlamento. Enquanto setores progressistas veem no processo judicial um freio à impunidade, a direita bolsonarista instrumentaliza o debate para alimentar narrativas de perseguição e pressionar pela aprovação de uma lei de anistia ampla projeto que, se aprovado, representaria uma ameaça sem precedentes ao Estado de Direito.

A proposta de anistia em discussão, que busca abranger todos os atos desde o dia da eleição de 2022, ecoa experiências traumáticas do passado. No Brasil, a Lei da Anistia de 1979, embora crucial para a transição democrática ao conceder perdão aos perseguidos políticos durante o regime autoritário, perpetuou a impunidade de agentes da ditadura por crimes contra a humanidade, enterrando a possibilidade de justiça por décadas. Globalmente, iniciativas similares tiveram desdobramentos controversos: na Espanha, a Lei de Anistia de 1977, após o franquismo, silenciou investigações sobre tortura e assassinatos, alimentando até hoje disputas sobre memória e reparação. Nos Estados Unidos, foi concedida a anistia aos participantes do ataque ao Capitólio em 2021 após a eleição de Trump.

A proposta atual surge para blindar acusados de planejar um golpe em plena vigência da democracia. Se aprovada, a medida normaliza a ideia de que ataques às instituições podem ser perdoados por conveniência política um precedente que corrói a própria noção de accountability.

O momento exige um julgamento concreto e transparente. A democracia brasileira não pode repetir os erros de anistias que privilegiaram a conciliação em detrimento da verdade. A falta de responsabilização por crimes graves alimenta ciclos de violência e desconfiança. Nas redes e no Congresso, a batalha narrativa seguirá acirrada, mas é nas instituições que reside a esperança de um freio à escalada autoritária.

Autor: Coletivo Legis-Ativo - Djiovanni Marioto. Publicado no Site Congresso em Foco.