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1 de setembro de 2025

Não tenho roupa para a festa.

Nos tempos de Faenquil, a Faculdade de Engenharia Química de Lorena, antecessora da Escola de Engenharia de Lorena, hoje um campus da USP naquela prestigiosa cidade vale paraibana, estudamos os resíduos agroindustriais de várias maneiras. Certa vez fomos procurados por uma jornalista voluntariosa que queria investigar a possibilidade de as fibras de bagaço de cana comporem tecidos finos a serem usados em desfile de modas. Ela tinha contatos e a ideia de compor uma bandeira - um pedaço de tecido que seria usado para costurar um vestido, por exemplo. Conseguimos um financiamento para bancar um pré estudo que incluiu alunos de graduação. Batizamos a empreitada de "bagaço fashion", não sem a devida ironia. Usando a semelhança fonética, dizia-se que eu era fashion: fechem os olhos para o que visto. O que de mim é visto não é o que visto. Nunca tive preocupação ou interesse para o vestir. Meus dois ternos são os mesmos comprados e usados pela primeira vez no casamento de meu irmão, ainda que o diâmetro abdominal tenha sido muito fiel, pois chegou a mim e não me abandonou mais. A roupa é para vestir e proteger, não para desfilar ou se mostrar. A roupa que uso não faz parte de mim. Mas, antes da grita modista, admiro quem se veste bem e se sente bem assim fazendo. E aquele projeto não seguiu adiante por falta de financiamento posterior e não por deselegância.

Reconheço que ter apenas duas calças jeans no guarda-roupa é exagero da simplicidade, beirando a displicência e negligência com o dia a dia, e até com a higiene pessoal. Admito sem receios, pois sei que os mais próximos não leem o Blog! O descaso com a moda supera o da personagem de Anne Hathaway no filme O diabo veste Prada, de 2006, dirigido por David Frankel, estrelado também por Meryl Streep. A jovem, também jornalista, passa a ser secretária da editora de uma revista de moda, mas veste-se mal, muito mal. Em uma das passagens do bom filme, ironiza a preocupação dos diretores para decidirem sobre uma roupa, em particular com tons de azul, e recebe uma aula sobre a cultura do uso da cor em tecidos e acessórios. Ou seja, moda é também cultura que será transferida para o uso geral, assim suponho. Talvez o salto seja muito grande entre um vestido revolucionário da passarela milionária e o que o povo trajará com salário-mínimo. Compraremos isso tudo em alguma loja do shopping center? Talvez sim, provavelmente não. Cito o shopping, pois é o espaço que virou a meca da convivência social, ao que parece, e os urbanos nem se importam em pagar R$20 para estacionar seus carros e ficarem trancafiados lá dentro, sob o ar condicionado e luzes artificiais para comer comidas também condicionadas e artificiais, já que suas vidas passaram a ser condicionadas e artificiais.

Os ipês, por sua vez, já se vestem de exuberante amarelo e estão devidamente trajados para a primavera que se descortina. De qualquer forma, com as festividades verdadeiramente cívicas da semana da Pátria em curso, preciso comprar alguma coisa, pois, ao contrário dos ipês, estou sem roupas para a festa... sem roupas até para ficar confortavelmente no sofá à frente da tv e a tudo assistir. Seria interessante saber como o magistral autor Luis Fernando Verissimo registraria este período de festa em suas crônicas. Ter vivido até os 88 anos foi uma vitória e, por tudo o que escreveu, interpretou e ironizou do país, temos apenas a agradecer. Mas a morte é sempre uma tristeza, ainda que esperada, prevista e até desejada em face da condição que o corpo leva em vida. Curioso que suas posições políticas foram muito bem nítidas e, com sua morte quase fechando o mês de agosto - triste sina deste mês de maus agouros - até a extrema direita divulga, em júbilo e respeito, suas frases de efeito. Não contaminarão o espetáculo, contudo.

Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.

PEC das Prerrogativas ou a pretensão de uma versão de novo golpe institucionalizado!

 

            A PEC das Prerrogativas também conhecida como PEC da Imunidade Parlamentar, é uma Proposta de Emenda à Constituição requentada, pois já foi apresentada em 2021 no Brasil com o objetivo de alterar regras sobre imunidade parlamentar e prerrogativas de deputados e senadores. 

           Como não conseguiram êxito durante o governo Bolsonaro, onde imaginavam que tudo poderiam, voltam a carga no cenário político atual, onde estão percebendo a atuação firme da justiça, em particular do STF contra crimes praticados por deputados e senadores.

Estes políticos que não possuem vergonha na cara, e desejam impunidade plena e absoluta para obter vantagens com corrupção, lavagem de dinheiro, subversão a ordem e até com golpes a democracia ao nosso estado de direito, não restaria mais nada exceto tentar institucionalizar um novo golpe de forma oficial maculando nossa Constituição Federal.

Os principais pontos da PEC das Prerrogativas ou Imoralidades:

Limitação da prisão de parlamentares

Apenas seria possível prender deputados e senadores em flagrante de crime inafiançável relacionado a crimes tipificados na Constituição, como racismo, tráfico de drogas, tortura, terrorismo e crimes hediondos. Não poderia haver prisão preventiva por ordem judicial como ocorreu com o deputado bolsonarista Daniel Silveira (caso que motivou a PEC).

Restrições a medidas cautelares contra parlamentares

Medidas como afastamento do mandato, busca e apreensão ou uso de tornozeleira eletrônica dependeriam de autorização da Casa legislativa (Câmara ou Senado).

Alterações na imunidade material

O texto buscava reforçar que parlamentares não podem ser responsabilizados civil ou penalmente por opiniões, palavras e votos, mesmo fora do Congresso.

Competência para processar crimes

Parlamentares só poderiam ser processados pelo STF em crimes cometidos no exercício do mandato e relacionados às funções parlamentares (não por fatos anteriores ou sem relação com a função).

O cinismo e o mau caratismo dessa escória política que habita o espectro da direita e extrema direita nacional onde estão a maioria dos partidos bolsonaristas (PL, PP, União Brasil, Republicanos, Avante, Novo, etc.) é algo surreal, não se sentem envergonhados diante da mídia, nem tampouco de seus correligionários e eleitores.

Aquela frase famosa do ex-deputado bolsonarista Ricardo Salles durante reunião ministerial de Bolsonaro, quando disse: “precisamos aproveitar que a mídia está distraída com a pandemia da Covid-19, para passarmos a boiada”.

Pois essa PEC infame, inconstitucional e fora dos desejos da maioria da sociedade é o passar da boiada da direita sobre a ação investigativa e punitiva da Polícia Federal, Ministério Público, Procuradoria-Geral da República e a Supremo Tribunal Federal.

Os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) são alguns dos defensores dessa imoralidade que causam asco aos que pagam pesados tributos.

Para piorar ainda mais a situação, essa proposta escabrosa não tem documento ou projeto pronto. Ela é baseada na convicção da impunidade, ninguém redigiu, não chegou ao conhecimento da mídia ou ao plenário da Câmara o seu teor. São covardes, ralé da mais baixa qualidade, eleita para representar uma parcela da sociedade brincando de desmoralizar ainda mais, se é que seja possível, a nossa classe política. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

As Minas Gerais de Tancredo ouvindo Zema

 

                                                  Arte: Bloco Democracia e Luta.

Tancredo Neves foi um político brasileiro de grande destaque, conhecido por sua atuação fundamental na transição do Brasil para a democracia após o longo período da ditadura militar (1964-1985).

Nascido em São João Del Rei, Minas Gerais, em 1910, Tancredo de Almeida Neves iniciou sua carreira política ainda jovem. Formou-se em Direito e, ao longo de sua vida, ocupou diversos cargos importantes, como: Deputado Federal: Eleito por várias vezes, participou ativamente da vida legislativa do país.

Ministro da Justiça: No governo de Getúlio Vargas, em 1953, teve um papel crucial na elaboração da Lei de Imprensa.

Primeiro-Ministro: Durante o período parlamentarista no Brasil (1961-1963), foi o chefe de governo no mandato de João Goulart.

Senador: Representou Minas Gerais no Senado Federal.

Governador de Minas Gerais: Governou seu estado natal entre 1983 e 1984.

O momento mais emblemático da carreira de Tancredo Neves foi sua participação na campanha das Diretas Já, um movimento popular que exigia eleições diretas para presidente. Embora a emenda constitucional que permitiria as eleições diretas não tenha sido aprovada no Congresso, o movimento foi fundamental para pressionar o regime militar a iniciar o processo de abertura política. Eu estive na Praça da Sé no famoso comício pelas Diretas Já! em São Paulo e ouvi seu discurso.

Sua oratória era mais voltada para a articulação e a busca por consensos do que para a criação de frases de efeito ou discursos memoráveis. Ele era visto como um articulador e um conciliador, e não como um grande orador.

Uma ocasião, Franco Montoro preocupado com a possível nomeação de um de seus filhos para ser Secretário Estadual, foi se aconselhar com Tancredo. Este lhe disse com muita tranquilidade: “Nomear um filho não é problema Governador, o dilema será se tiver que um dia o demitir”. Também é de sua autoria a frase: “Se temos dois ouvidos e Apenas uma boca, porque falar mais do que ouvir?”

Pois as Minas Gerais hoje ouvem com tristeza a voz sonsa, pausada e sem nexo do governador Romeu Zema Neto – Partido Novo/MG (2018-2026). Um empresário rico, herdeiro do Grupo Zema, uma rede de lojas de eletrodomésticos, veículos e postos de combustíveis, sendo muito forte em Minas Gerais.

São suas as seguintes pérolas: “Ter estabilidade para motorista, faxineiro, não acho que faz sentido.”
Declarou em 2019, quando falava sobre direitos do funcionalismo público Brasil de Fato.

“A Constituição tornou o Brasil um país um tanto quanto ingovernável... uma democracia que assegura excesso de direitos e pouquíssimos deveres.” Comentário feito à Folha de S. Paulo, criticando o modelo democrático brasileiro como "Estado paizão".

“A Cemig foi drenada nos últimos anos e, mesmo que nós voltemos a reinvestir, o resultado dela é insuficiente.”
Declarou em 2019, embora naquele ano a empresa tenha tido lucro líquido de R$ 1,7 bilhão, um resultado 70% superior ao anterior.

“Violência doméstica é instinto natural dos seres humanos.”
Comentário feito em março de 2020, ao lançar um programa de apoio às vítimas de violência doméstica, que gerou forte repercussão.

Ao ser indagado sobre o período da ditadura militar no país entre 1964 e 1985, desconversa como se não tivesse ocorrido de fato a ditadura no Brasil. Defende anistia para os que tentaram dar um golpe de estado e a consequente abolição dos direitos, com o singelo argumento de que não foi disparado um tiro sequer. Ou quando pede para que Lula tire o Brasil dos Brics, bloco econômico e político formado por cinco grandes economias emergentes: Brasil; Rússia; Índia; China; Sul da África (África do Sul), sem se atentar ou desconhecendo na verdade que o Estado das Minas Gerais é o maior exportador para a China, e, caso seja afastado dos Brics, poderia sofrer um grande baque financeiro e comercial.

É muito triste assistir um dos maiores eleitorados do país eleger, apoiar e reeleger um sonso como este, inculto, desconectado da realidade nacional e mundial para ocupar o cargo de governador das Gerais. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Prêmio Justo Verissimo do Congresso Nacional!

O grande Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho (1931–2012) foi um dos maiores humoristas, atores e escritores do Brasil. Trabalhou em rádio, TV, cinema e teatro, ficando marcado por sua criatividade e pela criação de personagens icônicos. Ele também foi roteirista, dublador e artista plástico.

Chico Anysio é reconhecido por ter criado mais de 200 personagens ao longo de sua carreira, tornando-se um recordista nesse aspecto.

Entre tantos personagens maravilhosos que nos proporcionaram alegria, humor e gargalhadas ao longo dos anos, ressalto um que é atemporal. O deputado federal criado por Chico Anysio chamado de Justo Verissimo. Características do personagem:

·        Cargo: Deputado federal fictício.

·        Bordões famosos: “O que é bom pra mim é bom pro povo!” e “Quero que o povo se exploda”.

·        Personalidade: Egoísta, corrupto, só pensava em enriquecer e não tinha nenhum compromisso com a população.

·        Contexto: Criado nos anos 1980, virou símbolo da crítica social e política no humor brasileiro.

Me lembrei deste personagem no atual mandato da Câmara Federal e Senado, quando políticos de direita exercem seus mandatos priorizando impunidade, blindagem contra investigações da Justiça e da Polícia Federal contra os membros das duas casas.

O último acinte foi propor a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) denominada por PEC da Blindagem, cujos políticos idealizadores a chamam de PEC das Prerrogativas. Uma das maiores imoralidades já apresentadas na Câmara ou quem sabe no Congresso nacional desde a instauração da República.

Requer autorização prévia da Câmara ou do Senado para que um inquérito ou investigação criminal contra parlamentares possa ser aberto. Mesma exigência também valeria para o recebimento de denúncias pela Justiça.

Restrições a prisões e medidas cautelares

·        Parlamentares só poderiam ser presos em flagrante por crime inafiançável (como racismo, tortura, tráfico de drogas, terrorismo, crimes hediondos, ou ação armada contra o Estado democrático).

·        Mesmo em casos de flagrante, o parlamentar permaneceria sob custódia da sua própria Casa Legislativa (Câmara ou Senado) até que o pleno da Casa decida se mantém a prisão.

·        A instauração de medidas cautelares (como tornozeleira eletrônica ou prisão preventiva) também exigiria voto favorável de 2/3 do STF e aprovação pelo Legislativo.

·        As prisões preventivas, se autorizadas, teriam de passar por revisão periódica a cada 90 dias pelo Congresso.

 

Sendo assim, a sociedade civil deveria instituir o Prêmio Justo Verissimo aos deputados que legislarem em causa própria, contrariando interesses da população ou buscando imunidade ou criando barreiras que dificultem as investigações das autoridades do STF, MP ou Polícia Federal sobre políticos com mandato. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública. 

https://www.youtube.com/watch?v=oFGdE7DtSjg