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23 de junho de 2025

O Congresso Nacional e os seus políticos reborn!

 

O Congresso Nacional tem 594 políticos eleitos pelo povo, sendo 513 na Câmara Federal e 81 no Senado. O custo para manter estes políticos, seus assessores e todo gasto da máquina legislativa no Distrito Federal é uma obscenidade.

Porém, muito pior do que a manutenção de tantos políticos, assessores e penduricalhos decorrentes do processo democrático é o fato de que estes políticos representam empresários, grupos financeiros, latifundiários, segmentos religiosos, grandes empresas e sindicatos patronais, menos o povo. De cara sabemos que 72% são empresários ou membros do Agronegócio.

Depois da divisão explícita do país em direita bolsonarista e esquerda, com o Centrão sugador de emendas no meio, a situação ficou insustentável para a sociedade.

Não existe mais situação e oposição a um governo, mas sim, chantagistas que se opõem a tudo que o governo federal tente tramitar nas casas de leis em favor da sociedade. E uma legislação através de molecagens, mentiras e disseminação de fake news.

Não bastasse tudo isso, ainda percebemos que a maior parte dos deputados bolsonaristas é incapaz de legislar, trabalhar e interpretar leis e decretos. O que nos passa a nítida impressão de que foram eleitos bonecos “Reborn” para cumprir mandatos.

Afinal de contas, não trabalham, não exercem as funções para as quais foram eleitos e passam o tempo inteiro brincando com coisa séria da sociedade.

Eles são hiper-realistas, cuidadosamente criados para se parecerem um ser humano de verdade. O termo "reborn" vem do inglês e significa "renascido", referindo-se ao processo de transformar um boneco comum em uma réplica incrivelmente detalhada de um humano.

Mas quem são os eleitores brasileiros que elegem estes políticos reborn para cargos tão importantes? São aqueles que dizem não gostar de política, aqueles que não leem, não pesquisam, não sabem nada da política e – o pior grupo – aqueles que se informam através de grupos de aplicativo de mensagens, acreditando piamente em fake news.

Os políticos reborn, uma vez eleitos, apoiam os empresários (patrões) destes eleitores sem capacidade que os elegeram. Votam contra redução de imposto de renda, contra redução de impostos da cesta básica e até contra a redução das contas de energia elétrica. Os deputados reborn em compensação atuam para impedir que os ricos tenham aumento de impostos ou redução dos benefícios concedidos a eles ou ao segmento empresarial ao qual pertencem.

Enquanto a maioria dos eleitores sem consciência ganham R$ 1.515,00, os deputados federais absorvem dos nossos impostos os valores abaixo:

R$ 47.700,00 – Salário;

R$ 94.300,00 – Verba de gabinete;

R$ 53.400,00 – Auxílio Paletó;

R$   5.000,00 – Combustíveis;

R$ 22.000,00 – Auxílio moradia;

R$ 59,000,00 – Passagens aéreas;

R$ 17.997,00 – Auxílio saúde;

R$ 12.100,00 – Auxílio educação;

R$ 16.400,00 – Auxílio restaurante;

R$ 13.400,00 – Auxílio Cultural;

Auxílio dentista... Auxílio farmácia... Tudo aquilo que o trabalhador brasileiro não tem e nem nunca teve direito. Pena que antes de colocar seus votos nas urnas, não pensem, não pesquisem, não se conscientizem de que estão fazendo papel de Reborn.

 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Por que bolsonaristas não clamam por liberdade de expressão nos EUA?

  

Imagem Conjur.

Os deputados, senadores e demais políticos bolsonaristas vivem dizendo Brasil afora que estamos vivendo numa ditadura do STF. Por ditadura eles entendem que seja a instância máxima cumprindo seu dever e punindo criminosos e golpistas.

Porém, na terra do Tio Sam, onde temos um fugitivo da Câmara Federal vivendo às custas do inelegível, nada é relatado sobre os absurdos cometidos por um presidente que não aceita críticas, não aceita protestos e tenta impor uma ditadura aos americanos.

Que o diga o escritor australiano Alistair Kitchen, deportado ao chegar ao aeroporto de Los Angeles, após ter ficado doze horas retido numa sala, incomunicável e passando por interrogatórios sobre suas opiniões a respeito da guerra entre Israel e o Hamas.

O bufão americano não aceita que qualquer cidadão seja americano ou estrangeiro tenha opinião contrária ao extermínio praticado por Israel na faixa de Gaza. Estudantes e universidades estão sendo punidos por protestarem contra Israel ou a favor do povo palestino.

O escritor estava a caminho de Nova York, onde viveu por seis anos, até retornar para a Austrália em 2024. Ele cursou um mestrado na Universidade de Columbia. Mesmo assim, foi retirado da fila de desembarque, teve seu celular recolhido de suas mãos e obrigado a fornecer a senha do mesmo.

O motivo de sua deportação foi ter opinião favorável ao povo Palestino. Em resumo, a antiga maior democracia do mundo, exemplo de nação capitalista do planeta, agora se curva diante de um déspota tirano que não aceita ser contrariado.

Imaginem se o fato acima tivesse ocorrido no Aeroporto do Galeão ou Guarulhos e o cidadão fosse deportado por falar mal de Lula ou do Brasil? A cerne da questão está na hipocrisia das nossas elites financeiras, da nossa grande mídia e dos brasileiros pobres de direita que apoiam tudo que não presta, desde que sejam contrários ao governo Lula. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Esta é a história de como se começa a perder a democracia: eu vi, ninguém me contou!

Não vamos deixar a França para os fascistas, lê-se no cartaz Jerome Gilles NurPhoto via Getty Images.

Um dos pilares da democracia ocidental é a liberdade de expressão e de manifestação. E é isso que está em erosão. As sucessivas crises, a ideia de estado de exceção, abriram caminho para que a força emasculada do Estado seja usada para reprimir direitos que achávamos adquiridos. Está tudo a acontecer à nossa frente. Mas, claro, escolhemos não olhar. Talvez até ao dia que nos bata à porta. Talvez até ao dia em que não seja preciso ter a coragem daqueles miúdos para levar com cassetetes nos lombos.

São quase oito da noite, na Place de la République, no centro de Paris. É um final de tarde quente e as esplanadas em torno da estátua da Marianne, borbulham de vida e animação. Quando me aproximo da imagem da República Francesa, saltam-me à vista as pixagens que lhe mancham a pedra. Só então reparo que a placa central da praça tem um cordão de polícias de choque, parados à sua volta. Por entre eles vão passando jovens com lenços palestinos ou bandeiras da Palestina. Cumprimentam-se à medida que se dirigem para a rua que fica mesmo em frente do local cercado pelos polícias. Uma das raparigas, que traz ao pescoço uma máscara antigás pimenta amarela, cumprimenta efusivamente um rapaz que, como ela, se aproxima de um grupo de manifestantes que não chegará aos 60. Juntos dizem vivas à Palestina e pedem a sua libertação, em Francês, Inglês e Espanhol. E aí ficam. Gritando e saltando ao ritmo das palavras de ordem.

Começa, então, a sentir-se a tensão subir. Os jovens continuam nos seus cânticos animados. Mas os polícias começam a convergir das bordas da praça para o centro. Chegam mais polícias. São todos muito jovens, mas ainda assim mais velhos do que os manifestantes. Reparo num rapaz de barbas ruivas, cuidadosamente aparadas, que comenta a cena com outro polícia moreno, enquanto se aproximam devagar, mas decididamente, para a pequena manifestação pacífica que decorre a poucos metros.

Há sensação de que está a alguma coisa para acontecer. Os polícias medem nas mãos os cassetetes e avançam. É como se estivesse prestes a começar uma caçada. Estão cada vez mais tensos. E começam a surgir mais polícias, vindos de todos os cantos da praça.

Quando são já mais de uma centena, os que estavam no centro da praça disparam a correr. À sua frente, o punhado de manifestantes para os cânticos e começa a fugir. A sua corrida instiga os polícias, que passam por mim num galope desenfreado. Os cassetetes em riste, que alguns metros à frente caem sobre as costas desprotegidas dos jovens. Vejo-os fugir em várias direções, perseguidos por agentes a pé, ao mesmo tempo que umas duas dezenas de motas, cada uma das quais com dois polícias em cima, se aproxima da praça.

Fujo também, evitando correr, com medo de ser confundida com um dos manifestantes e acabar como eles, espancada pelos polícias que agora já têm capacetes e, em alguns casos, máscaras negras a cobrir-lhes a face. Ando devagar, mas firmemente. Tão firmemente quanto me é possível, agora que as pernas me tremem e o coração se acelera.

À minha volta, nas esplanadas a vida segue. Bebem-se copos de final da tarde, petisca-se qualquer coisa nas brasseries. Não tenho sequer a coragem de olhar para trás. Não quero ver ao vivo as cenas de violência e repressão policial que quase todos os dias me aparecem nos vídeos do Instagram, mas que só agora presencio ao vivo, vendo do princípio ao fim toda a cena. Vendo o suficiente para afirmar, com a certeza de quem viu e ninguém lhe contou, que não houve provocações nem violência dos manifestantes.

À medida que me afasto da praça, com as pernas bambas, há uma ideia que não me sai da cabeça. Não havia um único jornalista presente. Não havia uma câmera, um microfone, nada, a não ser um videografo que estava claramente com os manifestantes, certamente para fazer um daqueles vídeos com que me deparo uma e outra vez nas redes sociais e em relação aos quais há sempre alguém que diz que a cena está descontextualizada, que a violência policial é justificada com as provocações de quem se manifesta.

Não há um único jornalista a registar a cena. E isso não me sai da cabeça enquanto me afasto. No dia seguinte, um taxista reage com indiferença à pergunta sobre o incidente. “É assim todos os sábados”, responde com um encolher de ombros. E a resposta encaixa bem no ar coreografado da cena que vi. Os caçadores e os caçados, cientes desde o início dos papéis que lhes cabem, prontos para encenar uma e outra vez o momento em que uns atacam e os outros fogem, em que uns protestam e os outros batem.

E a violência policial? Era um punhado de gente pacífica, não fizeram nada de mal. “Oh, isto é a França”, reage o taxista. “Isto não é o Brasil. Vocês são do Brasil, não são?”. Não, não somos. “Bem, então, isto não é Portugal”. Calo-me. Por quanto mais tempo isto não será assim em Portugal?

Penso na vez em que, ao atravessar a Alameda com os meus filhos, passámos pelo meio de uma manifestação pela paz na Palestina. O relvado estava cheio de famílias, algumas com carrinhos de bebés, outras com crianças que brincavam entre os cartazes, enquanto os pais conversavam descontraidamente. Expliquei aos miúdos os cartazes e as bandeiras e passámos por dois polícias, que assistiam à cena de braços cruzados, junto a um carro-patrulha, que entusiasmou muito mais as crianças do que a manifestação. “Podemos tirar uma fotografia?”, perguntaram. A resposta foi um sorriso do agente, que se pôs em pose para o retrato.

“Bem, então, isto não é Portugal”, dizia o taxista. E a questão é também essa. É que a cena que eu vi não é na China nem na Rússia. É num dos berços das democracias representativas ocidentais. É em França. Não é na Coreia do Norte. É em França. É em França, repito para mim mesma.

Podemos encontrar todas as explicações que quisermos. Mas não podemos negar que aquela demonstração de força policial não serve para controlar o punhado de miúdos que gritava pela Palestina. Não seriam precisos tantos meios para o fazer. Menos de metade dos polícias serviria bem esse propósito. Não. O que ali está em jogo é uma ação de comunicação. Fica bem evidente o preço a pagar por divergir do que o Estado entende ser uma posição aceitável.

Aqueles jovens sabem bem ao que vão. E os que estão nas esplanadas estão a ser instruídos a ignorar o que se passa. Acontece todos os sábados. E não há nenhum jornalista presente. É claro que o que se passa em Gaza deve ser silenciado e é claro o preço que se paga por defender o contrário.

Um dos pilares da democracia ocidental é a liberdade de expressão e de manifestação. E é isso que está em erosão. As sucessivas crises, a ideia de estado de exceção, abriram caminho para que a força emasculada do Estado seja usada para reprimir direitos que achávamos adquiridos. Está tudo a acontecer à nossa frente. Mas, claro, escolhemos não olhar. Talvez até ao dia que nos bata à porta. Talvez até ao dia em que não seja preciso ter a coragem daqueles miúdos para levar com cassetetes nos lombos.

A Marianne continua lá. Tem, sob os pés inscritas na pedra a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Mas a divisa parece, cada vez mais, uma letra morta. Um refrão que já quer dizer pouco. 

Autora: Margarida Davim – Tudo é política – Publicado na Revista Visão.