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26 de novembro de 2024

Custa acreditar até onde eles chegaram!

 

É muito triste ver que pagamos pesados tributos que, entre outras coisas, sustentam as nossas forças armadas com seu custo altíssimo. Preocupa ainda muito mais sabermos que ao final de um processo eleitoral limpo e transparente, uma parcela do comando militar brasileiro apoiou o planejamento para um golpe na democracia.

Com isso, tentaram trair a Constituição e o nosso povo ao participarem de diversas reuniões secretas após a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições gerais. Tudo para tentar manter no poder um sujeito que nada fez por eles nem pelo povo, muito menos pela pátria, em quatro anos enfadonhos e improdutivos.

A gestão Bolsonaro promoveu o atraso da educação, da ciência, com 700 mil mortes por falta de aquisição de vacinas e a patética disseminação de medicamentos para supostos tratamentos inexistentes contra a covid-19, como a Cloroquina. Uma gestão que não teve legado, não teve obras, não teve nada de positivo.

E foi para esse sujeito que emergiu do esgoto do baixo clero, expulso do Exército, que contou com a colaboração de alguns membros das Forças Armadas e da sociedade civil para planejar um golpe contra a pátria. Foram enganados ou estavam envolvidos até o pescoço nessa sórdida missão de colaborar com o planejamento de assassinatos de um presidente, um vice-presidente e um ministro do STF?

Graças ao trabalho investigativo da Polícia Federal, contendo áudios, vídeos, documentação farta e provas inquestionáveis, mais de 30 envolvidos foram denunciados por diversos crimes.

Essa gente que usou a religião, esteve em diversas Igrejas, mentiu para os pastores e seus fiéis, porque o projeto não era Deus, Pátria e Família. O projeto era de continuísmo no poder, manipulando essa gente, conquistando seus votos e mantendo o “rebanho” sob rédeas curtas.

Foram todos usados como massa de manobra, foram enganados pelo político mentiroso, ardiloso e golpista. Um dia, daqui há muitos anos talvez, alguns destes façam um mea culpa, por terem acreditado num sujeito que nunca foi cristão, que nunca proferiu as palavras de Cristo, que nunca comungou com os ideais religiosos.

As mortes na pandemia, a gestão improdutiva, os crimes cometidos, as joias desviadas da União, as propinas, nada fez com que milhares de brasileiros percebessem o quão estavam sendo enganados. Ao contrário, promoveram separações familiares e de amizade para defender um pulha, um golpista barato.

As investigações apontam que os acampamentos montados em frente aos quartéis após a derrota de Bolsonaro nas eleições faziam parte de um movimento articulado pelos militares.

“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas”, teria afirmado o General da Reserva Mario Fernandes em outro áudio.

A conspiração também envolvia a obtenção de informações sigilosas. Wladimir Matos, agente da PF, teria repassado ao grupo dados sobre a equipe de segurança e a localização do presidente Lula. Os dados foram usados para planejar ações que culminaram em episódios de violência, como os ataques em Brasília no dia da diplomação de Lula e Alckmin, em 12 de dezembro.

A investigação da PF, concluída em 21 de novembro, resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, o ex-ministro Augusto Heleno, Anderson Torres (ex-ministro da Justiça) e Valdemar Costa Neto (presidente do PL).

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

25 de novembro de 2024

Jeferson Miola: O CNPJ do golpe!

  

Ilustração de Renato Aroeira @arocartum

O ministro da Defesa José Múcio Monteiro repete como um mantra que os implicados na tentativa de golpe “são pessoas que pertencem às Forças Armadas, mas não estavam representando os militares, estavam com seus CPFs. Foi iniciativa de cada um”.

O ministro tem razão ao dizer que os golpistas fardados carregarão seus CPFs perante os tribunais. Mas o golpe, enquanto empreendimento institucional, tem CNPJ, e o CNPJ do golpe é o CNPJ das Forças Armadas.

Contraria a lógica elementar alegar que a execução do plano foi iniciativa individual e isolada, visto que dentre os 37 indiciados inicialmente no inquérito policial, 25 são militares da alta oficialidade, inclusive general da ativa e integrante do Alto Comando do Exército. Isso caracteriza, portanto, um fenômeno sistêmico –e não individual– da instituição militar.

Na condição de porta-voz e representante dos interesses militares, Múcio se empenha em sedimentar a narrativa que individualiza as responsabilidades criminosas para desresponsabilizar a instituição militar e seus altos comandos hierárquicos.

Esta versão, inspirada nos manuais militares de diversionismo e encampada pelo ministro Múcio, é inverossímil, pois a tomada do poder civil por meio de um golpe de Estado foi diretriz institucional das Forças Armadas no contexto da conspiração arquitetada pelo Exército para instalar o poder militar no país.

São visíveis as digitais do envolvimento institucional das Forças Armadas, em especial do Exército, no longo processo iniciado com a desestabilização política para derrubar a presidente Dilma e aprofundado com o julgamento farsesco para prender Lula e tirá-lo da eleição presidencial de 2018.

Bolsonaro foi instrumento e veículo para a materialização deste projeto secreto de poder das cúpulas militares. O plano golpista foi abalado sobretudo pela oposição da Administração Biden. A falta de apoio da potência imperial quebrou a unidade do Alto Comando do Exército [ACE] em torno do empreendimento golpista, obrigando as cúpulas militares a abortarem o plano.

Esta divisão interna do ACE representou uma novidade; rompeu a rotina de unidade ostentada em outras circunstâncias graves, como quando da publicação do tweet do general Villas Bôas em nome do Alto Comando para constranger o STF a manter a prisão de Lula, em 3 de abril de 2018; e quando da divulgação, em 11 de novembro de 2022, do comunicado conjunto dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica atacando o STF, defendendo os acampamentos nos quartéis e provocando o clima de caos [Às Instituições e ao Povo Brasileiro].

Apesar da divisão interna no Alto Comando, setores da caserna continuaram determinados a tocar a empreitada até o fim.

Em 19 de dezembro de 2022, faltando apenas 13 dias para o início do governo Lula, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu contabilizou para o general Mario Fernandes o mapa de forças no Alto Comando: “cinco [generais] não querem [o golpe], três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente”.

Como se observa, o golpe era um assunto debatido corriqueiramente no Alto Comando do Exército sem que um único general, dentre os 16 da instância, denunciasse a conspiração e os sediciosos. A cumplicidade era total – uma cumplicidade corporativa e institucional.

Seria ingenuidade infantil supor que os comandantes das três Forças desconheciam a trama golpista que envolvia os acampamentos criminosos nos quartéis e a atuação coordenada de generais, almirantes, brigadeiros, coronéis, tenentes coronéis, oficiais e suboficiais na conspiração.

O golpe tem personalidade jurídico militar. O CNPJ do golpe é o CNPJ das Forças Armadas.

Autor: Jeferson Miola – Publicado no Site VioMundo.

24 de novembro de 2024

Saudades do velho Briza!

  

Exibição do filme 'Brizola, anotações para uma história' - Leonardo Melgarejo.

Neste país é um desafio e tanto a tentativa de comentar um assunto por semana, sem perder o rumo do grande escândalo do momento.

Como escolher, por exemplo, o que seria relevante de tratar hoje, se antes de concluída avaliação daquele caso inédito, envolvendo o bolsonarista trapalhão kamikaze, que se explodiu em Brasília, e ainda durante as atividades de dimensão global, delineadas no encontro do G20 – com os avanços espetaculares ali anunciados – e de ver declaração oficial, tivemos a escandalosa confirmação do plano para assassinar (por agentes de elite da forças armadas nacionais, com participação de ministros de estado) o então presidente eleito e seu vice, com detalhamento de tocaia preparada para um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que na ocasião presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)?

 E o que pensar das manifestações associadas?

Como deixar passar sem alarde os argumentos de cumplicidade explícita trazidos à tona pela incontinência do filho zero-1 e do próprio Bolsonaro ou antecipados no início deste ano, pelo ex-vice presidente da República?

Eles são legião, eles têm acesso a armas de todo o tipo, e sem dúvida eles estão com medo.

Por isso, diante da certeza de que em tempos de normalidade não escaparão da justiça, eles tendem a se fazer mais e mais perigosos. E nós, dada a lentidão dos tão esperados e sempre protelados indiciamentos e prisões, ficamos amedrontados a tal ponto que, hoje, já somos quase cúmplices. Por baixo, na onda de apatia que nos arrasta, estamos contribuindo para o esvaziamento de conteúdos que deveriam levar milhões às ruas, em atividades de fortalecimento ao governo Lula que, do jeito que pode, está viabilizando a contenção do fascismo.

Assim, diante do empalidecimento das notícias positivas e observando que se reforçam - entre todos - os temores quanto ao que poderá acontecer a seguir, está difícil alinhavar aqui uma visão otimista sobre os acontecimentos. Afinal, os analistas políticos “de peso” estão anunciando que o golpe não acabou (por que o General Braga Neto ainda não foi preso?), que o governo Lula se enfraquece deixando passar oportunidades de ampliar forças e hesitando em reafirmar sua legitima autoridade. Por que Lula não anunciou, em meio àquele belo discurso no encerramento da cúpula do G20, as evidentes conexões entre o bloqueio parlamentar a seu governo e o fato de que seu envenenamento teria sido programado na casa de general candidato a vice-presidente e ex ministro de Bolsonaro?

Especula-se que “em breve” o Procurador Geral da República (PGR) finalmente oferecerá denúncia de crimes da cúpula golpista e que o mito, sendo quem é, derreterá arrastando para a cadeia a coluna vertebral do movimento antidemocrático. Mas também se especula que a tradição fascistoide das forças armadas será preservada, e que com isso, se não agora, em breve, o golpe virá. A limitação dos criminosos imputados a meia dúzia de bois de piranha, que aguentariam no osso confiando que em poucos anos estarão anistiados, garantiria isso.

Nesta moldura, sendo evidente que a sustentação do mecanismo exige a preservação do discurso, parece óbvio que o líder covarde terá que ser silenciado, transformado em mártir, o que nos faz temer por ele. Todos sabem que a imagem dele ajuda tanto quanto sua pessoa atrapalha. Como entre eles não há escrúpulo, será descartado.

Com esta perspectiva creio que, enquanto não for preso, Bolsonaro pai corre risco de morrer de forma esquisita, por acidente, bala ou veneno, como parece já ter ocorrido com Teori Zavascki, Adriano da Nóbrega, Gustavo Bebianno, e sabe-se lá que outros.

E com esta pulga na orelha, de olho na polarização que não para de se agravar no congresso e nas ruas, resta crer que a proteção da democracia, exige a prisão urgente, preventiva que seja, do triplo-i, e seus principais assessores.

É com essa interpretação da realidade, por saber que tanto a covardia como a coragem, contagiam, que precisamos, sem descuidar do que já vivemos, do que já sabemos, olhar para a frente e ir às ruas.

Fazer isso encarando o passado, mas sem se fixar nele, sem fugir das responsabilidades para com a necessidade de construir as alianças e compromissos que permitirão levar o país adiante, em apoio à emancipação humana, à justiça, à paz em vida.

Trago este ponto, com esperança de estar contribuindo para o que precisamos fazer, o filme Brizola, anotações para uma história. Assisti em pré-estreia esta semana (segunda-feira dia, 18), no Theatro São Pedro, e lá decidi que este seria o tema desta coluna que, como se vê, mudou de rumo sem abandonar os princípios.

O filme, mais uma obra da arte de Silvio Tendler, expõe a trajetória de vida que de um gaúcho que veio descalço, ainda guri, de Carazinho, e quase mudou o destino deste país. Fez muito e só não fez mais porque não ajudamos o bastante. Tendler nos mostra que Leonel passou a vida dando exemplos a respeito da importância de construir avanços, sempre, da forma possível e apesar das circunstâncias.

Por isso, mas não apenas por isso, acredito que aquele documentário ainda será utilizado como elemento de apoio à compreensão da realidade brasileira, naqueles tempos, nos dias atuais e inclusive em piores momentos que virão, se assim o permitirmos.

Nisso aquele filho do Bolsonaro tinha razão. Não se trata mais de “se”, mas sim de “quando” e “como” ocorrerá o enfrentamento. Por hora, e esperamos que assim continue, as definições se darão com respeito à constituição, no Judiciário. Mas se não formos às ruas, isto será permitido até quando?

Concluída a coluna desta semana, saiu (agora) a grande notícia, aquela que ofusca as demais: Bolsonaro e mais 36 acabam de ser indiciados pela Polícia Federal. Se a Procuradoria Geral da República (PGR) vai fazer sua parte e quando o fará, passa a ser o tema de amanhã. Hoje, cresce na alma dos brasileiros que acompanharam e entendem a luta de pessoas como Brizola, Arraes, Lula e tanto outros, um mesmo desejo: que estes golpistas sejam recolhidos e aguardem julgamento em cana, protegidos dos bandidos que os cercam e que agora já não precisam mais deles vivos.

Sem anistia. Todos para a rua!!!

Autor: Leonardo Melgarejo – Publicado no Site Brasil de Fato.