O mês de fevereiro está começando, sinal que as
férias terminaram. O tempo de descanso é um espaço vital, distorcendo os
ensinamentos e a ciência de Albert Einstein. O blog e o bloco estão na rua,
agora, cada qual causando alegrias, alegorias e angústias. A tv já mostra a
festança carnavalesca em curso junto aos que reclamam dos transtornos da
ocupação física e sonora do mesmo espaço. O ar que respiramos é o mesmo que
transmite o som, quer queiram os ouvidos ou não. Ouvidos sentidos, dirão os que
não toleram o Carnaval. Já brinquei muito no passado e hoje apenas pularei,
pularei os dias para chegar em outros, uma ponte feita de livros e leituras.
Mas a questão do espaço é crucial, para festas ou não são ocupações necessárias
e ilegais com as quais convivemos, destacadas nestes dias de fortes chuvas,
enchentes e desmoronamentos. Dizem que o caipira vê com olho gordo a amplitude
do espaço onde está e logo quer ocupar o entorno, com sua roça, seus bichos,
seus matos, sua vida. Posso estar sendo leviano sociologicamente, mas é fato
que a alusão foi e tem sido dita.
Ampliar os espaços vitais levou-me a buscar
formação na Alemanha, entre 1992 e 1994. Aprender a língua de Goethe foi tarefa
difícil, mas não impossível. Um dos exercícios era ler literatura menos
filosófica e mais leve - o que hoje estão chamando de literatura de
entretenimento - naquela língua para melhorar o vocabulário e foi assim que
tomei contato com o Jurassic Park, de Michael Crichton. O autor é
norte-americano e li uma tradução que acabara de ser publicada. Uma das
"teses" do livro é que a vida sempre encontra um caminho. A ficção
baseada em ciência fica mais plausível e interessante, diferente dos efeitos
especiais que buscam um entretenimento de ação sem atenção. Sim, nos filmes
baseados nessa obra original as perseguições pelos dinossauros são um ponto
importante. Dentre várias reflexões, a história do livro aponta para a
manipulação genética e o necessário espaço para que os animais vivam. A
experiência da leitura foi muito boa, não apenas pelo aprendizado da língua
germânica, mas pela correlação com o sentimento dos alemães em relação à
guerra, ainda recente para os mais velhos. De um colega de laboratório ouvi o
desejo de um dia morar nos Estados Unidos, pois lá tudo era amplo e havia muito
espaço. Visão não muito diferente de nosso caipira. A defesa por um espaço
vital foi um dos argumentos da ascensão do nazismo na Europa.
Anos atrás, a revista CULT manteve um espaço em seu site chamado "Lugar de fala" para publicar artigos dos leitores que tratassem de temas específicos, mensalmente renovados(https://revistacult.uol.com.br/home/colunistas/lugar-de-fala/).
Tive algumas contribuições lá publicadas, a última
foi sobre a angústia de um missivista contumaz (https://revistacult.uol.com.br/home/angustia-do-missivista-contumaz/)
mas a discussão que faço é quanto à necessidade de ter vivenciado alguma
situação para dela falar com propriedade, o que chamam hoje de lugar de fala.
Por exemplo, a literatura fantástica não é escrita por pessoas fantásticas, no
sentido de serem pessoas reais, mortais, muito diferente dos personagens que
criam. Um cientista escrever sobre ficção científica tem, na minha visão, esse
viés de credibilidade que Michel Crichton conseguiu, tornando a escrita mais
apetitosa. Talvez esteja forçando um espaço para dar vida ao que eu mesmo
escrevo. Desculpem!
Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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