O Brasil tem 47 milhões de estudantes matriculados na educação básica, desses somente 19% se autodeclaram pardos, 3% pretos, e apenas 0,6% quilombolas. - Foto da Agência Brasil.
A educação é um direito de todos e um dever do Estado, e isso está explícito na Constituição Federal de 1988. O processo de aprendizagem escolar tem papel fundamental no desenvolvimento de um cidadão e também tem extrema importância no desenvolvimento de um país, pois tendo uma boa educação conseguiremos formar bons cidadãos.
O Brasil é um país com dimensões continentais, forjado pela influência colonizadora e a exploração do trabalho negro. Sua sociedade é resultado da miscigenação formada pelas mais várias etnias vindas da diáspora africana e indígena, e seus descendentes convivem, hoje, em sociedade.
Cabe aos nossos governantes propiciar oportunidades iguais para todos em
questões de direitos, principalmente, o direito à educação. Entretanto, ainda existe
muita desigualdade no acesso à educação em nosso país, principalmente, para a
população preta, parda, indígena ou quilombola. Isto se dá em função do modelo
escravocrata imposto durante a colonização e, posteriormente, pelas políticas
de Estado que priorizaram a educação aos centros urbanos e
implantaram um modelo educacional excludente para a classe
trabalhadora.
Atualmente, podemos citar também as questões financeiras, pois em alguns casos
as unidades escolares ficam distantes da residência dos aprendentes e alguns
governantes não disponibilizam transporte, mesmo havendo a obrigatoriedade,
para que eles possam se deslocar até a escola.
Outro fator é a questão do trabalho, pois em alguns casos muitos desistem dos seus estudos para trabalhar e auxiliar em casa. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua de 2019, 49,7% das crianças brancas frequentavam as escolas, enquanto 39,3% de crianças pretas e pardas frequentavam as escolas. A diferença na porcentagem desses dados pode estar relacionada a esses fatores que foram citados anteriormente.
O que
observamos é que em alguns casos, os princípios constitucionais não são
seguidos à risca. Na maioria das vezes, as comunidades mais afetadas pela falta
de acesso à educação são as comunidades pretas, pardas, indígenas e
quilombolas. Nos últimos quatro anos, antecedentes do governo federal atual,
observamos uma desestruturação de políticas públicas que visavam trabalhar para
diminuir ou acabar com essas diferenças no acesso à educação. Houve um desmonte
das políticas de inclusão escolar.
Falando sobre o perfil dos estudantes, de acordo com os dados do Censo
Escolar 2022, do Ministério da Educação (MEC), divulgados em março de
2023, o Brasil tem 47 milhões de estudantes matriculados na educação básica,
desses somente 19% se autodeclaram pardos, 3% pretos, e apenas 0,6%
quilombolas. Onde se encontra o restante da população negra brasileira, em
questão de educação, já que o censo de 2022 indicou que pela primeira vez a
maioria se autodeclara preta ou parda? Dados do IBGE (Censo, 2022), cerca de
92,1 milhões de pessoas se declararam pardas, o equivalente a 45,3% da
população do país, superando a população branca 43,5%, e 10, 2 % se declaram
pretas, 0,8% são indígenas (0,8%) e 0,4% são amarelas.
O atual governo federal resolveu reativar políticas públicas que visam
eliminar a discriminação negativa racial e ofertar uma educação igualitária a
todas as pessoas. A Capes vem criando e retomando diversos programas de
políticas afirmativas em 2023, com foco na pós-graduação e na formação de
professores para a educação básica.
No dia 20 de novembro de 2023, a Capes e o Ministério da Igualdade Racial (MIR)
assinaram o Acordo de Cooperação Técnica no âmbito dos Caminhos Amefricanos:
Programa de Intercâmbio Sul-Sul. Esse acordo cria parcerias para que haja
intercâmbios com países africanos, latino-americanos e caribenhos, favorecendo
assim a discussão sobre racismo e discriminação social e também possibilitando
a abertura de novos horizontes de conhecimento para os estudantes do
Brasil.
Divulgação Foto @capes_oficial instagram.
Outra ação foi a atualização da Lei 14.723, sancionada no dia 13 de novembro de 2023. Essa lei estabelece que as instituições federais de ensino superior promovam políticas de inclusão de pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência para ingresso nos cursos de mestrado e doutorado. A atualização da lei diminui a renda familiar per capita máxima, de 1,5 para 1 salário mínimo, possibilitando a inclusão de estudantes que se encontram nos grupos citados na lei.
Os povos indígenas também sofrem com a questão da desigualdade educacional no
Brasil. A Constituição Federal de 1988 garante uma educação específica e
diferenciada aos indígenas, para a qual o processo de ensino e aprendizagem
deve ser adaptado à cultura de cada etnia (CNTE, 2023). As escolas indígenas
enfrentam problemas graves, como a falta de trabalhadores em número adequado, a
falta de estrutura física e a falta de materiais adequados para o
trabalho.
Segundo dados do censo escolar de 2021, das 3.359 escolas indígenas, 30%
não têm energia elétrica, 63% não possuem água potável e só 10% das escolas têm
acesso à internet. Observando esses dados, podemos compreender as complicações
relacionadas ao ensino aos povos indígenas. Os povos indígenas devem ter uma
atenção especial com relação ao acesso à educação, saúde e direito à moradia
(terras), e com o respeito a todos esses direitos poderemos garantir uma vida
digna a esses povos que foram tão desrespeitados nos últimos tempos.
Enfim, a educação é um fator primordial para o desenvolvimento de uma sociedade e deve ser disponibilizada de maneira igualitária para todos, mas isso nem sempre acontece. Observamos que as comunidades de pessoas pretas, pardas, indígenas e quilombolas são as mais afetadas por essas desigualdades e se faz necessária a criação de políticas públicas para que esse cenário de desigualdade termine. Hoje podemos dizer que temos um governo federal preocupado com a educação de todos e que está promovendo mudanças significativas no cenário de descaso ocorrido anteriormente.
Para saber mais:
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2019.
FEFFERMANN, Marisa et al. As interfaces do Genocídio no Brasil: raça,
gênero e classe. São Paulo: Instituto Saúde, 2018.
CNTE. Educação para os povos indígenas pede socorro, 2023.
Autores: Elias Pereira da Silva é graduando em licenciatura de Ciências
Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Centro de Ciências
Agrárias (CCA), campus II, em Areia (PB). e Ana Cristina Silva Daxenberger é
Doutora em Educação, Professora Associada III da UFPB, membro do Neabi/UFPB.
Representante do Comitê de Inclusão e Acessibilidade/UFPB, subsede Areia.
Professora do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL) da UFPB.
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