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1 de novembro de 2023

Jogos de palavras!

Usar cartas preteridas na composição do blog havia sido uma única vez. Esta é a segunda. Na sequência literária de semana passada, um jornalão da capital paulista passou a perguntar a seus leitores qual é o jeito favorito de ler. Sim, ainda leio os jornalões, quase que por obrigação, mas leio com muito mais ânimo os livros. O que respondi? Três livros simultâneos, um mais denso e outros "leves". Sempre tenho um livro à mão para ler em filas, salas de espera e transporte público. Preferência, é claro, pelo papel, com seu cheiro e volume, mas, se não houver a possibilidade, enfrento o digital sem problemas. Em casa, a leitura acontece mais no sofá e na cama. Livros? Sim, lê-los. Se não os ler, como sabê-los? Foi até aí a resposta, não considerada pelo jornal, integrando outra missiva esquecida. Assim, tomo-a emprestada em auto plágio para alimentar as repetições do momento, devidas ao calendário, justifico. É véspera de feriado e o público leitor baixa tal qual banhista na praia.

Palavras são ferramentas ou brinquedos; artigos de luxo ou de sobrevivência. Depende da ocasião. Usei algumas delas em joguete, inspirado por um artigo de Sérgio Rodrigues, já vão alguns meses. Ele fez uma discussão sobre a "dor do marketing" em que analise uma tese pela qual parece que a necessidade de consumo é para suprir ou curar alguma dor. Dor de quem vende e de quem compra. Interessante ele trazer tema tão corrente em mídias e meios, permitindo o trocadilho em base latina (media - pronunciada mídia em inglês - é apenas o plural de médium, meio). O próprio mercado é uma metáfora das relações sociais, não acham, tal qual a dor do cliente? Porém, saindo desse imbróglio filosófico-social, pensei que Sérgio aproveitaria para falar sobre as derivações de 'dolor' para dor e 'color' para cor e que bolor não gerou 'bor', nem pôr veio de 'polor'. Tudo bem que 'mor' veio de amor e 'sor' de professor, mas aí já são modernidades da fala popular, que não adentraram o marketing ainda.

De tais rótulos palavrescos chegamos ao batismo de alguns personagens, o que seria matéria inócua e insípida, não fosse um dia Ruy Castro nos fazer buscar na internet a origem dos nomes em português de personagens clássicos dos quadrinhos. Isso porque, pouco antes de outro feriado, o da Independência, ele falou sobre o "batismo da Luluzinha". Vale a pena consultarem o oráculo para descobrir a origem de nomes em português de clássicos estrangeiros. Como se mais nada tivesse a fazer, estou ali descobrindo que os sobrinhos do Pato Donald começaram como Tico, Nico e Chico, vejam só! A busca por quem os batizou é o encontro da história de tempos em que os protagonistas não contavam que dela fariam parte, nem buscavam seus quinze minutos (ou segundos, hoje) de fama. Ruy Castro, quando está inspirado e pouco afeito a falar de política, traz muitas pérolas. Outra foi um brilhante levantamento dos supostos artistas e escritores premonitores de suas mortes, ou seja, os que escreveram quando e como iriam morrer. Guimarães Rosa, Gonçalves Dias e Mario Faustino foram alguns deles. Sempre sagaz, Ruy encerra dizendo-se apenas capaz de prever o passado, frase final lapidar, tornando-o candidato a economista, essa sim a única profissão que consegue fazer tal previsão.

Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos três Parágrafos.

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