Usar cartas preteridas na composição do blog havia
sido uma única vez. Esta é a segunda. Na sequência literária de semana passada,
um jornalão da capital paulista passou a perguntar a seus leitores qual é o
jeito favorito de ler. Sim, ainda leio os jornalões, quase que por obrigação,
mas leio com muito mais ânimo os livros. O que respondi? Três livros
simultâneos, um mais denso e outros "leves". Sempre tenho um livro à
mão para ler em filas, salas de espera e transporte público. Preferência, é claro,
pelo papel, com seu cheiro e volume, mas, se não houver a possibilidade,
enfrento o digital sem problemas. Em casa, a leitura acontece mais no sofá e na
cama. Livros? Sim, lê-los. Se não os ler, como sabê-los? Foi
até aí a resposta, não considerada pelo jornal, integrando outra missiva
esquecida. Assim, tomo-a emprestada em auto plágio para alimentar as repetições
do momento, devidas ao calendário, justifico. É véspera de feriado e o público
leitor baixa tal qual banhista na praia.
Palavras são ferramentas ou brinquedos; artigos de
luxo ou de sobrevivência. Depende da ocasião. Usei algumas delas em joguete,
inspirado por um artigo de Sérgio Rodrigues, já vão alguns meses. Ele fez uma
discussão sobre a "dor do marketing" em que analise uma tese pela qual
parece que a necessidade de consumo é para suprir ou curar alguma dor. Dor de
quem vende e de quem compra. Interessante ele trazer tema tão corrente em
mídias e meios, permitindo o trocadilho em base latina (media - pronunciada
mídia em inglês - é apenas o plural de médium, meio). O próprio
mercado é uma metáfora das relações sociais, não acham, tal qual a dor do
cliente? Porém, saindo desse imbróglio filosófico-social, pensei que Sérgio
aproveitaria para falar sobre as derivações de 'dolor' para dor e 'color' para
cor e que bolor não gerou 'bor', nem pôr veio de 'polor'. Tudo bem que 'mor'
veio de amor e 'sor' de professor, mas aí já são modernidades da fala popular,
que não adentraram o marketing ainda.
De tais rótulos palavrescos chegamos ao batismo de
alguns personagens, o que seria matéria inócua e insípida, não fosse um dia Ruy
Castro nos fazer buscar na internet a origem dos nomes em português de
personagens clássicos dos quadrinhos. Isso porque, pouco antes de outro
feriado, o da Independência, ele falou sobre o "batismo da
Luluzinha". Vale a pena consultarem o oráculo para descobrir a origem de
nomes em português de clássicos estrangeiros. Como se mais nada tivesse a
fazer, estou ali descobrindo que os sobrinhos do Pato Donald começaram como
Tico, Nico e Chico, vejam só! A busca por quem os batizou é o encontro da
história de tempos em que os protagonistas não contavam que dela fariam parte,
nem buscavam seus quinze minutos (ou segundos, hoje) de fama. Ruy Castro,
quando está inspirado e pouco afeito a falar de política, traz muitas pérolas.
Outra foi um brilhante levantamento dos supostos artistas e escritores
premonitores de suas mortes, ou seja, os que escreveram quando e como iriam
morrer. Guimarães Rosa, Gonçalves Dias e Mario Faustino foram alguns deles. Sempre
sagaz, Ruy encerra dizendo-se apenas capaz de prever o passado, frase final
lapidar, tornando-o candidato a economista, essa sim a única profissão que
consegue fazer tal previsão.
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos três Parágrafos.
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