Percebemos o ambiente por meio de estímulos
encaminhados aos nossos olhos e a miríade de terminações nervosas ligadas ao
tato, paladar e olfato. Essas sensações são subjetivas por natureza, pois, o mesmo
estímulo pode produzir sensações diferentes em cérebros diferentes. Portanto, à
incompletude de nossos sentidos devemos adicionar a subjetividade de nossos pensamentos.
Podemos dizer que a realidade permanece
velada; ninguém a conhece e tudo é interpretação. Estamos “cegos” para o mundo;
não estamos olhando para fora, mas sim para dentro de nossa própria cabeça. Estamos
lendo o cérebro e assistindo ao filme que ele quer que vejamos. Somos
prisioneiros de um mundo interior, de uma máquina que produz uma realidade virtual.
O fato é que nós percebemos somente uma porção ínfima do oceano de vibrações em
que estamos imersos.
Imagine aumentar o mundo um milhão de vezes,
com as bactérias medindo mais de um metro e um fio de cabelo medindo cem metros
de diâmetro. Mesmo com esse aumento, não seriamos capazes de ver um átomo de hidrogênio.
Se tudo fosse aumentado ainda mais, o suficiente para deixar uma bola de tênis do
tamanho da Terra, o mundo seria cem milhões de vezes maior. Nesse ponto o átomo
seria visível. Se então aumentássemos o átomo até que o próton se tornasse visível,
seu elétron – que ainda não seria visível – estaria orbitando a uma distância de
cem metros. O átomo é um abismo preenchido com elétrons e as partículas do núcleo.
Quanto mais se vasculha o abismo, mais se dá conta de que a massa em si não existe.
Qualquer objeto que supomos sólido é quase completamente vazio e o vazio é de fato
a ausência de percepção.
O mundo sem vazio seria uma massa incompreensível
de matéria densa. O vazio dá identidade e forma aos corpos; dentro da matéria ele
cria intervalos e espaços que moldam átomos e moléculas. O vazio é o responsável
por ampliar e separar a matéria.
As partículas, os átomos e as moléculas
estão dançando. Uma pedra, um objeto, um prédio, parecem não se mover nem um pouco,
mas, na verdade se movem. Nada está imóvel, a não ser no abismo do zero absoluto.
Os elétrons viajam a centenas de quilômetros por segundo, os prótons alcançam
velocidades de trinta mil bilhões de bilhões de vezes por segundo. Considerando
que cargas elétricas em movimento geram campos magnéticos, tais campos constantemente
permeiam tudo.
A Mecânica Quântica demonstrou que ondas e partículas são aspectos diferentes da mesma coisa: massa e energia são intercambiáveis. Numa velocidade muito alta, a massa converte-se em energia e a energia também pode se tornar massa, porque na realidade, massa não é massa, mas energia distorcida pelos nossos sentidos, pela nossa percepção.
Estamos lidando com um mundo de representações
sugeridas pelos sentidos e imaginações. Nada é uma certeza. A realidade objetiva
é inatingível.
Um poeta sufi escreveu sobre a ideia
de se encontrar frente a frente com Deus:
Deus e eu a sós no espaço... ninguém mais
a vista...“E onde estão todas as pessoas meu Senhor?”, perguntei, “por que não sinto
medo encontrando-O aqui neste momento?”. “Será este o dia do julgamento? ”
Ao que Deus respondeu: “Tudo era apenas
um sonho, sonho que não existe mais. Não existe. Você... nunca houve Você no passado.
Nada existe, senão Eu”.
Paulo
Cesar Razuk
Professor
Titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia
da Unesp – Campus de Bauru
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