O ano de 2017 terminou e foi um ano em
que os homens que tomaram o poder em Brasília sacramentaram as mesmas políticas
públicas rejeitadas reiteradamente pelo povo nas urnas. A sujeira se ampliou de
tal forma que ficou insustentável defender a classe política, com raríssimas
exceções.
Ao invés das chatas retrospectivas que
as emissoras de televisão fazem nesta época, podemos focar algum assunto que foi
jogado para debaixo das câmeras e das mesas nas redações da mídia do país. Como
acontece todos os anos, assuntos de grande importância não ganham o merecido
destaque e acabam morrendo em notinhas de rodapé. Destaco um deles:
Mais um ano se vai sem que José Serra
seja investigado, intimado ou chamado para explicar seu suposto envolvimento em
fatos que fizeram parte de delações premiadas pelos mesmos dirigentes de
empreiteiras, que levaram a prisão membros de outros partidos. Como bem disse o
jornalista João Filho em sua matéria no The Intercept_ Brasil, é impressionante
a capacidade de José Serra de escapar ileso na grande mídia mesmo tendo seu
nome envolvido em grandes escândalos. É o grande Houdini brasileiro! As denúncias
contra ele parecem que se apagam na mídia automaticamente em menos de 24 horas depois
de publicadas.
Em 2017, José Serra continua sendo um
fenômeno, na medida em que seu nome aparece em diversos casos de corrupção, mas
não lemos nos grandes jornais do eixo RJ/SP matérias e artigos especulando e
vociferando contra ele, nem capas de revistas semanais lhe tratando como um
criminoso.
Nunca mais ouvimos menções a respeito
da suposta conta na Suíça em que ele teria recebido R$ 23 milhões em propinas
da Odebrecht. Depois de lançadas na mídia, as denúncias sem serem investigadas
somem num buraco negro – um fenômeno que nunca ocorreu com Lula, Geddel
e até mesmo Aécio, que até pouco tempo atrás também desfrutava da amnésia
midiática.
A maior parte do eleitorado nacional nem
se lembra que José Serra contratou uma funcionária fantasma para seu gabinete.
Sim, o nome dela é Margrit Dutra Schmidt, uma grande amiga que Serra prefere
chamar de Mag. E quem é a Mag? Bom, ela é ex-mulher do ex-lobista Fernando
Lemos e irmã de Miriam Dutra – a polêmica ex-amante de FHC. Ela
recebia salário sem jamais ter comparecido ao trabalho. Fosse qualquer outro
político o protagonista desse escândalo, nós já estaríamos sabendo até a marca
da ração preferida do cachorrinho da funcionária fantasma.
Nesse ano, enquanto Michel Temer suava
frio e tentava comprar votos de deputados para se livrar das suas denúncias de
corrupção, Serra pedia demissão para sair à francesa alegando problemas de
saúde. A imprensa respeitou e ficou um bom tempo sem tocar em seu nome. Depois
desse período sabático, o tucano reaparece saudável, já articulando uma possível
candidatura para
o governo de São Paulo. Há até quem fale em seu nome para a disputa do
Planalto.
Graças a esse paparico midiático
e a total falta de interesse
do Ministério Público em São Paulo em investigar a sério o PSDB – Serra
chega ao final de 2017, mais antiaderente que panela de teflon. O tucano
continua ostentando a mesma imagem dos anos 1990: um cidadão correto, pai de
família, trabalhador, filho de feirantes da Moóca. Agora feche os olhos por um
momento e tente imaginar como seria o tratamento midiático se o protagonista
desses mesmos escândalos atendesse pelo nome de Luis Inácio.
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Gestor Público.
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