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4 de setembro de 2023

Memórias e esquecimentos!

Uma reunião para definir a melhor forma de lidar com arquivos públicos levou à discussão sobre memórias apagadas. Ainda que estudando nosso passado, há os que o reneguem e não querem entender a necessidade dessa compreensão para não repetir ou evitar os mesmos erros; nem tudo o que vivenciamos possui uma memória confiável. Na forma documental muitos papéis se perdem e a historiadora Eliane Morelli, naquela reunião, atentou para o fato de que, modernamente, outro desafio surge: o de não haver mais arquivos de e-mails trocados, aqueles que formam a memória de tratativas, discussões para a elaboração de projetos, quer seja uma decisão empresarial, quer seja de uma lei ou ação governamental. Bem, há os que usam a ferramenta para fins ilícitos e até se esquecem de apagar em definitivo das lixeiras virtuais... O uso das redes sociais também possui o dilema da dificuldade para resgatar tudo o que foi ali postado, uma vez que material antigo precisa ser apagado para dar lugar ao novo e se não é devidamente curtido ou compartilhado, o algoritmo trata de seu apagamento. Espaço virtual é uma metáfora, pois os bits e bytes de informação ocupam um espaço real e físico em algum lugar. O papel coleta a assinatura, tornando-o "oficial", mas, em face de tantos registros de imagens por celulares e outros dispositivos, torna-se redundante. Mas o virtual não substitui o real. Ou substitui?

História é também entretenimento e podemos alimentar a criatividade com conhecimentos do que passou. Minha formação não foi em Humanidades, sempre me penitencio por isso, e procuro aprender alguma coisa com quem sabe, meus colegas formados na área, e com os livros, artigos e revistas que eles indicam para ler. Biografias são a boa junção do passado com a literatura, ainda que algumas restam indigestas para terminar. A da Ângela Maria é um exemplo do qual não consigo me desvencilhar. Já que não podemos vivenciar todos os costumes de outrora, que leiamos sobre eles. Bons historiadores têm usado essa prerrogativa para contar fatos com detalhes e saber, por exemplo, qual foi o prato servido em determinado encontro que resultou num golpe de Estado dará mais sabor àquele saber, com as devidas vênias às redundâncias.

Os servidores que armazenam a informação cibernética dão como primeiro atrativo para que nos aliemos a eles a falsa propaganda de espaço ilimitado, que não é, como falei antes. Já tive que mudar o blog de lugar porque a plataforma ia "descontinuar" o serviço. Mesmo avisado, irritei-me ao ter os e-mails apagados da conta do CNPq (Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, órgão federal de fomento à pesquisa) não tanto pelo conteúdo, que não deve ser tão importante, mas pela condição. Eu havia sido avisado, anotado o prazo do encerramento da conta, escrevi em meu caderno de notas que deveria ao menos dar uma olhada naqueles 500 e-mails para ter certeza de que nada importante seria eliminado da existência cibernética e, mesmo com as salvaguardas, esqueci de fazer. A memória anda muito seletiva, quase beirando a seletividade (ou senilidade?) total, ou seja, nada registrando! Se o meio milhar soa um número alto, digo que nada é em comparação com os mais de 100 mil em outros endereços. E antes que me esqueça, em setembro comemoramos, em Campinas, o Mês Carlos Gomes, com muitas atividades e cultura: https://portalcultura.campinas.sp.gov.br/mes-carlos-gomes-2023. Bom para lembrar e guardar na memória.

Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog Três Parágrafos.

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