Uma reunião para definir a melhor forma de lidar
com arquivos públicos levou à discussão sobre memórias apagadas. Ainda que
estudando nosso passado, há os que o reneguem e não querem entender a
necessidade dessa compreensão para não repetir ou evitar os mesmos erros; nem
tudo o que vivenciamos possui uma memória confiável. Na forma documental muitos
papéis se perdem e a historiadora Eliane Morelli, naquela reunião, atentou para
o fato de que, modernamente, outro desafio surge: o de não haver mais arquivos
de e-mails trocados, aqueles que formam a memória de tratativas, discussões
para a elaboração de projetos, quer seja uma decisão empresarial, quer seja de
uma lei ou ação governamental. Bem, há os que usam a ferramenta para fins
ilícitos e até se esquecem de apagar em definitivo das lixeiras virtuais... O
uso das redes sociais também possui o dilema da dificuldade para resgatar tudo
o que foi ali postado, uma vez que material antigo precisa ser apagado para dar
lugar ao novo e se não é devidamente curtido ou compartilhado, o algoritmo
trata de seu apagamento. Espaço virtual é uma metáfora, pois os bits e bytes de
informação ocupam um espaço real e físico em algum lugar. O papel coleta a
assinatura, tornando-o "oficial", mas, em face de tantos registros de
imagens por celulares e outros dispositivos, torna-se redundante. Mas o virtual
não substitui o real. Ou substitui?
História é também entretenimento e podemos
alimentar a criatividade com conhecimentos do que passou. Minha formação não
foi em Humanidades, sempre me penitencio por isso, e procuro aprender alguma
coisa com quem sabe, meus colegas formados na área, e com os livros, artigos e
revistas que eles indicam para ler. Biografias são a boa junção do passado com
a literatura, ainda que algumas restam indigestas para terminar. A da Ângela
Maria é um exemplo do qual não consigo me desvencilhar. Já que não podemos
vivenciar todos os costumes de outrora, que leiamos sobre eles. Bons
historiadores têm usado essa prerrogativa para contar fatos com detalhes e
saber, por exemplo, qual foi o prato servido em determinado encontro que
resultou num golpe de Estado dará mais sabor àquele saber, com as devidas
vênias às redundâncias.
Os servidores que armazenam a informação
cibernética dão como primeiro atrativo para que nos aliemos a eles a falsa
propaganda de espaço ilimitado, que não é, como falei antes. Já tive que mudar
o blog de lugar porque a plataforma ia "descontinuar" o serviço.
Mesmo avisado, irritei-me ao ter os e-mails apagados da conta do CNPq (Conselho
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, órgão federal de fomento
à pesquisa) não tanto pelo conteúdo, que não deve ser tão importante, mas pela
condição. Eu havia sido avisado, anotado o prazo do encerramento da conta,
escrevi em meu caderno de notas que deveria ao menos dar uma olhada naqueles
500 e-mails para ter certeza de que nada importante seria eliminado da
existência cibernética e, mesmo com as salvaguardas, esqueci de fazer. A
memória anda muito seletiva, quase beirando a seletividade (ou senilidade?)
total, ou seja, nada registrando! Se o meio milhar soa um número alto, digo que
nada é em comparação com os mais de 100 mil em outros endereços. E antes que me
esqueça, em setembro comemoramos, em Campinas, o Mês Carlos Gomes, com muitas
atividades e cultura: https://portalcultura.campinas.sp.gov.br/mes-carlos-gomes-2023.
Bom para lembrar e guardar na memória.
Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog Três Parágrafos.
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