O carro faz barulho, suspensão consertada, o ruído continua. Não é nada grave, diz o mecânico. Nada descobriu nas partes íntimas do veículo que pudessem causar algum acidente. Mas o barulho continua. E vem da direita, como sói ser. A semana teve forte sotaque português e, obviamente, não quero relacionar com algum ruído, mas, sim, com o ruído de comunicação que possa haver quando se conduz o pensamento por expressões distintas.
Ainda mais com nossa língua repleta de
regionalismos, construções e sotaques. Certa vez, jovem universitário, cheguei
à praia quase deserta em Florianópolis e havia um outro semelhante ali
acampado.
Era habitante local e assim que abri a boca na
primeira interlocução já inferiu que eu era paulista, pronunciando o “s” feito
um “x”. Rimos. O paulistano, talvez até mais que o paulista, insiste em dizer
que são os outros que têm sotaque, não ele. Resultado de diferentes formas do
ar passar pelas cordas vocais e restante do aparelho fonador. Talvez seja isso,
o ar está raspando por partes metálicas do carro que insistem em vibrar
produzindo ondas mecânicas audíveis. E irritantes.
Qual a imensidão do Portugal que pretendemos ser? A
melhor de todos os lados, suponho. Brasileiros, vários, almejam ter a cidadania
europeia, talvez querendo melhores condições de vida. Eu quero ter melhores
condições de Brasil para nossas vidas. No dia da revolta dos cravos, 25 de
abril, Portugal teve seu momento de libertação da ditadura.
Achava confuso, depois curioso, Salazar nominar
tanto o ditador quanto um eminente pesquisador que dá nome ao Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade do Porto. Essa universidade completou 100
anos em 2011 e foi aberto um concurso de mini contos para marcar a efeméride.
Aberto a todos os escreventes em Português, ousei enviar dois textos, um deles, já não há candeeiros e donzelas, foi selecionado e publicado junto a outros 99
https://centenario.up.pt/concurso_100palavras.html. Escrevi outro fazendo alusão aos Salazares, uma vez que o motivo era
vivência na dita universidade. Desse gostaram menos.
Chico Buarque recebeu, finalmente, o prêmio que lhe
era por demais merecido. Disse o que deveria ter dito, ficamos todos muito
contentes. O dia foi muito significativo, véspera da mencionada revolução dos
cravos, e exatos 41 anos da morte do pai do cantor/compositor/escritor.
O que um filho tinha de seu pai? Segundo declaração
do próprio Chico, Sérgio Buarque de Hollanda estava menos preocupado com a
prole, por estar envolvido em resolver ou entender os problemas sociais do
Brasil. O Estadão fez apenas uma nota interna, a Folha de S. Paulo usou parte
significativa da capa para estampar a imagem de Lula e Chico na cerimônia.
Foi bonita a capa, pá, fiquei contente! O fraterno
abraço de dois ícones brasileiros é sinal de que a confiança está se
estabelecendo no país, depois dos abalos à esperança. Chico Buarque foi preciso
em suas palavras ao receber o Prêmio Camões, pois, pior do que ter o nome sujo
na praça, é ter um incauto sujando o espaço com seu infame nome.
Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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