Dia 13 de maio foi um dia marcante para as lutas contra a mineração predatória em nosso estado. Com a participação de mais de quatrocentas lideranças e pessoas vítimas do crime da Vale e do Estado – quilombolas, reinados, congados, folia de reis, artistas –, véspera do dia das mães, aconteceu no Auditório da Faculdade de Medicina, da UFMG, em BH, o lançamento do livro “O preço de um crime socioambiental”, de Marina Oliveira.
O seminário de lançamento foi um momento comovente. Houveram muitos depoimentos de vítimas sobreviventes do crime, como da professora Andresa, de Mário Campos, por exemplo, que em lágrimas denunciou:
“Amanhã é dia das mães. A mineradora Vale continua nos matando, pois retirou de mim o direito de ouvir meu filho Bruno me chamar de mãe, pois ele foi sepultado vivo junto com outras 271 pessoas na mina do Córrego do Feijão. A Vale roubou de mim o direito de ser avó, matou a continuidade da minha família”.
O senhor Antônio Cambão, quilombola da Comunidade de Marinhos, de Brumadinho, que, quase sem conseguir falar, lançou palavras de fogo apontando para um painel com as fotografias das 272 vítimas que foram sacrificadas pela Vale no altar da idolatria do mercado.
“A maioria destas 272 pessoas que estão com seus rostos aqui neste painel, todas assassinadas pela Vale, vinha me pedir a bênção quando eu chegava na rodoviária de Brumadinho, toda semana. A Vale roubou deles o direito de me pedir a bênção e roubou o meu direito de abençoá-los”.
Eliana Marques, da Comunidade de Cachoeira do Choro, em Curvelo, também em lágrimas, mas de cabeça erguida, denunciou com firmeza. “O crime da Vale continua nos matando, pois é um crime continuado que se reproduz todos os dias. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já demonstrou que a maioria do povo das comunidades atingidas está com metais pesados no próprio sangue. Só na minha comunidade mais de dez pessoas já suicidaram, porque não suportaram a violência brutal deste crime que matou 272 pessoas instantaneamente, sacrificou o rio Paraopeba, matando peixes e todos os seres vivos da bacia do Paraopeba. E continua disseminando depressão e morte nas nossas comunidades. O acordão que o governador Zema, o Tribunal de (In)Justiça de Minas Gerais (TJMG), Ministério Público Estadual (MP MG) e Federal (MPF) e Defensoria Pública de Minas (DPE-MG) assinaram com a Vale S/A foi mais um crime brutal que pavimentou o caminho para outros crimes, tal como a reeleição do Zema e a construção de um rodo minério na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Crime em cima de crime. Basta! Exigimos reparação integral.”
Durante o seminário também se denunciou o corte do orçamento das Assistências Técnicas “Independentes” (ATIs). Com o corte, pretendem impedir que as organizações de assessoria técnica mobilizem pessoas e as comunidades violentadas para lutas coletivas concretas, pelos seus direitos.
A Defensoria Pública da União (DPU) está de parabéns por ter se retirado do acordão e não o ter assinado. Assim, não se tornou cúmplice da injustiça que se reproduz. No mesmo modus operandi, sem participação ativa e com poder de decisão dos atingidos, agora se confabula outro acordão sobre o crime da Vale/Samarco/BHP na bacia do rio Doce.
Marina Oliveira Mesmo depois do rompimento da barragem em Mariana eu não consegui entender a complexidade do que significava. Florian Kopp Adveniat.
Assista ao vídeo do seminário: https://www.youtube.com/watch?v=SLPPiof5x1Q.
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Autor: Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos Carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; professor de teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica).
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