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17 de maio de 2022

Como reverter a perda de memória!

Camundongos jovens podem ser treinados para associar um estímulo sonoro ou visual a um leve choque elétrico.

O envelhecimento vem acompanhado de uma perda gradual da memória. No meu caso é aquele amigo que aparece na frente e o nome me escapa, ou os óculos que desaparecem sem deixar vestígios e reaparecem ainda na minha mão depois de minutos de busca. Sabemos que 25% das pessoas acima de 60 anos sofrem com a perda gradual da memória.  A novidade é que esse fenômeno pode ser revertido, pelo menos em camundongos.

Camundongos jovens podem ser treinados para associar um estimulo sonoro ou visual a um leve choque elétrico. Se forem ensinados na infância, esse aprendizado dura durante a vida adulta, mas são esquecidos quando envelhecem. E essa perda de memória é gradativa. Faz algum tempo sabemos que essa perda de memória ocorre ao mesmo tempo que a camada de mielina que recobre parte das células nervosas (neurônios) diminui. Essa camada de mielina é como se fosse a capa de um fio, sendo que a parte que ela recobre, o axônio, é por onde passa o estimulo nervoso. Essa camada de mielina é produzida por células que abraçam o axônio. Todos esses componentes do nosso cérebro ficam embebido em liquido cafelo raquidiano (LCR). É o tal liquor que os médicos coletam quando fazem uma punção na nossa coluna vertebral.

O que os cientistas fizeram foi ensinar camundongos a responder a estímulos na juventude e esperar que eles começassem a esquecer esse aprendizado. Quando eles já tinham esquecido (na velhice, que ocorre aos 18 meses) seus cérebros foram injetados com LCR coletado de camundongos jovens (3 semanas de vida) que nunca haviam sido treinados. Durante 7 dias os camundongos idosos receberam essa injeção de LCR. Após mais alguns dias os cientistas testaram a memória desses idosos e se surpreenderam ao observar que as memórias que tinham, desaparecido haviam retornado. Ou seja, a perda de memória tinha sido revertida. Examinando no microscópio o cérebro dos camundongos, descobriram que a injeção de LCR havia provocado uma recuperação na quantidade de mielina em volta dos axônios.

O passo seguinte foi identificar que componente presente no LCR de animais jovens estava provocando essa recuperação na memória dos idosos. Após muito buscar descobriram que uma proteína já conhecida dos cientistas, um fator de crescimento chamado Fgf-17, era a molécula responsável pela volta da memória e que isso ocorria porque o Fgf-17 estimulava o crescimento das células que produzem a camada de mielina.

Esse trabalho demonstra que a perda de memória pode ser revertida com injeções de Fgf-17. Como o Fgf-17 é uma molécula que existe normalmente nos camundongos jovens, e diminui nos idosos, esse tratamento é extremamente simples e teoricamente seguro.

Agora os cientistas devem estar testando se o Fgf-17 humano, quando usado para tratar idosos, pode reverter a perda de memória em seres humanos. Se isso for verdade, abre uma enorme possibilidade de reverter a perda de memória dos idosos. E eu vou entrar na fila na esperança de deixar de esquecer que meus óculos estão na minha mão.

Autor: Fernando Reinach, O Estado de S. Paulo.

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