Milton Ribeiro - denúncias de corrupção e armas, a síntese do governo Bolsonaro - Clauber Cleber Caetano - PR.
Na última
semana, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro disparou sua arma de fogo no
aeroporto de Brasília. O quarto ex-ministro da educação do governo Bolsonaro
(PL), por puro acaso, não provocou uma tragédia. Essa patética figura pública
ilustra bem o grau de degeneração moral do atual governo federal. É importante
que aproveitemos esse episódio e as razões da saída desse indivíduo do
ministério para refletirmos os rumos da ideologia predominante nesse período
bolsonarista em duas vertentes muito presentes nesse governo,
armas/religiosidade e corrupção.
Sobre a questão das armas: durante a campanha, o gesto do candidato Bolsonaro
em imitar uma arma com as mãos se popularizou, inclusive no interior das
igrejas. Consta que o ex-ministro se tornou um CAC – caçador, atirador ou
colecionador. A aliança de Bolsonaro com essa cultura armamentista vem
aumentando de modo acelerado o número de armas nas casas brasileiras. Já
cresceu também a ocorrência de acidentes domésticos, além do fato, de que a
presença de armas nas casas muitas vezes se reverte em tragédias, em lugar de
garantir aumento da defesa.
Exemplo vem de Cuiabá, no Mato Grosso, em julho de 2020 a jovem Isabele
Guimarães, de 14 anos, foi morta num condomínio de luxo por arma de CAC,
manipulada por outra adolescente amiga da vítima. A cultura armamentista é uma
contradição insanável para os cristãos que se deixaram manipular e ajudaram a
eleger essa proposta violenta. Bolsonaro sempre foi defensor da tortura e, na
pandemia, desvelou seu desapego à vida na necropolítica com que se comportou
durante toda a tragédia sanitária.
No Evangelho de São Mateus, cap 5 vs 43 a 48, encontramos um ensinamento de
Jesus que deveria ser a bússola de todos que almejam seguir seu exemplo. O
texto é um divisor de águas entre o velho e o novo Testamento: “Vos ouviste o
que foi dito, amarás teu próximo e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo
AMAI OS VOSSOS INIMIGOS, rezai por aqueles que vos perseguem. Assim vos
tornareis filhos do vosso Pai que estás no céu, por que ele faz nascer o sol
sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque se amar
apenas aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos
não fazem a mesma coisa? E se saudares apenas os vossos irmãos, o que fareis de
extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos
como vosso Pai celestial é perfeito”. No Sermão da Montanha, dentre as
bem-aventuranças, Jesus prega que os mansos herdarão a terra. Ou seja, quem é
verdadeiramente seguidor de Jesus não deve andar armado, jamais.
No tocante à corrupção, o ministro pastor foi exonerado exatamente pelas fartas
denúncias da ação corrompida de outros dois pastores no interior do ministério.
Muita gente se deixou manipular no falso discurso anticorrupção do candidato
Bolsonaro, um desastre histórico. Esse episódio no Ministério da Educação
ilustra bem a dura realidade que muitos ainda preferem não enxergar. Sim, é
mais fácil a negação quando parcela expressiva da sociedade também é corrupta.
A história já demonstrou que atrelar a questão religiosa ao poder do estado
jamais produziu bons resultados para a maioria do povo.
Infelizmente, desde os recuados tempos em que a mensagem central da igreja de
Jesus migrou da simplicidade para a ostentação nos impérios, temos assistido às
desgraças das distorções dos ensinamentos de Jesus Cristo, vide as Cruzadas e o
Tribunal da Santa Inquisição. Nos dias de hoje, a liberdade com que igrejas são
abertas, a manipulação midiática bem orquestrada nas inúmeras emissoras de
rádio e TV, tragando a boa fé do povo para aquisição de poder temporal, político
e econômico, conduziram o Brasil a esse resultado. No processo eleitoral que já
está em curso e se intensificará nos próximos meses, será fundamental que nos
empenhemos na busca da verdade, afinal, foi o próprio Jesus que ensinou que a
verdade é libertadora. Construir um novo tempo, mais humanizado será tarefa a
ser cumprida por todos/as que amam de fato o Jesus libertador,
independentemente dos rótulos religiosos, que afinal não salvam ninguém. São as
boas obras que testemunham de fato os verdadeiros cristãos.
Autor: Hermes Silva Leão.
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