O ano não
promete ser fácil. Na política
econômica, o pacote de maldades do Ministro da Fazenda Joaquim Levy impactará a
atividade econômica e o emprego. O realinhamento de tarifas afetará os preços.
Quando vier para valer, a falta de água em São Paulo criará um clima
insuportável. A Lava Jato manterá elevada a temperatura política e afetará a
produção industrial e as obras de infraestrutura.
Por
tudo isso, só pode se entender como marcha da insensatez o apoio incondicional
dado pelos grupos de mídia à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à
presidência da Câmara. Para a mídia, Cunha tornou-se um novo sir Galahad, em
substituição ao pio ex-senador Demóstenes Torres. Por várias razões, é uma
jogada de alto risco.
Do
lado político, por ser um fator a mais de ingovernabilidade. Do lado ético, por
desnudar de forma implacável os chamados princípios morais da mídia. Veja
aliou-se ao bicheiro Carlinhos Cachoeira; alçou o ex-senador
Demóstenes Torres à condição de paladino da moral e dos bons costumes; blindou
todas as estripulias do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal
Federal); escondeu todos os malfeitos de José Serra.
Mas
todos esses episódios foram cometidos nos bastidores. Mas, Eduardo Cunha?!
Cunha começou sua vida pública aliado de PC Farias, e foi processado como tal.
Depois, assumiu um cargo na companhia habitacional do Rio, no governo
Garotinho, e foi acusado de desvios. Teve envolvimento direto com uma quadrilha
que fraudava ICMS em distribuidoras de gasolina.
Na
Câmara, seu trabalho diuturno foi articular lobby de grandes grupos. Nas
últimas eleições, financiou a candidatura de dezenas de deputados, com recursos
repassados por grupos econômicos com a finalidade única de fazer negócios.
Cunha
é a definição impura e acabada do parlamentar negocista aquele contra quem o
moralismo da mídia deblatera dia e noite. E o que se pretende com esse apoio? Apenas
o desgaste do governo. O governo Dilma não precisa de ajuda para se desgastar:
sabe se desgastar sem a ajuda de ninguém.
No
campo dos negócios, os grupos de mídia nada conseguirão apenas piorar ainda o
mercado publicitário.
O
governo Dilma já mostrou que não retalia críticos com cortes de publicidade;
mas também não cede a chantagens nem entra em negociatas.
Pode
ser que pretendam, através do Congresso, barrar a entrada dos grandes
competidores estrangeiros, aprovar leis que reduzam a obrigatoriedade de
capital nacional na mídia, conquistar outra anistia fiscal para suas dívidas.
Não
conseguirão. De um lado, porque a Câmara não faz política econômica. De outro,
porque acumularam tal quantidade de inimigos com o estilo metralhadora
giratória que jamais conseguirão montar uma frente pró-mídia. Frente
anti-PT e anti-governo é simples de montar. Pró-mídia, ainda mais em uma fase
de crise econômica, impossível. O que e conseguirá com o fator Eduardo Cunha
será uma pitada a mais de desmoralização da mídia, mais insegurança econômica –
revertendo em menos publicidade – e a confirmação de que jornais não foram
feitos para pensar estrategicamente: eles sabem apenas “causar”.
Texto do Economista Luis Nassif - Publicado em vários jornais de grande circulação no país
Nenhum comentário:
Postar um comentário