Seguidores

8 de junho de 2024

As agruras de quem nasceu corinthiano!

Nasci na zona norte de São Paulo, filho e neto de corinthianos, só fui ao estádio ver o Timão aos 15 anos de idade. Do nascimento aos 19 anos, vivi sem ver o meu time e poder gritar “É Campeão”. Foram exatos 22 anos sem conquistar o Campeonato Paulista, fase difícil onde na infância e adolescência os adversários zoavam e trituravam os que eram nascidos corintianos.

Até que no ano da graça de 1977, no dia 13 de outubro mais festejado de toda nossa história, fomos finalmente campeões. O gol de Basílio, pé de anjo, ainda ecoa na região do Morumbi até os dias atuais. Foi uma noite ensurdecedora, nunca ouvi tantos rojões, e fui dormir às 4h30 da manhã do dia seguinte, depois de comemorar até a exaustão na avenida paulista, a mais corintiana de todas.

No ano seguinte, fomos vice-campeões paulistas, em 1979 já com Sócrates, Palhinha, Casão e Zenon fomos campeões novamente. Algo que se repetiu em 1982/1983/1988.

Porém, os rivais não se davam por contentes e diziam que nós éramos um time regional, sem título nacional. Até que, em 1990, o improvável aconteceu, e eu tive a felicidade de ver no Pacaembu os jogos das oitavas, quarta de final e semifinal. No dia 16 de dezembro vi o Timão vencer o São Paulo no seu estádio por 1X0 e se sagrar pela primeira vez Campeão Brasileiro.

 Essa conquista, que teve o ídolo Neto como principal jogador, abriu as portas para 1998, 1999, 2005, 2011, 2015 e 2017, perfazendo sete conquistas dentro de campo do Brasileiro. Ainda foram três títulos da Copa do Brasil, em 1995, 2002 e 2009. Para quem não tinha títulos nacionais, o Timão passou a ter dez conquistas.

Mas, os adversários chamados de “Antis”, ou seja, anticorinthianos, diziam que o time não tinha passaporte, por não ter títulos internacionais. Isso era e sempre foi uma meia verdade, afinal de contas em 1954, o Timão foi Campeão do Torneio que reunia Seleção da Venezuela, Roma (ITA) e Barcelona (Esp) em turno e returno, vencido de forma invicta. Este torneio internacional é o mesmo que os palmeirenses venceram no Rio de Janeiro em 1951, e que reivindicam como se fosse Mundial de Clubes.

Antes da conquista da Libertadores da América, o Timão foi convidado pela FIFA no ano de 2000 para disputar, em SP e no RJ, o 1º Mundial de Clubes organizado pela FIFA. Eliminou o Real Madrid e na final venceu o Vasco da Gama na disputa de penalidades máximas.

Mas a primeira Taça Libertadores da América veio em 2012. Invicto, o Timão tirou Vasco e Santos pelo caminho e derrotou o poderoso Boca Juniors na final por 2X0, sagrando-se campeão. No ano seguinte, em 2013, veio o título da Recopa Sul-americana contra o SPFC.

Em dezembro do mesmo ano atravessamos o mundo para disputar o Mundial no Japão. Depois de eliminarmos o Al Ahly do Egito por 1X0, vencemos os europeus do Chelsea pelo mesmo placar e nos sagramos Bicampeões Mundiais. Era sepultado de vez quaisquer brincadeiras sobre conquistas regionais, nacionais e mundiais pelos Antis.

Mas quando no título digo “agruras de quem nasceu corintiano” não foi sem motivos. Nunca, em tempo algum, o Corinthians teve paz na política interna do clube. Raríssimos presidentes que ocuparam a cadeira neste cargo deram paz e modernidade ao clube.

Dualib foi afastado e só não foi preso por suas falcatruas pela idade avançada e seu estado doentio. Sua gestão foi de muitas conquistas dentro de campo e escândalos fora dele. Depois dele tivemos Andrés Sanchez, que tirou o time da série B e contratou no ano seguinte Ronaldo Fenômeno. Depois vieram Roberto de Andrade, Mario Gobbi, Roberto de Andrade novamente, Andrés Sanchez numa segunda gestão péssima e que elevou as dívidas do clube, embora tenha conseguido erguer a Arena tão sonhada.

Quando tudo parecia calmo, o mesmo grupo, no poder há 13 anos, elege Duílio Monteiro Alves e este se torna o pior presidente dos 113 anos do clube. Deixa uma dívida ainda maior, com atrasos de pagamentos salariais, FGTS, fornecedores, impostos, etc.

Perde as eleições para Augusto Melo do grupo de oposição a Andrés e Duílio. Em seis meses de gestão, este demonstra que não sabe nada de gestão empresarial e esportiva. Leva o clube a aumentar sua dívida, perde jogadores e não consegue honrar com direitos de imagem e contratos com patrocinadores.

Ao abrir os sites esportivos temos mais notícias ruins do que se estivéssemos lendo o noticiário da Al Jazeera sobre a faixa de Gaza. O patrocinador master que pagava R$ 10 milhões por mês rompe o contrato por suspeita de corrupção da diretoria. Os diretores financeiros e jurídicos pedem demissão. O goleiro titular recebe proposta de um time pequeno da Premier League e deixa o clube. Os clubes argentinos cobram pagamento pela venda de seus ex-jogadores são Corinthians que não honra os contratos assinados entre ambos.

Ou seja, os títulos vieram, mas a organização, a decência e a boa administração nunca estiveram perto do Parque São Jorge. Nossa dívida é de R$ 1,9 bilhão. Uma Arena de Copa do Mundo cujos valores nunca são quitados.

Resta uma única coisa que nunca falha, que nunca abandona nem dá problemas, que é torcida fiel. Mesmo com todos os problemas é raro um jogo na Neo Química Arena com menos de 40 mil fiéis torcedores.  

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Nenhum comentário: