O desinteresse pela política e pelas eleições vem numa crescente em nosso país há muitos anos. Um dos fatores alegados é o desprezo pela nossa classe política. Porém, percebemos que essa situação extrapola o ato de votar. Há um afastamento em especial tantos dos mais jovens como dos idosos com relação ao acompanhamento, fiscalização e cobrança daqueles que nos governam e nos representam.
Em 2010, segundo o TSE, o Brasil possuía 135.804.433 eleitores. Não obstante, ocorreram apenas 99.463.917 votos válidos para o cargo de Presidente da República no segundo turno da eleição. Isso quer dizer que 26,76% dos eleitores habilitados (36.340.516 cidadãos), ou não compareceram às urnas, ou compareceram apenas para votar em branco ou nulo.
Em 2014, ainda segundo o TSE, nosso país possuía 142.822.046 eleitores. O número de votos válidos foi de 104.023.543, representando cerca de 27% de ausentes entre votos nulos, brancos e abstenções. Quase trinta e nove milhões de brasileiros aptos não votaram naquela eleição.
Em 2018, tínhamos 147.306.295 eleitores em condições de exercerem seus votos e cidadania. Entre votos brancos, nulos e abstenções mais de quarenta milhões de brasileiros deixaram de exercer seu direito ao voto. Quase 30% dos eleitores abdicaram de votar.
Agora em 2020, nas eleições municipais em seu primeiro turno na cidade de Bauru tivemos mais uma amostra desse afastamento dos brasileiros em relação a escolha de seus governantes e representantes do legislativo.
Numa eleição com 14 opções para Prefeito e 380 para vereadores, impossível argumentar que não votou porque não tinha candidatos. Num eleitorado de 270.749 mil pessoas aptas a votar tivemos 113.169 eleitores que votaram em branco (8,64%), anularam seus votos (7,66%) e se abstiveram de comparecer ao pleito (30,46%).
São muitas pessoas optando por não exercer seu direito adquirido depois de milhares de anos se pegarmos como referência a Grécia antiga. Levemos em consideração que esse grande distanciamento do eleitor ocorre em um país onde o voto é obrigatório e cuja ausência às urnas expõe o faltoso às pesadas sanções do artigo 7º do Código Eleitoral. O que haveria de acontecer, então, se o voto não fosse obrigatório?
Bom lembrar que a multa de pequeno montante monetário é repassada aos partidos políticos. Imaginem numa eleição geral como a de 2018, você multiplicar o valor da multa que em 2020 é de R$ 3,50 pelo número de ausentes, que em 2018 foi de 29.941.171 o que resultaria numa verba de R$ 1.047.941 (Um milhão, quarenta e sete mil e novecentos e quarenta e um reais).
Esse valor foi embolsado justamente pelos partidos que aqueles que se abstiveram dizem não suportar. Os presidentes dos partidos ficam felizes por dois motivos: Entra muito dinheiro nos cofres e o quociente eleitoral é reduzido, facilitando suas tarefas de eleger políticos fracos.
Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), o filósofo grego, disse que o jovem, em geral, não é bom ouvinte acerca dos assuntos relacionados à política, pois ela trata dos temas práticos da vida acerca dos quais a juventude, em princípio, não tem muita experiência e nem conhecimento teórico, o que impediria, portanto, o surgimento espontâneo de interesse, já que ninguém tem apreço por assuntos que lhe são distantes e obscuros.
A ausência sistemática de um assunto ao longo da juventude, quando estão em formação a personalidade, os hábitos e interesses que moldam cada indivíduo, tende a perpetuar-se ao longo da vida, tornando-se um traço cultural difícil de ser modificado, haja visto que está enraizado profundamente no caráter da pessoa.
A solução desse problema a longo prazo passa por uma mudança de comportamento dos partidos políticos e de seus candidatos. Eles deveriam impelir o eleitorado a discutir seus programas de governo de uma forma transparente e direta. É imperioso que os políticos subtraiam de seus discursos o moralismo hipócrita, o casuísmo, a agressão covarde, o Fake News e toda e qualquer forma ardilosa destinada a evitar a discussão das ideias contidas em seus programas de governo.
Até por que se os eleitores não podem ou não são instigados a discutir ideias, visto que elas permanecem longe desse círculo vicioso, como fica sua participação no sistema eleitoral? Não podemos ficar restritos ao ato de votar, para justificar essa nossa democracia incipiente?
Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.
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