A corrupção não é uma invenção brasileira,
mas a impunidade é uma coisa muito nossa.
Com frequência ouvimos que o povo
brasileiro não sabe votar. Não é verdade, ele sabe exercer o sue direito ao
voto, e, o faz de forma ordeira e tranquila a cada dois anos quando é obrigado
a votar. Entretanto, mesmo sabendo votar, não
tem sido feliz na escolha dos seus mandatários, de seus governantes municipais,
estaduais e mesmo para a presidência da república.
Um dos exemplos é o que aconteceu no
Rio de Janeiro nos últimos 36 anos. Os sete governadores eleitos naquele Estado
desde 1982, cinco estão atualmente na mira da Justiça. Os únicos dois que não
aparecem na lista são Leonel Brizola e Marcello Alencar, que morreram em 2004 e
2014, respectivamente.
Recentemente o casal Anthony e
Rosinha Garotinho (PR) foram presos sob a suspeita de arrecadação de dinheiro
ilícito para o financiamento da campanha dos dois.
Com isso, das cinco pessoas que já
comandaram o estado e ainda estão vivos, três estão hoje atrás das grades
– Sergio Cabral (PMDB),
que governou o Rio entre 2007 e 2014, foi preso em novembro passado.
Os únicos que sobraram, o ministro da
Secretaria Geral da Presidência Moreira Franco (governador entre 1987 e 1991) e
o atual governador do estado, Luiz Fernando Pezão, que também acumulam
pendências na Justiça, em especial no âmbito da Lava Jato.O primeiro foi denunciado por
organização criminosa e obstrução da Justiça por formar o chamado “quadrilhão
do PMDB”, mas graças a uma decisão da Câmara dos Deputados, as acusações só
poderão ser avaliadas pela Justiça quando ele perder o foro privilegiado.
Pezão, por sua vez, é alvo de um
inquérito pela suspeita de ter recebido doações irregulares da construtora
Odebrecht na eleição de 2014. De acordo com um executivo da empreiteira, ele
teria recebido mais de 20 milhões de reais em caixa 2.
Veja a lista de governadores eleitos
desde a década de 1980 até hoje (não foram listados os vice-governadores que
assumiram posteriormente o governo):
Governador
|
Inicio
de gestão
|
Fim
da Gestão
|
Partido
|
Morte
|
Na
mira da Justiça
|
Leonel
Brizola
|
15/03/83
|
15/03/87
|
PDT
|
21/06/04
|
Não
|
Moreira
Franco
|
15/03/87
|
15/03/91
|
PMDB
|
-x-
|
Sim
|
Leonel
Brizola
|
15/03/91
|
15/03/94
|
PDT
|
21/06/04
|
Não
|
Marcello
Alencar
|
01/01/95
|
01/01/99
|
PSDB
|
10/06/14
|
Não
|
Garotinho*
|
01/01/99
|
06/04/02
|
PDT
|
-x-
|
Sim
|
Rosinha
Garotinho*
|
01/01/03
|
01/01/07
|
PSB
|
-x-
|
Sim
|
Sérgio
Cabral
|
01/01/07
|
01/01/11
|
PMDB
|
-x-
|
Sim
|
Sérgio
Cabral
|
01/01/11
|
03/04/14
|
PMDB
|
-x-
|
Sim
|
Luiz
F. Pezão
|
01/01/05
|
Exercício
|
PMDB
|
-x-
|
Sim
|
*Ambos,
hoje, são filiados ao PR – Partido da República.
A operação deflagrada recentemente
pela PF voltou a unir os destinos de Sérgio Cabral e Anthony Garotinho, que já
foram aliados políticos em três eleições, mas se tornaram rivais a partir de
2007.
Naquele ano, o peemedebista assumiu o
Palácio do Guanabara tecendo críticas à gestão anterior, ao mesmo tempo, que
extinguia programas que marcaram o governo do casal Garotinho como o programa Cheque
Cidadão.
(Em tempo: segundo as suspeitas da
Operação Chequinho, que originou a prisão de Garotinho no ano passado, o
ex-governador teria usado um programa semelhante para compra de votos nas
eleições da cidade de Campos - RJ).
Anos depois, em 2012, foi à vez de
Garotinho dar o troco. Em seu blog, ele divulgou
as (hoje emblemáticas) fotos de um episódio que ficou conhecido como “farra dos guardanapos”, em que Cabral
e alguns secretários estaduais aparecem com o dono da construtora Delta,
Fernando Cavendish, em um restaurante luxuoso em Paris. O Ministério
Público suspeita que a festa
possa ter sido uma comemoração antecipada da escolha do Rio de Janeiro como
sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Após sua prisão, Garotinho usou o
episódio para afirmar que é vítima de uma perseguição por ter denunciado
Cabral. O fato é que, apesar das desavenças, os dois parecem seguir para a
mesma sina.
Há um ano na detenção, Cabral já acumula 72 anos de
prisão em três sentenças e a possibilidade de, no mínimo, condenações a três
séculos de cadeia em 13 denúncias já ajuizadas. Enquanto
Garotinho e sua esposa foram investigados e presos pelos crimes de corrupção,
concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação de
contas eleitorais.
Vale lembrar que, no mês passado, o
ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado Jorge Picciani também voltou
para a cadeia. Em mais uma prova de que o grupo que coordenou
o poder no Rio por duas décadas pode estar perto de seu
fim.
Não tem alternativa dentro do regime
democrático para o eleitor, ou vota em pessoas do bem, ou haverá para sempre a
continuidade dessa bandidagem no poder. O eleitor tem que votar com seriedade e
consciência do seu ato. E após a eleição seguir atento fiscalizando e cobrando
aqueles que forem eleitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário