A delação da
Odebrecht quebrou todos os grandes caciques do PSDB. Aécio,
Alckmin e Serra foram delatados. Como em todos os casos, as denúncias ainda
precisam ser investigadas, mas é difícil imaginar um presidenciável em 2018 com
essa bagagem (com a possível exceção desse aí que você pensou). O PSDB nunca
foi, como o PT, um partido de movimentos: era um partido de grandes quadros. A
queda de seus principais nomes é, portanto, especialmente ruim para os tucanos.
Quando um partido de quadros começa a levar João Dória a sério é porque as
coisas vão bem mal.
Será uma pena se o PSDB acabar, e digo
isso como alguém que votou contra os tucanos desde sempre. Como já escrevi uma
vez aqui na
"Ilustríssima", o PSDB foi o grande condutor da
centro-direita brasileira em direção à democracia moderna. Era um partido de
opositores da ditadura, derrotou a hiperinflação e, em 1994, conquistou a única
vitória indiscutível, categórica, de craque, da direita brasileira em uma
eleição presidencial.
A mesma direita deveria ter levado em
conta, nos pleitos seguintes, que nem sempre as exigências da macroeconomia e
da distribuição de renda coincidiriam tão perfeitamente quanto em 1994. Mas
isso é outra história.
As origens social-democratas do PSDB
não prevaleceram no desenvolvimento posterior do partido, mas deixaram sua
marca. O governo FHC teve bons resultados na educação básica e na redução da
mortalidade infantil e nunca teve aqueles deslumbramentos de mercado que muitos
países tiveram nos anos 1990 (incluídos, aí, os países ricos que
desregulamentaram seus mercados financeiros).
Se você duvida do papel histórico
fundamental desempenhado pelos tucanos na história brasileira, olhe para o
resto de nossa direita. Há no DEM quadros qualificados, mas inteiramente
dedicados a defender seus interesses de classe, como Ronaldo Caiado. E daí para
lá não há quem consiga dizer qual das suas pernas é a direita em duas
tentativas, já descontados aqui os que perguntariam "dianteira ou
traseira?".
Não há nada em nenhuma vertente do
pensamento de direita, seja liberal ou conservador, que faça o sujeito ser
burro, muito pelo contrário. Mas o que faz a direita brasileira ser esse
negócio que faria Adam Smith ou Edmund Burke entrarem para o PSOL é o histórico
de viradas de mesa em seu favor.
Se na hora do aperto for possível
chamar o Exército ou os corruptos do PMDB para resolverem a parada, ninguém vai
se preocupar em produzir líderes e intelectuais capazes de vencer na
democracia. Ninguém aprende a brigar se sempre puder chamar o irmão mais velho.
Não é por acaso, portanto, que o auge
da direita democrática brasileira tenha se dado sob a liderança de um partido
desgarrado da esquerda, que aprendeu, no combate à ditadura, o peso de falar
como líder. A velha direita brasileira não foi formada para ser líder, foi
feita para puxar saco de general.
Na introdução de seus "Diários da
Presidência" (Companhia das Letras), Fernando Henrique Cardoso lamenta que
seu projeto de modernização tenha sido feito em aliança com o atraso.
O PT poderia dizer a mesma coisa, e as
denúncias recentes mostram que ambos se deixaram colonizar pelo atraso muito
mais do que gostam de admitir. O problema é que, desde que PT e PSDB entraram
em declínio, o atraso governa cada vez mais sozinho.
Autor: Celso Rocha de Barros - Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford. Texto publicado na Folha de SP - 24/04/17
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