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26 de novembro de 2021

Teorias da conspiração e desinformação explicam hesitação vacinal em países de língua portuguesa!

Pesquisa ouviu 6.843 pessoas de Portugal, Brasil e países da África entre maio e agosto de 2020. Entre os entrevistados, 21,1% (1.443) afirmaram não ter intenção de se vacinar.

O estudo aponta para a necessidade de campanhas pensadas em melhorar o diálogo com o grande público para esclarecer as dúvidas em relação às vacinas em uso. Para o pesquisador, certas bolhas de desinformação parecem ser mais confortáveis para algumas pessoas e o maior desafio dos órgãos de saúde é romper isso.

O aumento de contaminações e mortes na Europa e Estados Unidos acende o alerta para uma quarta onda de covid-19, principalmente pelo alto índice de não vacinados. Aqui, no Brasil, mesmo com o avanço da vacinação, autoridades pedem cautela e manutenção das medidas de segurança. Com quase 75% da população imunizada com a primeira dose e 60% totalmente vacinada, o País ainda tem muitos indecisos. Pelo menos é o que diz estudo realizado em países de língua portuguesa que entrevistou 6.843 pessoas, entre maio e agosto do ano passado, e verificou que 21,1% não tinham intenção de se vacinar.

Segundo Álvaro Francisco Lopes de Sousa, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e um dos responsáveis pelo estudo, os pesquisadores (brasileiros e portugueses) buscavam a opinião da população sobre a vacinação e também entender o porquê da hesitação vacinal. Como resultado, de acordo com os dados coletados, observaram como motivo principal as teorias da conspiração, seguidas pela desinformação.

O artigo Determinants of COVID-19 vaccine hesitancy in Portuguese-speaking countries: a structural equations modeling approach, publicado no último mês de outubro no site Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), traz análise de opiniões sobre as vacinas contra a covid-19 que estavam sendo desenvolvidas na época (maio e agosto de 2020) e sobre as medidas de proteção recomendadas pelas instituições governamentais e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o estudo, a maior parte dos que se negam à vacinação são os maiores de 30 anos e os consumidores de informações incompletas ou falsas sobre as vacinas. Do total dos hesitantes em se vacinar, 1.443 pessoas (21,9%) apresentavam sintomas de estresse, sendo a maioria do sexo masculino. Souza afirma que estresse e hesitação vacinal masculina são explicados culturalmente pela educação de homens como exemplo de força, virilidade e saúde perfeita.

Outro dado da pesquisa mostra que 22,4% dos hesitantes têm nível superior, mas o pesquisador faz ressalva quanto ao fato de que em algumas regiões da África apenas a população mais rica consegue pagar para ter acesso à internet e também que a amostra pode ter outro viés, a de participantes relacionados ao mundo acadêmico. Além de Brasil e Portugal, o estudo envolveu Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Se o número dos que não desejam se vacinar foi alto entre os maiores de 30 anos, o inverso foi observado entre os jovens de 18 e 29 anos. Sousa informa que 84,5% deles se mostraram favoráveis à vacinação e também foram os mais adeptos às medidas de proteção. Esta foi também a faixa etária que se mostrou mais cansada e estressada. O pesquisador relata que as respostas deste público deixaram claro o desejo de vacinação mais rápida para a volta às suas atividades normais, sem grandes riscos de contaminação.

Maior esclarecimento das dúvidas sobre as vacinas

Com as informações obtidas e tendo em vista um cenário ainda pandêmico, Sousa defende mais investimento nas campanhas de vacinação, tanto no Brasil quanto em outros países. Campanhas pensadas em melhorar o diálogo com o grande público para esclarecer as dúvidas em relação às vacinas em uso. Para o pesquisador, “algumas bolhas de desinformação parecem ser mais confortáveis para algumas pessoas. O maior desafio dos órgãos de saúde é romper essas bolhas”.

Sousa também insiste que o ritmo da vacinação em países de língua portuguesa deveria ser mais acelerado. Mesmo com o alcance das imunizações, “muitas das hospitalizações e mortes poderiam ter sido evitadas”. E, “quanto mais tempo uma parcela da população passa sem ser vacinada, novas variantes podem surgir”, diz o pesquisador.

Autor: Artigo publicado no Jornal da GGN.

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