“Fanatismo, esse filho
desnaturado da religião.”
Voltaire.
A meu ver o ensino religioso deveria
ser ensinado em casa, preferencialmente pelos pais, e praticado junto das
comunidades confessionais. Nas escolas públicas, os princípios éticos e morais
deveriam ser a pauta para discussões diversas sobre vários temas que dissessem
respeito a ambas.
A decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) de autorizar o ensino religioso, deixando a
cargo do professor ou da escola a vinculação a uma crença específica é a
certeza do andar para trás e sem rumo.
O Brasil é um Estado laico e,
portanto, deveria incentivar o diálogo entre as mais diferentes confissões no
intuito de formar cidadãos tolerantes com as opiniões divergentes. Optando
pelo ensino
doutrinário de uma religião exclusivista, afundamos ainda mais no pântano do
sectarismo em que estamos estacionados.
Nossa sociedade precisa cobrar do
Estado um projeto educacional que privilegie a qualidade da educação, a
capacitação dos nossos professores para que estes possam promover o debate
constante da educação para a cidadania.
Esse conteúdo somente pode ser
encontrado no domínio da filosofia, e não na discussão sobre moral submetida a
preceitos religiosos duvidosos. Embora alicerce as religiões, a ética as
suplanta, pois seus princípios são universais, ou seja, valem em qualquer tempo
e em qualquer lugar – enquanto a moral muda conforme os hábitos, costumes e
interesses característicos do tempo e do lugar.
“Não roubar” é um conceito ético, que
independe da época e do lugar em que se vive e que está presente, acredito na
base de todas as religiões do mundo. No entanto, como as religiões defendem
princípios morais e não éticos, em nome de Deus, cristãos roubam
a liberdade de outros irmãos, muçulmanos roubam
a vida de cristãos, e
estes vingam seus irmãos roubando a vida de muçulmanos.
Deveríamos lutar para que nas escolas
públicas se ensinasse o princípio ético “não roubar, não matar” em geral, ou
seja, o respeito à vida de todos igualmente, e não sua derivação moral, de que
a ideia de “não matar” não serve para aqueles que pensam ou agem diferente de
nós.
Recente pesquisa do departamento de
Psicologia da Universidade de Chicago (EUA) concluiu que crianças educadas em
lares não religiosos são mais tolerantes e generosas que as criadas segundo princípios
religiosos.
Os investigadores recrutaram 1.170 crianças de diferentes crenças em seis
países (Canadá, China Jordânia, Turquia, EUA e África do Sul) e demonstraram
que há maior coesão entre os membros de grupos religiosos e maior nível de
intolerância com quem está de fora. As pessoas que não têm religião tendem a
ser mais solidárias, exatamente por não fazerem distinção entre as diversas
crenças religiosas.
No Brasil imerso em denúncias de
corrupção e cercado pela incompetência generalizada da gestão do Poder Público,
vem ancorando seu desencanto na falsa segurança do moralismo. Falsa segurança
porque o moralismo – diferente da ética – funda-se em interesses momentâneos de
alianças espúrias. Em geral, o moralismo é uma cortina que esconde a hipocrisia
e o cinismo. O moralismo
censura obras de arte,
persegue confissões divergentes, reprime opiniões contrárias, e, pior, mata
homens e mulheres.
Em nome do moralismo, quatro mulheres
morrem por dia devido a complicações provocadas por abortos clandestinos –
mulheres pobres, diga-se de passagem. Em nome do moralismo, todo dia uma
pessoa LGBT é
assassinada. Em nome do moralismo, as religiões
afro-brasileiras (umbanda
e candomblé) são cada vez mais hostilizadas, principalmente pela militância
fundamentalista evangélica, a ponto de praticamente desaparecerem em alguns
nichos tradicionais como as comunidades do Rio de Janeiro.
Precisamos lutar com afinco por uma
sociedade mais justa e principalmente mais tolerante. Embora tenhamos a nítida
impressão que o Brasil está mais próximo da Idade Média com todo o
obscurantismo que marcou aquela época do que o século XXI e toda sua
modernidade tecnológica.
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Gestor Público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário