O líder do partido Chega André Ventura.
No ano em
que a Revolução dos Cravos que derrotou a ditadura salazarista completa cinco
décadas, a extrema direita obtém uma votação expressiva nas urnas das eleições
legislativas deste domingo, 10. O partido
fascista denominado Chega, liderado pelo ex-comentarista futebolístico e
extremista André Ventura, conquistou mais de um milhão de votos, que lhe
garantiram 48 deputados, o equivalente a mais de um quinto das 230 cadeiras da
Assembleia da República, o parlamento português.
A
ascensão meteórica fascista começou em 2022, quando ampliou para 12
parlamentares a representação no Parlamento, ante a eleição de 2019, quando
havia conseguido eleger apenas Ventura. Esse
crescimento surpreende inclusive por ter avançado sobre bastiões da esquerda,
como Beja, no Alentejo. Pela
primeira vez na história pós 25 de Abril, o PCP (Partido Comunista Português)
não elegeu nenhum deputado nesse distrito (o equivalente ao Estado no Brasil).
Já os fascistas carimbaram o passaporte de um parlamentar para a Assembleia da
República.
Embora o
PS (Partido Socialista), de centro esquerda, tenha despencado de 120 cadeiras,
que lhe conferiam a maioria absoluta na antiga legislatura, para uma
representação de 77 parlamentares, ainda não dá pra cravar que a ascensão da
extrema direita foi conquistada entre seus eleitores. A
explicação para o crescimento exponencial da extrema direita pode estar na
queda da abstenção, que neste domingo registrou 33,77% ante os 48,54% de 2022.
A direita
tradicional aumentou em duas cadeiras a participação em relação à eleição
passada até o momento. Ainda faltam ser apurados os votos dos portugueses que
vivem fora de Portugal e que elegem mais quatro deputados para o Parlamento. Esses
votos, que chegam pelo Correio, serão apurados entre os dias 18 e 20 de março.
Tradicionalmente a votação se divide entre PS e PSD (Partido Social Democrata),
de direita, que este ano integra a coligação AD (Aliança Democrática), que
reúne outros partidos conservadores.
Não se
sabe se o impacto do Chega terá reflexo na votação do círculo eleitoral do
exterior. Em Portugal, o partido fascista só não conseguiu eleger parlamentares
em um único distrito: Bragança. O
Algarve, distrito com as praias mais conhecidas do país, virou um reduto do
Chega, uma espécie de Santa Catarina do bolsonarismo.
Partido Chega fica
fora do governo
A
ascensão nas urnas não deve se confirmar na composição de governo. Em coletiva
de imprensa, o líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, vencedor das
eleições, descartou compor gabinete com o partido de Ventura. “Cumprirei
minha palavra”, afirma ao se referir as declarações contrárias a essa
composição dadas durante a campanha eleitoral. Momentos
antes, o cabeça de lista do PS, Pedro Nuno Santos, já havia declarado que não
pretendia obstaculizar o governo da AD, que tem o PSD na liderança do grupo.
“O
Partido Socialista será oposição, renovaremos o Partido e procuraremos
recuperar os portugueses descontentes com o Partido. Não há 18% de portugueses
racistas e xenófobos em Portugal, mas há portugueses zangados. Queremos
recuperar esses portugueses”, frisa Nuno Santos. De olho
na fragilidade do futuro gabinete da AD, que pode cair e possibilitar eleições
antecipadas, ele declara que o PS pretende liderar a oposição ao novo governo.
“O nosso caminho começa agora, hoje. O PS não deixará a liderança da oposição
para o Chega.”
Em seu
discurso, Ventura tentou atrair a AD para uma composição governativa. “Só um
líder irresponsável deixará o PS governar. Não podemos ter mais quatro anos de
socialismo em Portugal. O país será libertado da extrema esquerda. Reduzimos a
extrema esquerda à sua insignificância. Houve um ajuste de contas com a história.” “Esta
noite acabou o bipartidarismo em Portugal”, emenda, em uma clara alusão a
expressiva votação do Chega que coloca o partido como a terceira força política
do Parlamento.
Ventura
aproveitou ainda para destilar críticas contra jornalistas e institutos de
pesquisas. “O partido mais perseguido, espero que os jornalistas e alguns
comentaristas engulam as palavras, hoje somos mais de um milhão em Portugal.
Também espero que alguns diretores de empresas de sondagem (pesquisa) se
demitam.” A líder
do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, atribuiu o resultado pífio do PS a uma
política desastrosa de maioria absoluta obtida na eleição passada.
“Mas o
Bloco de Esquerda resistiu e manteve-se firme nesta eleição, com 30 mil votos a
mais, mantendo os (cinco) mandatos. Seremos parte da solução para afastar a
direita do governo”, frisou na esperança de que o PS quisesse formar governo
com os partidos de esquerda. O
secretário geral do PCP (Partido Comunista Português), Paulo Raimundo,
considera a vitória da AD um ataque aos direitos dos trabalhadores.
As
eleições deste domingo ocorreram após o primeiro ministro socialista, Antonio
Costa, renunciar em meio a denúncias de corrupção feitas pelo Ministério
Público, que o associou erroneamente ao escândalo. Descobriu-se
posteriormente que se tratava de seu homônimo, o ministro da Economia, Antonio
Costa Silva.
A
supressão do último sobrenome na transcrição feita pelo Ministério Público das
escutas telefônicas em que dois interlocutores falavam sobre a busca de
interferência de um membro do governo para obter favorecimento, permitiu que o
presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, antecipasse as eleições
legislativas para este domingo.
Acompanhe
a seguir como foram preenchidas as cadeiras pelos partidos até o momento.
AD
(Aliança Democrática) – 79
PS
(Partido Socialista) – 77
Chega –
48
IL
(Iniciativa Liberal) – 8
BE (Bloco
de Esquerda) – 5
Livre – 4
CDU
(Coligação Democrática Unitária, a coligação do PCP com os Verdes) – 4
PAN
(Pessoas animais - Natureza) – 1
Autora:
Lúcia Rodrigues – Holofote Notícias – Site Viomundo.