A
explicação de Janot é que as duas testemunhas-chaves haviam morrido.
Foto: GGN
Desde a prisão de Mariano Marcondes
Ferraz, várias vezes manifestamos estranheza com a falta de preocupação da Lava
Jato em se aprofundar nas investigações sobre a Trafigura, uma das 50 maiores
empresas do planeta, segundo a lista da Forbes.
Trata-se de uma comercializadora de
petróleo que montou o maior esquema de corrupção da era moderna – conseguindo o
monopólio da extração e da importação de petróleo em Angola.
O autor do feito foi justamente
Marcondes Ferraz, promovido a membro do board da companhia. A Trafigura tinha
contratos vultosos com a Petrobras para transporte e comercialização de
derivados, um mercado imensamente maior do que o das obras da empresa. No
início da Lava Jato, Paulo Roberto Costa já havia mencionado a Trafigura.
Surpreendentemente, a Lava Jato se
restringiu ao lobby que Marcondes Ferraz fazia para a Decal, uma empresa
italiana sediada no porto de Suape, praticamente um bico de lobby, perto dos
interesses da Trafigura.
O livro de Rodrigo Janot esclarece a
dúvida.
No final de 2016, a PGR recebeu um
pedido de colaboração da Espanha, referente a Gregório Preciado, casado com uma
prima de Serra. Preciado era suspeito de ter pago subornos no valor de 10
milhões de euros a políticos brasileiros, para a obtenção de um contrato pela
Defex, uma sociedade de capital misto controlada pelo Estado espanhol. O
contrato da Defex foi para um empreendimento para exportação de minério de
ferro, sociedade de Eike Batista com a Trafigura. Segundo as autoridades espanholas,
as propinas aos políticos brasileiros teriam sido pagas por uma empresa
offshore de nome Iderbras, administrada por Preciado e em nome de Vivencia
Talan, prima de Serra.
Para atender à colaboração da Espanha,
havia a necessidade de uma formalização através do Ministério da Justiça. Serra
era o Ministro das Relações Exteriores de Temer, e figura chave no impeachment.
O Ministro da Justiça era Alexandre de Moraes que, logo em seguida, foi
substituído por Osmar Serraglio e Torquato Jardim. E a cooperação jamais foi
formalizada. Não houve vazamentos para a mídia, não houve pressão da mídia, e o
caso dormiu nas gavetas da PGR.
Outro caso emblemático foi o não
indiciamento do senador Aécio Neves. Na época, um filho de Teori comentou com
amigos a estranheza do pai, pelo fato de Janot ter proposto o indiciamento de
Lindberg Farias e negado o de Aécio Neves, segundo Teori, tendo indícios muito
mais concretos do que o petista.
A explicação de Janot é que as duas
testemunhas-chaves haviam morrido – o ex-deputado José Janene, também
beneficiário de Furnas, e que havia descrito em detalhes a participação de
Aécio no esquema; e Airton Daré, da Bauruense, empresa que lavava o dinheiro da
mesada.
Ora, haviam morrido, mas a contabilidade
e as movimentações financeiras ainda existiam. E, desde 2010, repousava na PGR
o inquérito Norbert, que localizara contas de Aécio em Liechtenstein,
provavelmente para as propinas da JBS.
Segundo Janot, ele não indiciou o
conterrâneo para não criar um novo Berlusconi. Pouco importa o fato de não
haver a menor relação entre poupar Aécio ou criar um Berlusconi brasileiro.
Aécio só entrou novamente quando a JBS
apareceu com as gravações de conversas com ele. Ali, não havia como refugar.
Autor:
Luis Nassif – Publicado no GGN
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