A segunda
denúncia contra Michel Temer é mais forte e mais abrangente do
que a primeira, engavetada pela Câmara no mês passado. Desta vez, o presidente
é acusado de chefiar uma organização criminosa que roubou os cofres públicos
durante mais de uma década. Na flechada inicial, a Procuradoria afirmou
que Temer seria o destinatário de R$ 500 mil entregues a um assessor. A quantia
parece gorjeta diante dos valores citados na nova acusação submetida ao
Supremo.
De acordo com a Lava Jato, o
"quadrilhão" do PMDB da Câmara embolsou mais de meio bilhão de reais
em propinas. Em valores exatos: R$ 587.101.098,48. Isso encheria quase 1.200
malas iguais à que foi filmada com Rodrigo Rocha Loures.
A bolada teria sido dividida entre
Temer e seis aliados. Quatro já foram presos: Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima,
Henrique Eduardo Alves e o próprio Loures. Outros dois estão no Planalto: os
ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha.
A nova denúncia reúne mais provas do
que a anterior. Entre elas, recibos de depósitos no exterior e planilhas do
Drousys, o sistema secreto que registrava o repasse de propinas da Odebrecht. A
peça é reforçada pela delação de Lúcio Funaro, o doleiro que entregou um
"pacote" ao melhor amigo do presidente.
O Planalto já se arma para a nova
batalha na Câmara. À primeira vista, o cenário parece indicar outra vitória do
governo. Temer conseguiu enterrar a denúncia por corrupção passiva com 263
votos, quase uma centena a mais que os 172 necessários.
Contam a seu favor o silêncio das
ruas, o apoio do empresariado e o desejo de "estancar a sangria"
causada pela Lava Jato, que une políticos de todos os grandes partidos.
No entanto, alguns fatores podem abrir
caminho para uma zebra. Entre eles, a ameaça de uma delação de Geddel e o clima
de insatisfação na bancada governista. Os homens do presidente estão indo em
cana, mas a demanda por malas só aumenta.
Autor:
Bernardo Mello Franco
Jornalista,
assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor
interino do 'Painel'. Escreve de terça a sexta e aos domingos.
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